São Paulo, quarta-feira, 08 de novembro de 2000

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CÂMBIO
Cotação é a maior em um ano devido ao nervosismo gerado no mercado com o lançamento de títulos do país vizinho
Argentina volta a pressionar preço do dólar

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

JOSÉ ALAN DIAS
DE BUENOS AIRES

O dólar comercial registrou ontem a maior cotação em um ano por causa do nervosismo gerado no mercado com o lançamento de títulos argentinos. Logo na abertura, com a expectativa sobre a situação do país vizinho, a moeda norte-americana chegou a ser comercializada a R$ 1,966, uma valorização de 1,39% sobre a cotação do dia anterior.
No fechamento do dia, houve um recuo e a moeda norte-americana caiu para R$ 1,953, valorização de 0,72%, cotação mais alta desde 29 de outubro de 1999.
Rumores de que o governo argentino desistiria da colocação integral dos papéis aumentou a pressão sobre a moeda.
Segundo operadores, a alta de ontem foi forçada principalmente por especuladores, que arrumaram um bom motivo -o possível fracasso do governo argentino no leilão- para impulsionar a cotação da moeda.
Na opinião de Carlos Alberto Abdalla, da corretora Souza Barros, há outro ponto importante de pressão no mercado de câmbio: o decepcionante resultado da balança comercial até agora.
No início do ano, o governo estimava um superávit de US$ 5 bilhões para este ano. Mas, até o fim de outubro, o superávit era de apenas US$ 105 milhões.
"Se o Brasil não estivesse com esse problema na balança comercial, a economia argentina não incomodaria tanto."
Para o analista, se a balança comercial fechar negativa em dezembro, haverá uma pressão ainda mais forte sobre o câmbio no início do ano.
As implicações da alta do dólar, que já chega a 8,38% neste ano, começam a preocupar alguns analistas. Os reflexos desta disparada nos preços de produtos importados ou dos que necessitam de componentes vindos do exterior, como os eletroeletrônicos, já devem ser sentidos nas compras de Natal deste ano.
O encarecimento do petróleo importado também pode acabar forçando o reajuste dos combustíveis, principalmente depois da divulgação dos índices de inflação de outubro, que ficaram abaixo do esperado. Dessa forma, um aumento nos preços dos combustíveis não causaria grande impacto na inflação anual.
Para Paulo Schiguemi, da corretora Socopa, o mercado de câmbio em dezembro deve ter oscilações fortes, com o mercado já preocupado com o rumo da economia dos EUA -com novo presidente- e da Argentina em 2001.

Taxas altas
O governo da Argentina teve que aceitar as taxas mais altas do ano para colocar ontem no mercado interno US$ 1,1 bilhão em Letras do Tesouro Nacional.
Foi a primeira operação desse tipo desde o nervosismo causado pelas declarações do ex-presidente Raúl Alfonsín, sugerindo que o país adotasse uma moratória de dois anos, e da ameaça da agência Standard & Poor's de rebaixar a classificação da Argentina em três meses caso não apresente sinais de recuperação econômica.
Segundo o informe do Ministério da Economia, para que os bancos acatassem o lote de US$ 250 milhões em Letras com vencimento em 91, estabeleceram taxas de 12,59% ao ano. Duas semanas atrás, ao negociar com os mesmos títulos, o mercado exigira taxa de 9,25% ao ano. Ou seja, houve um aumento de 3,34 pontos percentuais. Mas, de acordo com analistas, o número divulgado pelo governo aparece com o chamado redesconto. Na verdade, a taxa nominal -aquela que de fato deverá ser paga no vencimento- atingiria 13%.
Os números superlativos já eram esperados desde anteontem, quando os 12 bancos consultados para a operação informaram que cobrariam em torno de 13% para os títulos de 91 dias. Mesmo sendo feriado bancário, o ministro da Economia, José Luis Machinea, e o secretário de Finanças, Daniel Marx, passaram parte do dia reunidos com representantes de bancos.


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