São Paulo, quarta-feira, 08 de setembro de 2004

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AMEAÇA

Estudo prevê saldo negativo de US$ 2,3 trilhões em dez anos e crescimento de 4,5% do PIB neste ano e de 4,1% em 2005

Congresso dos EUA vê déficit fiscal recorde

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

O déficit fiscal dos EUA deve atingir um valor acumulado de US$ 2,29 trilhões nos próximos dez anos. A estimativa, do Comitê de Orçamento do Congresso, elevou em US$ 300 bilhões a projeção anterior para o período, compreendido entre 2005 e 2014.
As novas projeções entraram para o centro da campanha eleitoral americana ontem e não levam em conta a possibilidade de novos cortes de impostos que o presidente George W. Bush promete adotar caso ganhe em novembro.
O déficit ocorrerá mesmo que haja um crescimento econômico maior do que o esperado no período, fato que ajudaria a aumentar a arrecadação de impostos.
Segundo o comitê, "pressões significativas de longo prazo sobre o Orçamento devem se intensificar nos próximos dez anos", quando parte da geração do período do "baby boom" começar a se aposentar. Até 2020, praticamente toda a geração do "baby boom" -nascida logo após a Segunda Guerra, quando a taxa de natalidade deu um salto significativo- chegará aos 70 anos.
O Congresso também confirmou a expectativa de déficit fiscal recorde para 2004, de US$ 422 bilhões. O valor foi revisado para baixo em US$ 56 bilhões em relação a projeção feita em março.
Quando assumiu o governo, em 2001, Bush herdou de Bill Clinton (1993-2001) um superávit fiscal acumulado projetado em US$ 5,6 trilhões em dez anos.
O superávit, porém, foi rapidamente transformado em déficit pela política atual de corte de impostos, usada como estímulo para a recuperação, e pelo desaquecimento econômico nos dois primeiros anos do governo Bush.
O comitê do Congresso, que é independente, também fez uma previsão de crescimento de 4,5% para a economia dos EUA neste ano e de 4,1% em 2005.
"O comitê espera que a economia cresça em um ritmo forte o suficiente para que o excesso de capacidade de produção nos EUA seja eliminado até o final de 2005", diz a análise.
O comitê também afirmou que a atual fase da recuperação está sendo "liderada" por novos investimentos, o que revelaria uma consolidação da tendência de melhores resultados.
Do lado da campanha do republicano Bush, assessores econômicos comemoraram essa segunda parte do relatório, que mostrou a tendência de crescimento econômico e dos empregos.
Entre os democratas, o próprio candidato John Kerry -que pela primeira vez começa a aparecer em desvantagem substancial em relação a Bush nas pesquisas eleitorais- tratou de criticar as previsões pessimistas para o déficit.
"Eleito, não demorarei um segundo para fechar esse ralo aberto por Bush que cortou impostos só para os mais ricos", disse Kerry. "Os números mostram que Bush entrou em uma guerra [no Iraque] errada e deixou a conta de US$ 200 bilhões para o povo pagar", acrescentou.


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