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À BEIRA DO ABISMO
Negociações com governadores de oposição continuam
De la Rúa avança no acordo
com Províncias governistas
FABRICIO VIEIRA
DE BUENOS AIRES
O presidente Fernando De la
Rúa continua sua corrida contra o
relógio para tentar firmar com os
governadores o tão adiado acordo
fiscal antes de embarcar para os
Estados Unidos hoje.
O ponto principal que tem travado as negociações é o repasse de
US$ 1,36 bilhão que o governo federal é obrigado a fazer às Províncias -que são como os Estados
brasileiros- mensalmente.
O acordo é fundamental para
que o governo consiga se enquadrar na meta de déficit zero (segundo a qual só pode gastar o que
arrecada) e cumprir o acertado
com o FMI em agosto, para somente assim receber as duas próximas parcelas do empréstimo
concedido pelo organismo.
Os US$ 4,3 bilhões que a Argentina tem para sacar no FMI são a
única garantia financeira internacional que o país tem atualmente
para oferecer na sua proposta de
reestruturação da dívida externa
no início de 2002.
O acordo também é importante
para De la Rúa mostrar força política ao mercado internacional,
onde a credibilidade de seu governo está em baixa. Na terça, duas
das mais influentes agências de
classificação de risco, a Fitch e a
Standard & Poor's, rebaixaram a
nota da dívida argentina, afirmando que o país está a um passo
do default (calote).
A possibilidade de a Argentina
honrar suas dívidas também foi
colocada em cheque pelo banco
de investimentos Lehman Brothers, que distribuiu um relatório
a seus clientes em NY. O relatório
dizia que se a Argentina tentar
reestruturar sua dívida externa
sem as garantias necessárias entrará em "default", segundo informação do diário "Página 12".
Apesar de o governo ter chegado muito próximo da conclusão
das negociações com as Províncias controladas pela base governista de tarde, a disputa com os
governadores justicialistas (da
oposição) adentrou à noite.
Um dos problemas do governo
é que das 23 Províncias do país, 14
são controladas pela oposição. E,
mesmo que tenha mantido negociações em separado, os governadores devem assinar um acordo
comum.
As Províncias não querem aceitar o corte proposto pelo governo
no repasse mensal. Além disso, há
a dívida de quase US$ 1 bilhão,
proveniente do atraso de parte
desses repasses desde julho.
Essa dívida, o governo quer pagar parte em papéis (conhecidos
por Lecops) e parte em dinheiro:
o ponto de discórdia é o tamanho
dessa proporção; as Províncias
querem que a maior parte da dívida seja paga em dinheiro e o governo, em títulos.
Na tarde de ontem, o chefe de
Gabinete do governo, Chrystian
Colombo, que conduz as negociações, afirmou que o acordo com
os governadores da Aliança (coalizão que elegeu De la Rúa em 99)
esteva concluído. A reação do
mercado foi imediata: o Merval,
principal índice da Bolsa argentina, subiu 2,7% e o risco-país recuou para 2.327 pontos.
Fontes do Ministério da Economia confirmaram que o Ministro
Domingo Cavallo acompanhará o
presidente De la Rúa à viagem aos
EUA. Cavallo deve se encontrar
com bancos e investidores para
expor a proposta de reestruturação da dívida. Segundo as mesmas fontes, De la Rúa pedirá ao
FMI o adiantamento das parcelas
que o país tem para receber.
Para a analista do Credit Suisse
First Boston em Nova York, Lacey
Gallaher, a Argentina "necessita
de garantias superiores a US$ 20
bilhões para convencer os credores internacionais".
Enquanto o governo analisava a
contraproposta das Províncias no
início da noite, recebeu a informação de mais uma derrota: os
deputados de oposição, liderados
pelos justicialistas, conseguiram
aprovar o projeto de Lei que prevê
o repasse de parte do imposto do
cheque (similar à CPMF brasileira) para as Províncias. O projeto
ainda será votado pelo Senado.
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