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EMPRESAS
Participação dos empregados é simbólica
Privatização falha ao diluir o capital
CHICO SANTOS
da Sucursal do Rio
Fracassou, na maioria dos casos
levantados pela Folha, o propósito declarado por sucessivos governos de democratizar a gestão
das empresas privatizadas via
participação dos empregados nos
seus capitais.
A proposta era vender ações aos
empregados, em geral, 10% do capital, na época da privatização para que, como acionistas, eles tivessem assentos nos conselhos de
administração das empresas, participando das suas gestões.
Em apenas dois dos oito casos
levantados -Vale do Rio Doce e
Usiminas- os empregados têm
assentos no conselho de administração por força das suas participações acionárias e são membros
do acordo de acionistas do grupo
controlador da empresa.
Nos demais casos, os assentos
nos conselhos são assegurados
pela lei nº 8.031, que criou o programa de privatizações e tornou
obrigatória essa presença.
Para dirigentes de clubes de investimentos de empregados dessas empresas, alguns também
com a função de representá-los
nos conselhos de administração,
o conselheiro que está fora do
acordo de acionistas serve, basicamente, como uma ponte entre
empregados e patrões.
A tese defendida por setores de
esquerda, segundo a qual o interesse do Estado ao vender ações
aos empregados, a preços subsidiados, tinha como objetivo apenas enfraquecer a resistência dos
trabalhadores às privatizações,
não é de todo rechaçada.
"Não gostaria de pensar que o
governo só criou a participação
dos empregados para adoçar a
nossa boca, mas o seu comportamento leva a gente a pensar assim", disse Ruth Storch, presidente do Clube de Investimentos dos
Empregados da Escelsa (Espírito
Santo Centrais Elétricas).
Para ela, se houvesse a intenção
de democratizar a gestão das empresas, "o governo não teria abandonado os clubes de investimento
à própria sorte" após as privatizações, em vez de buscar orientá-los
para enfrentar as dificuldades que
se seguiriam.
Exemplo dessas dificuldades,
segundo ela, foi a falta de liquidez
(dificuldade de negociação) dos
papéis de muitas empresas.
Venda
Para fugir desse problema, os
empregados da Escelsa venderam
a maior parte do que compraram
do capital da empresa e investiram em papéis mais facilmente
negociáveis, viabilizando e tornando o clube lucrativo. A participação deles no capital da Escelsa
caiu de 7,7% para 1,45%.
A redução substancial da participação dos empregados no capital das empresas foi uma constante observada no levantamento.
Mesmo em empresas onde a
participação dos empregados pode ser considerada bem-sucedida
em termos de gestão, os números
mostram que há essa redução.
Dos 16 mil empregados que
compraram ações da Usiminas,
9.500 já venderam suas cotas para
a caixa de previdência dos empregados da empresa.
Como a caixa e o clube dos empregados atuam em conjunto, a
participação dos dois, que soma
13,8% do capital, é fornecida em
conjunto. Mas a participação direta dos empregados está bem inferior aos 10% iniciais.
Para Carmen Lúcia Kanter, diretora financeira do clube de investimento da Light, as pressões
para que os empregados vendam
suas ações são grandes.
Elas vão desde as necessidades
imediatas dos próprios empregados até ofertas vantajosas. Dos
10% iniciais, os empregados da
Light têm apenas 1,6% do capital
da empresa.
A diretora do clube de investimento dos empregados da Light
disse que, embora haja um bom
relacionamento entre empregados e controladores da Light dentro do conselho de administração,
seria importante que o clube conseguisse chegar novamente a deter 3% das ações ordinárias da
empresa para ter uma representação independente da lei que rege
as privatizações.
Para Francisco Póvoa, presidente do Investvale, o clube de investimento dos empregados da
Vale do Rio Doce, a participação
dos empregados dentro do grupo
controlador tem sido importante
até do ponto de vista operacional.
Segundo Póvoa, tanto ele, o titular da cadeira no conselho de administração, quanto seu suplente
são especialistas em mineração e,
por isso, suas ponderações são
muito consideradas pelos demais
conselheiros. Sobre a saída de
muita gente do clube, Póvoa disse
ser difícil evitar que aposentados
e pessoal de baixa renda vendam
suas participações.
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