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OPINIÃO ECONÔMICA
Um pacote para os serviços
ABRAM SZAJMAN
O governo federal editou o
chamado "pacote de bondades", com medidas destinadas ao
estímulo econômico. Apesar de
serem atitudes louváveis e bem-vindas, deixaram a sensação de
que foram concebidas com o
olhar voltado para o espelho retrovisor: seu foco não está no presente ou no futuro da economia,
mas no passado. Mais exatamente
na década de 1970, quando o setor
dinâmico da economia era a indústria.
Ao direcionar quase que exclusivamente para o setor industrial
a redução de tributos, assim como
novas linhas de crédito e o incentivo à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico, o governo parece ignorar que, durante a década de 90, de acordo com o IBGE, 6
milhões de empregos foram
transferidos da indústria para o
setor de serviços.
A cidade de São Paulo é emblemática dessa transformação, que
gradualmente vai consolidando o
setor terciário como força propulsora da economia. Em 2003, do
total de investimentos privados
realizados na cidade, 84% contemplaram o setor de serviços,
enquanto apenas 10% se dirigiram para a indústria.
Quando se desloca o objeto da
análise da cidade para o Estado de
São Paulo, o quadro muda radicalmente: a indústria sai na frente,
com 64% do total de investimentos, e os serviços ficam com 33%.
Como no passado, quando se
converteu de metrópole do café
em centro industrial, São Paulo
continua a puxar o Estado e a indicar-lhe o caminho -hoje é a
capital financeira da América Latina e a cidade mais rica do país.
Mas houve um intervalo de pelo
menos dez anos -a chamada década perdida dos anos 80- em
que São Paulo perde a vocação industrial e vaga sem rumo, até conseguir recuperar no setor de serviços o eixo de seu dinamismo.
Processo semelhante ocorre em
outras grandes cidades brasileiras
e assinala as amarguras de uma
transição sem planejamento. Não
me refiro a um planejamento do
tipo soviético, nem mesmo ao
PND (Plano Nacional de Desenvolvimento), que privilegiou a indústria durante o regime militar,
mas ao planejamento inteligente e
sensível que esteve presente em
todas as experiências capitalistas
de sucesso na segunda metade do
século 20.
Ninguém ignora, por exemplo,
que, na base do êxito de economias do Sudeste Asiático, como a
da Coréia do Sul, esteve uma revolução educacional que não foi
fruto do acaso, e sim de planejamento.
Veja-se, nos Estados Unidos, o
caso da Flórida, que recebeu 30
milhões de visitantes estrangeiros
em 2003. Alguém se lembra de
que a menos de meio século a Flórida era um pântano, quando lá se
começou a investir e se criaram
incentivos de maneira planejada?
Paris recebe de 50 milhões a 60
milhões de turistas estrangeiros
por ano, enquanto para o Brasil
inteiro vieram menos do que 3
milhões de visitantes em 2003. Está certo que a capital da França fica no centro da Europa, mas mesmo assim é difícil de engolir que
uma única cidade atraia 20 vezes
mais turistas que 8.000 quilômetros de praias.
Salta aos olhos que, entre nós,
estão faltando políticas públicas
que multipliquem o emprego nas
áreas em que ele mais facilmente
pode ser gerado, como é o caso do
turismo. Essas políticas podem e
devem ser de caráter macro, como a infra-estrutura rodoviária e
aeroportuária, mas não só. Há
providências simples que cada cidade pode adotar, como reduzir o
IPTU de quem melhora a calçada
ou a fachada do imóvel e aumentar o tributo, ao contrário, para
quem facilita a deterioração dos
logradouros públicos.
Em resumo, o pacote que está
faltando é aquele que melhore o
ambiente microeconômico para
atrair investimentos básicos em
infra-estrutura e proporcione, ao
mesmo tempo, a criação de linhas
específicas de crédito para investimentos planejados em setores determinados, como gastronomia,
moda e atividades culturais e de
lazer.
Também seria bom incluir nesse pacote a criação do Poupatempo do Empresário, conforme proposto pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo, para
reduzir o absurdo tempo (até 155
dias) que se leva para abrir ou fechar uma empresa.
Finalmente, mas não em último
lugar, é preciso tirar a cunha fiscal
da garganta do empresário do setor de serviços, que nos últimos
anos só ganhou aumento de carga
tributária como recompensa pelos empregos que criou.
Abram Szajman, 65, é presidente da
Fecomercio SP (Federação do Comércio
do Estado de São Paulo).
Hoje, excepcionalmente, a
coluna de Antonio Barros de Castro
não é publicada.
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