São Paulo, Quarta-feira, 08 de Setembro de 1999
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EMPRESAS
Participação dos empregados é simbólica
Privatização falha ao diluir o capital

CHICO SANTOS
da Sucursal do Rio

Fracassou, na maioria dos casos levantados pela Folha, o propósito declarado por sucessivos governos de democratizar a gestão das empresas privatizadas via participação dos empregados nos seus capitais.
A proposta era vender ações aos empregados, em geral, 10% do capital, na época da privatização para que, como acionistas, eles tivessem assentos nos conselhos de administração das empresas, participando das suas gestões.
Em apenas dois dos oito casos levantados -Vale do Rio Doce e Usiminas- os empregados têm assentos no conselho de administração por força das suas participações acionárias e são membros do acordo de acionistas do grupo controlador da empresa.
Nos demais casos, os assentos nos conselhos são assegurados pela lei nº 8.031, que criou o programa de privatizações e tornou obrigatória essa presença.
Para dirigentes de clubes de investimentos de empregados dessas empresas, alguns também com a função de representá-los nos conselhos de administração, o conselheiro que está fora do acordo de acionistas serve, basicamente, como uma ponte entre empregados e patrões.
A tese defendida por setores de esquerda, segundo a qual o interesse do Estado ao vender ações aos empregados, a preços subsidiados, tinha como objetivo apenas enfraquecer a resistência dos trabalhadores às privatizações, não é de todo rechaçada.
"Não gostaria de pensar que o governo só criou a participação dos empregados para adoçar a nossa boca, mas o seu comportamento leva a gente a pensar assim", disse Ruth Storch, presidente do Clube de Investimentos dos Empregados da Escelsa (Espírito Santo Centrais Elétricas).
Para ela, se houvesse a intenção de democratizar a gestão das empresas, "o governo não teria abandonado os clubes de investimento à própria sorte" após as privatizações, em vez de buscar orientá-los para enfrentar as dificuldades que se seguiriam.
Exemplo dessas dificuldades, segundo ela, foi a falta de liquidez (dificuldade de negociação) dos papéis de muitas empresas.

Venda
Para fugir desse problema, os empregados da Escelsa venderam a maior parte do que compraram do capital da empresa e investiram em papéis mais facilmente negociáveis, viabilizando e tornando o clube lucrativo. A participação deles no capital da Escelsa caiu de 7,7% para 1,45%.
A redução substancial da participação dos empregados no capital das empresas foi uma constante observada no levantamento.
Mesmo em empresas onde a participação dos empregados pode ser considerada bem-sucedida em termos de gestão, os números mostram que há essa redução.
Dos 16 mil empregados que compraram ações da Usiminas, 9.500 já venderam suas cotas para a caixa de previdência dos empregados da empresa.
Como a caixa e o clube dos empregados atuam em conjunto, a participação dos dois, que soma 13,8% do capital, é fornecida em conjunto. Mas a participação direta dos empregados está bem inferior aos 10% iniciais.
Para Carmen Lúcia Kanter, diretora financeira do clube de investimento da Light, as pressões para que os empregados vendam suas ações são grandes.
Elas vão desde as necessidades imediatas dos próprios empregados até ofertas vantajosas. Dos 10% iniciais, os empregados da Light têm apenas 1,6% do capital da empresa.
A diretora do clube de investimento dos empregados da Light disse que, embora haja um bom relacionamento entre empregados e controladores da Light dentro do conselho de administração, seria importante que o clube conseguisse chegar novamente a deter 3% das ações ordinárias da empresa para ter uma representação independente da lei que rege as privatizações.
Para Francisco Póvoa, presidente do Investvale, o clube de investimento dos empregados da Vale do Rio Doce, a participação dos empregados dentro do grupo controlador tem sido importante até do ponto de vista operacional.
Segundo Póvoa, tanto ele, o titular da cadeira no conselho de administração, quanto seu suplente são especialistas em mineração e, por isso, suas ponderações são muito consideradas pelos demais conselheiros. Sobre a saída de muita gente do clube, Póvoa disse ser difícil evitar que aposentados e pessoal de baixa renda vendam suas participações.



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