São Paulo, quinta-feira, 08 de novembro de 2001

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À BEIRA DO ABISMO

Negociações com governadores de oposição continuam

De la Rúa avança no acordo com Províncias governistas

FABRICIO VIEIRA
DE BUENOS AIRES

O presidente Fernando De la Rúa continua sua corrida contra o relógio para tentar firmar com os governadores o tão adiado acordo fiscal antes de embarcar para os Estados Unidos hoje.
O ponto principal que tem travado as negociações é o repasse de US$ 1,36 bilhão que o governo federal é obrigado a fazer às Províncias -que são como os Estados brasileiros- mensalmente.
O acordo é fundamental para que o governo consiga se enquadrar na meta de déficit zero (segundo a qual só pode gastar o que arrecada) e cumprir o acertado com o FMI em agosto, para somente assim receber as duas próximas parcelas do empréstimo concedido pelo organismo.
Os US$ 4,3 bilhões que a Argentina tem para sacar no FMI são a única garantia financeira internacional que o país tem atualmente para oferecer na sua proposta de reestruturação da dívida externa no início de 2002.
O acordo também é importante para De la Rúa mostrar força política ao mercado internacional, onde a credibilidade de seu governo está em baixa. Na terça, duas das mais influentes agências de classificação de risco, a Fitch e a Standard & Poor's, rebaixaram a nota da dívida argentina, afirmando que o país está a um passo do default (calote).
A possibilidade de a Argentina honrar suas dívidas também foi colocada em cheque pelo banco de investimentos Lehman Brothers, que distribuiu um relatório a seus clientes em NY. O relatório dizia que se a Argentina tentar reestruturar sua dívida externa sem as garantias necessárias entrará em "default", segundo informação do diário "Página 12".
Apesar de o governo ter chegado muito próximo da conclusão das negociações com as Províncias controladas pela base governista de tarde, a disputa com os governadores justicialistas (da oposição) adentrou à noite.
Um dos problemas do governo é que das 23 Províncias do país, 14 são controladas pela oposição. E, mesmo que tenha mantido negociações em separado, os governadores devem assinar um acordo comum.
As Províncias não querem aceitar o corte proposto pelo governo no repasse mensal. Além disso, há a dívida de quase US$ 1 bilhão, proveniente do atraso de parte desses repasses desde julho.
Essa dívida, o governo quer pagar parte em papéis (conhecidos por Lecops) e parte em dinheiro: o ponto de discórdia é o tamanho dessa proporção; as Províncias querem que a maior parte da dívida seja paga em dinheiro e o governo, em títulos.
Na tarde de ontem, o chefe de Gabinete do governo, Chrystian Colombo, que conduz as negociações, afirmou que o acordo com os governadores da Aliança (coalizão que elegeu De la Rúa em 99) esteva concluído. A reação do mercado foi imediata: o Merval, principal índice da Bolsa argentina, subiu 2,7% e o risco-país recuou para 2.327 pontos.
Fontes do Ministério da Economia confirmaram que o Ministro Domingo Cavallo acompanhará o presidente De la Rúa à viagem aos EUA. Cavallo deve se encontrar com bancos e investidores para expor a proposta de reestruturação da dívida. Segundo as mesmas fontes, De la Rúa pedirá ao FMI o adiantamento das parcelas que o país tem para receber.
Para a analista do Credit Suisse First Boston em Nova York, Lacey Gallaher, a Argentina "necessita de garantias superiores a US$ 20 bilhões para convencer os credores internacionais".
Enquanto o governo analisava a contraproposta das Províncias no início da noite, recebeu a informação de mais uma derrota: os deputados de oposição, liderados pelos justicialistas, conseguiram aprovar o projeto de Lei que prevê o repasse de parte do imposto do cheque (similar à CPMF brasileira) para as Províncias. O projeto ainda será votado pelo Senado.



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