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TIGRES DOENTES
Compromisso excessivo de empresas e incapacidade dos bancos de recuperar empréstimos dificultam recuperação
Dívida ameaça ressuscitar crise na Ásia
CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL
Parecem prematuras as notícias
de que a crise asiática estava morta e devidamente enterrada. O
mais recente e assustador indício
foi dado no fim-de-semana pela
FTI (Federação das Indústrias da
Tailândia), não por acaso o país
em que a crise começou, em julho
de 1997.
Conhecida pelo apoio permanente ao governo, a FTI deu uma
forte guinada, a ponto de batizar
de "um fracasso" o esforço da Tailândia nos três anos mais recentes
para ressuscitar a economia.
Dizem os industriais que o esforço oficial ficou concentrado
nos problemas do setor financeiro, enquanto o setor produtivo
era negligenciado.
"Como a economia real ainda
não se recuperou da crise, as instituições financeiras não podem resolver seus problemas de maus
empréstimos nem conceder mais
créditos. Como resultado, não
importa quanto capital o Estado
injete no setor financeiro. As instituições financeiras não serão capazes de se recuperar completamente", diz Prapad Phodhivorakun, vice-presidente da FTI.
É verdade que parte da análise
pessimista inclui a choradeira de
empresários em busca de créditos
subsidiados: a tese da FTI é que o
governo deveria estatizar os créditos pobres, de forma a limpar os
balanços dos bancos para que eles
possam voltar a injetar dinheiro
no setor privado.
Mas parte da análise toca em
um problema verdadeiro, que,
aliás, foi uma das causas da crise
de 1997: o endividamento excessivo do setor privado e a incapacidade do setor financeiro de recuperar boa parte dos empréstimos
concedidos.
O que torna relevante a questão
é o fato de que o problema não se
limita à Tailândia. Na Coréia do
Sul, a situação talvez seja ainda
mais grave, porque, entre as previsíveis vítimas de dívidas excessivas, estão dois dos maiores ícones
da economia local, a Hyundai Engenharia e Construções e a Daewoo Motors.
Até o ADB (Banco de Desenvolvimento Asiático), em um relatório otimista sobre a recuperação
da região, emitido no mês passado, diz, sobre a Coréia:
"A Coréia experimenta a mais
forte recuperação na região. Entretanto contínuos problemas
com os grandes "chaebols" (conglomerados) apontam o risco de
problemas bancários adicionais".
Por isso mesmo, o relatório do
banco adverte que, embora a recuperação tenha se consolidado
mais este ano, "ainda está longe
de completar-se".
Pior: do ponto de vista social, a
recuperação avançou menos. Dos
cinco países mais atingidos em
97/98 (Coréia, Tailândia, Malásia,
Filipinas e Indonésia), apenas a
Coréia viu sua renda "per capita"
superar o pico do nível pré-crise.
Na Malásia e nas Filipinas, isso
deve ocorrer este ano, espera o
ADB, mas na Tailândia ainda vai
demorar mais um ano e pouco, e
"na Indonésia possivelmente ainda mais", diz o banco.
Os mercados mostram o nervosismo típico de situação não consolidada. Na Tailândia, por exemplo, o baht, a moeda local, perdeu
11% do seu valor nos primeiros
nove meses do ano (o colapso do
baht em 1997 foi o estopim da crise anterior). A Bolsa tailandesa de
Valores sofreu perdas, no mesmo
período, de 42%.
Na Coréia, a situação não é muito diferente: a Bolsa de Seul teve,
este ano, um dos piores desempenhos no planeta, com um retrocesso próximo aos 50%.
O Banco de Desenvolvimento
Asiático avisa, no entanto, que
"não há razões para sugerir que a
Ásia possa mergulhar em uma renovada crise financeira".
Já o sóbrio jornal britânico "Financial Times" não faz aposta
idêntica. É significativo, a propósito, título de recente editorial
dessa bíblia da economia européia: "Emerging Problems"
("Problemas Emergentes").
O foco é a Ásia, sim, mas entram
também "problemas emergentes" na Polônia e no Brasil (países
que "têm que financiar enormes
déficits em conta corrente") e, em
especial, na Argentina, cuja crise
não faz senão agravar-se a cada
dia que passa.
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