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ANÁLISE
O próximo choque é o da dívida, e não o do petróleo
DANIEL GROSS
DO "NEW YORK TIMES"
Com os preços do petróleo
acima dos US$ 40 por barril,
especialistas tentam acalmar os
nervos ao apontar o fato de que a
economia dos EUA, impulsionada pelo setor de serviços, depende
muito menos do produto do que
no passado, durante a era da economia industrial. Afinal, entre
1973 e 2003, o volume de petróleo
necessário para gerar US$ 1 de
PIB caiu à metade. As mudanças
estruturais na economia permitiram que o país absorvesse o recente choque da alta no petróleo.
Essa é a boa notícia. A má notícia é que outras mudanças estruturais na economia -a piora das
contas governamentais, de um
superávit a imensos déficits; a
predileção dos consumidores pelo consumo; e preços residenciais
que continuam a subir mais rápido que a renda domiciliar- ampliaram a dependência do país
quanto a outra espécie de combustível: o crédito.
Como resultado, o navio da economia norte-americana, que enfrentou com sucesso a recente alta
nos preços do petróleo, pode na
verdade estar mais vulnerável a
altas súbitas nos preços do capital.
"Melhor ir dormir sem jantar
do que acordar devendo dinheiro", escreveu Benjamin Franklin
em "Poor Richard's Almanac".
Nos últimos anos, consumidores,
empresas e governos dos EUA
vêm caindo na cama com os estômagos empanturrados e seus cartões de crédito estourados. Entre
1988 e 2000, a relação entre dívidas não-financeiras e o PIB se
manteve firme, em cerca de 1,8
para 1. Mas recentemente a dívida
dos consumidores, empresas e do
governo inchou como a barriga
de um concorrente em concurso
de comer cachorros-quentes.
Do início de 2001 ao fim de
2003, a economia acrescentou
US$ 1,317 trilhão ao PIB e US$ 4,2
trilhões ao total de dívidas do
país. Isso significa que cada dólar
a mais na produção econômica
veio acompanhado de US$ 3,19
em dívidas. Assim, hoje, pela primeira vez, a relação entre o endividamento e o PIB dos EUA está
acima de 2 para 1.
A aparente dependência da economia com relação ao crédito como forma de alimentar todo tipo
de transação, da compra de casas
ao orçamento das Forças Armadas, é problemática. Se as rendas e
as receitas não voltarem a subir,
os consumidores desgastados podem encontrar dificuldades para
manter em dia seus pagamentos.
Uma economia viciada em dívida também fica vulnerável ao aumento aparentemente inevitável
dos juros. E os norte-americanos
assumiram riscos monetários
ainda maiores. Os devedores, especialmente os proprietários de
imóveis, não reagiram aos recentes aumentos nos juros reduzindo
seu volume de empréstimos.
Um endividamento coletivo
mais alto significa estar mais suscetível a choques externos. As empresas sem dívidas podem arcar
com diversos trimestres de resultados desfavoráveis, enquanto as
companhias muito endividadas
encontram desastres depois de
apenas um trimestre negativo.
O mesmo se aplica ao consumidor. Toda espécie de variável assustadora -nova alta da gasolina, o estouro da bolha na habitação- se torna pesadelo em momentos de endividamento mais
alto. Assim, quando nos deitarmos após nossos fartos jantares financiados por linhas de crédito
que usam nossas casas como garantia, diz o economista Austan
Goolsbee, "creio que todos devamos sentir um certo nervosismo".
Tradução de Paulo Migliacci
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