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TRABALHO
Proposta articulada por Berzoini para bancários inclui desconto de parte dos dias parados; grevistas dizem não ter recebido oferta
Governo ameaça sair de negociação de greve
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo federal ameaçou ontem se retirar em definitivo das
negociações de bastidores entre
os bancários em greve e a Fenaban (Federação Nacional dos
Bancos), se a categoria insistir em
recusar proposta articulada pelo
ministro Ricardo Berzoini (Trabalho) para tentar pôr fim à paralisação.
Nos bastidores, Berzoini e um
grupo de políticos do PT fazem
ponte entre a Fenaban, o governo
e os bancários, especialmente os
grevistas do Banco do Brasil e da
Caixa Econômica Federal, os
principais bancos oficiais.
Ontem, após consulta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
Berzoini apresentou ao comando
de greve uma proposta pela qual
os 23 dias parados até ontem seriam divididos em três parcelas.
Os bancos oficiais anistiariam a
primeira parcela, descontariam a
segunda do salário e compensariam a terceira com horas extras.
Ao longo da tarde, Berzoini e dirigentes do PT com origem no
sindicalismo bancário -como o
deputado federal Paulo Bernardo
(PR)- convenceram os comandos de greve a apresentar a proposta à base. Mas, em Brasília, ela
nem foi apresentada. Em São
Paulo, foi rejeitada, segundo informações que chegaram à cúpula do governo -cerca de 1.700
bancários aprovaram ontem a
continuidade da greve na cidade.
A proposta de Berzoini é uma
tentativa de dar aos grevistas uma
"saída honrosa". Enfraquecida, a
greve se restringe basicamente
aos dois principais bancos oficiais: BB e CEF.
Do ponto de vista econômico,
os bancários minimizaram sua
perda. Os grevistas tiveram derrotada sua principal reivindicação:
reajuste de 19%, com data-base
em setembro.
A Folha apurou que a Fenaban
endossaria a proposta do governo. Mas a radicalização dos bancários ameaça a tentativa de entendimento.
Os grevistas querem proposta à
parte do BB e da Caixa, mas, segundo a Folha apurou, o governo
diz que eles pediram que os bancos aderissem à negociação da Fenaban e que agora não haveria recuo dessa decisão.
Berzoini tem conversado diretamente com alguns banqueiros.
Como a paralisação nos bancos
privados foi menor, deveria haver
uma negociação caso a caso, em
moldes parecidos com a proposta
dos bancos oficiais -anistia, desconto de parte dos dias e compensação com horas extras.
Depois de obter o aval de Lula,
Berzoini conversou com os presidentes da CEF, Jorge Mattoso, e
com membros da cúpula do Banco do Brasil. Os dois bancos aceitaram a oferta, desde que tivesse o
verniz da Fenaban.
"É preciso que demonstrem [os
grevistas] vontade de dialogar",
disse ontem Paulo Bernardo, após
a resistência da categoria à proposta de Berzoini.
Para o presidente do Sindicato
dos Bancários de São Paulo, Luiz
Claudio Marcolino, nenhuma
proposta foi formalizada aos sindicalistas. "A única proposta que
houve até agora foi a da Fenaban,
que foi rejeitada. Nada mais foi
proposto. O que existe é muito
boato na tentativa de desmobilizar a categoria", disse.
A Fenaban divulgou nota ontem recomendando aos bancos
que descontem cinco dias de paralisação nos salários de outubro
e os demais nos de novembro.
Os bancários estão em greve
desde 15 de setembro (hoje são 24
dias parados). No dia 14, eles rejeitaram a proposta dos bancos
que previa de 8,5% a 12,77% de
reajuste, dependendo da faixa salarial. Inicialmente, pediam 25%
de reajuste e aprovaram uma redução -para 19%- na tentativa
de retomar as negociações.
Em São Paulo, militantes da
Oposição Bancária, que se opõem
à direção do sindicato, defenderam recorrer à Justiça se as negociações não forem retomadas até
hoje. O sindicato, no entanto, pretende evitar até quando puder o
julgamento da greve.
Colaboraram Claudia Rolli,
da Reportagem Local, e o "Agora"
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