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CÂMBIO
Cotação é a maior em um ano devido ao nervosismo gerado no mercado com o lançamento de títulos do país vizinho
Argentina volta a pressionar preço do dólar
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
JOSÉ ALAN DIAS
DE BUENOS AIRES
O dólar comercial registrou ontem a maior cotação em um ano
por causa do nervosismo gerado
no mercado com o lançamento de
títulos argentinos. Logo na abertura, com a expectativa sobre a situação do país vizinho, a moeda
norte-americana chegou a ser comercializada a R$ 1,966, uma valorização de 1,39% sobre a cotação do dia anterior.
No fechamento do dia, houve
um recuo e a moeda norte-americana caiu para R$ 1,953, valorização de 0,72%, cotação mais alta
desde 29 de outubro de 1999.
Rumores de que o governo argentino desistiria da colocação integral dos papéis aumentou a
pressão sobre a moeda.
Segundo operadores, a alta de
ontem foi forçada principalmente
por especuladores, que arrumaram um bom motivo -o possível
fracasso do governo argentino no
leilão- para impulsionar a cotação da moeda.
Na opinião de Carlos Alberto
Abdalla, da corretora Souza Barros, há outro ponto importante de
pressão no mercado de câmbio: o
decepcionante resultado da balança comercial até agora.
No início do ano, o governo estimava um superávit de US$ 5 bilhões para este ano. Mas, até o fim
de outubro, o superávit era de
apenas US$ 105 milhões.
"Se o Brasil não estivesse com
esse problema na balança comercial, a economia argentina não incomodaria tanto."
Para o analista, se a balança comercial fechar negativa em dezembro, haverá uma pressão ainda mais forte sobre o câmbio no
início do ano.
As implicações da alta do dólar,
que já chega a 8,38% neste ano,
começam a preocupar alguns
analistas. Os reflexos desta disparada nos preços de produtos importados ou dos que necessitam
de componentes vindos do exterior, como os eletroeletrônicos, já
devem ser sentidos nas compras
de Natal deste ano.
O encarecimento do petróleo
importado também pode acabar
forçando o reajuste dos combustíveis, principalmente depois da
divulgação dos índices de inflação
de outubro, que ficaram abaixo
do esperado. Dessa forma, um aumento nos preços dos combustíveis não causaria grande impacto
na inflação anual.
Para Paulo Schiguemi, da corretora Socopa, o mercado de câmbio em dezembro deve ter oscilações fortes, com o mercado já
preocupado com o rumo da economia dos EUA -com novo presidente- e da Argentina em
2001.
Taxas altas
O governo da Argentina teve
que aceitar as taxas mais altas do
ano para colocar ontem no mercado interno US$ 1,1 bilhão em
Letras do Tesouro Nacional.
Foi a primeira operação desse
tipo desde o nervosismo causado
pelas declarações do ex-presidente Raúl Alfonsín, sugerindo que o
país adotasse uma moratória de
dois anos, e da ameaça da agência
Standard & Poor's de rebaixar a
classificação da Argentina em três
meses caso não apresente sinais
de recuperação econômica.
Segundo o informe do Ministério da Economia, para que os bancos acatassem o lote de US$ 250
milhões em Letras com vencimento em 91, estabeleceram taxas
de 12,59% ao ano. Duas semanas
atrás, ao negociar com os mesmos
títulos, o mercado exigira taxa de
9,25% ao ano. Ou seja, houve um
aumento de 3,34 pontos percentuais. Mas, de acordo com analistas, o número divulgado pelo governo aparece com o chamado redesconto. Na verdade, a taxa nominal -aquela que de fato deverá ser paga no vencimento- atingiria 13%.
Os números superlativos já
eram esperados desde anteontem, quando os 12 bancos consultados para a operação informaram que cobrariam em torno de
13% para os títulos de 91 dias.
Mesmo sendo feriado bancário, o
ministro da Economia, José Luis
Machinea, e o secretário de Finanças, Daniel Marx, passaram
parte do dia reunidos com representantes de bancos.
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