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LUÍS NASSIF
Um ERP para o governo
ERPs são sistemas gerenciais de
informática, implementados em
empresas, que controlam todas as
suas operações, da parte financeira e contábil até a parte fabril.
Parte da revolução de produtividade ocorrida no mundo e no
Brasil tem por base a implementação desses sistemas.
Primeiro, ele permite controlar
todas as operações das empresas.
Há uma entrada única de dados,
impedindo duplicação de entradas. Depois, um acompanhamento de todos os processos. Os sistemas mais sofisticados têm modelos de fluxos de documentos que
monitoram os processos do começo ao fim, impedindo que decisões
possam ficar escondidas nas gavetas dos escalões médios. O sistema identifica claramente em
qual setor o processo empacou, e o
responsável terá que dispor de
boas explicações para não ser punido.
Mais que isso, esses ERPs obrigam as empresas a se organizar
em torno de métodos e processos.
Para utilizar o sistema, antes é
preciso definir claramente a atribuição de cada diretor, gerente e
funcionário. Em um ERP não
existem responsabilidades difusas. Cada decisão tem um responsável. Se algum tipo de procedimento não está previsto, o sistema não aceita. Com isso, não há
improvisações. O procedimento
terá que ser analisado, incorporado ao sistema, com responsabilidades bem definidas.
Finalmente, dispondo de todo o
conjunto de informações da empresa, o sistema permite todo tipo
de levantamento de dados, necessários para o planejamento das
ações.
Esses sistemas hoje estão disponíveis a grandes e médias empresas. Há sistemas compactos acessíveis até a pequenas empresas.
No entanto a maior empresa nacional, aquela que afeta a vida de
todas as empresas e cidadãos -o
Brasil S/A-, continua sendo gerida como o botequim da esquina.
Não há nenhuma espécie de
controle. A três por quatro aparecem notícias de medidas que foram tomadas, decisões controvertidas, sem pai nem mãe. De outro
lado, decisões fundamentais emperram na absoluta falta de controle sobre os procedimentos internos da burocracia.
É possível admitir que 650 mil
famílias tenham ficado três meses
com o salário-sobrevivência atrasado, na região das secas, mesmo
com a verba liberada, porque o
processo parou em uma gaveta do
Ministério da Fazenda? Ou que
até agora o "kit dos primeiros socorros" não tenha paternidade? É
possível fazer qualquer planejamento de ações, quando se sabe
que verbas podem ser retidas por
malícia ou eficiência?
Não existe palavra mais desprestigiada no país que as ordens
que FHC dá a seus subordinados
no governo. Simplesmente porque entram por um ouvido e
saem por outro, sem que haja nenhuma espécie de acompanhamento.
O "Brasil em Ação" demonstrou a eficácia dos modernos sistemas de gerenciamento, mas para um conjunto restrito de obras.
O PPA amplia o conceito para todo o Orçamento, mas as entranhas do governo continuam intocadas.
É só proceder a um levantamento de todas as medidas anunciadas, em momentos de crise, e
comparar com aquelas que foram
completadas. Por falta de acompanhamento adequado, a inércia
acaba sufocando a maioria.
Reside aí o poder dos lobbies e
de alguns segmentos da burocracia: a capacidade de acelerar ou
brecar projetos, de incluir contrabandos em documentos internos
e tudo o mais.
Por tudo isso, é hora de o governo pensar em se controlar internamente, por meio de um desses
sistemas gerenciais. De imediato,
o sistema permitirá a cada ministério -e à Casa Civil, como órgão da Presidência- entender o
funcionamento de toda a máquina. Esse mero exercício inicial já
possibilitará avanços relevantes
na racionalização das estruturas
de governo.
Implementado, o sistema permitirá o controle de todas as
ações de governo, mas não apenas isso. Dispondo de um conjunto organizado de informações, a
eficácia da ação pública será
multiplicada.
E-mail: lnassif@uol.com.br
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