São Paulo, sexta-feira, 08 de outubro de 2004

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TRABALHO

Proposta articulada por Berzoini para bancários inclui desconto de parte dos dias parados; grevistas dizem não ter recebido oferta

Governo ameaça sair de negociação de greve

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo federal ameaçou ontem se retirar em definitivo das negociações de bastidores entre os bancários em greve e a Fenaban (Federação Nacional dos Bancos), se a categoria insistir em recusar proposta articulada pelo ministro Ricardo Berzoini (Trabalho) para tentar pôr fim à paralisação.
Nos bastidores, Berzoini e um grupo de políticos do PT fazem ponte entre a Fenaban, o governo e os bancários, especialmente os grevistas do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, os principais bancos oficiais.
Ontem, após consulta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Berzoini apresentou ao comando de greve uma proposta pela qual os 23 dias parados até ontem seriam divididos em três parcelas.
Os bancos oficiais anistiariam a primeira parcela, descontariam a segunda do salário e compensariam a terceira com horas extras.
Ao longo da tarde, Berzoini e dirigentes do PT com origem no sindicalismo bancário -como o deputado federal Paulo Bernardo (PR)- convenceram os comandos de greve a apresentar a proposta à base. Mas, em Brasília, ela nem foi apresentada. Em São Paulo, foi rejeitada, segundo informações que chegaram à cúpula do governo -cerca de 1.700 bancários aprovaram ontem a continuidade da greve na cidade.
A proposta de Berzoini é uma tentativa de dar aos grevistas uma "saída honrosa". Enfraquecida, a greve se restringe basicamente aos dois principais bancos oficiais: BB e CEF.
Do ponto de vista econômico, os bancários minimizaram sua perda. Os grevistas tiveram derrotada sua principal reivindicação: reajuste de 19%, com data-base em setembro.
A Folha apurou que a Fenaban endossaria a proposta do governo. Mas a radicalização dos bancários ameaça a tentativa de entendimento.
Os grevistas querem proposta à parte do BB e da Caixa, mas, segundo a Folha apurou, o governo diz que eles pediram que os bancos aderissem à negociação da Fenaban e que agora não haveria recuo dessa decisão.
Berzoini tem conversado diretamente com alguns banqueiros. Como a paralisação nos bancos privados foi menor, deveria haver uma negociação caso a caso, em moldes parecidos com a proposta dos bancos oficiais -anistia, desconto de parte dos dias e compensação com horas extras.
Depois de obter o aval de Lula, Berzoini conversou com os presidentes da CEF, Jorge Mattoso, e com membros da cúpula do Banco do Brasil. Os dois bancos aceitaram a oferta, desde que tivesse o verniz da Fenaban.
"É preciso que demonstrem [os grevistas] vontade de dialogar", disse ontem Paulo Bernardo, após a resistência da categoria à proposta de Berzoini.
Para o presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Luiz Claudio Marcolino, nenhuma proposta foi formalizada aos sindicalistas. "A única proposta que houve até agora foi a da Fenaban, que foi rejeitada. Nada mais foi proposto. O que existe é muito boato na tentativa de desmobilizar a categoria", disse.
A Fenaban divulgou nota ontem recomendando aos bancos que descontem cinco dias de paralisação nos salários de outubro e os demais nos de novembro.
Os bancários estão em greve desde 15 de setembro (hoje são 24 dias parados). No dia 14, eles rejeitaram a proposta dos bancos que previa de 8,5% a 12,77% de reajuste, dependendo da faixa salarial. Inicialmente, pediam 25% de reajuste e aprovaram uma redução -para 19%- na tentativa de retomar as negociações.
Em São Paulo, militantes da Oposição Bancária, que se opõem à direção do sindicato, defenderam recorrer à Justiça se as negociações não forem retomadas até hoje. O sindicato, no entanto, pretende evitar até quando puder o julgamento da greve.


Colaboraram Claudia Rolli, da Reportagem Local, e o "Agora"


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