|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CONJUNTURA
Chefe do Departamento de Indústria do instituto diz que setor saiu da estagnação ao crescer pelo 4º mês seguido
IBGE vê "ligeira recuperação" da indústria
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Ainda que a taxas modestas, a
produção da indústria cresceu em
setembro pelo quarto mês consecutivo. O setor registrou expansão de 1% em relação a agosto, já
descontadas as influências sazonais (características de cada período), segundo o IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística).
Em relação a setembro do ano
passado, quando o país vivia o pico do racionamento de energia,
houve crescimento de 5,6%, influenciado, em parte, pela base de
comparação reduzida.
Segundo Sílvio Sales, chefe do
Departamento de Indústria do
IBGE, os dados de setembro mostram que a indústria do país passou de um período de estagnação
para uma fase de "ligeira recuperação".
"O setor real da economia enfrentou esse período de turbulências de um modo surpreendente",
disse Sales, em referência à crise
cambial e ao fato de a indústria
não ter registrado taxas negativas
nos últimos meses.
Acima da previsão
Com o resultado de setembro, o
crescimento acumulado no ano
passou de 0,5% até agosto para
1,1% até setembro.
"A gente já vinha dizendo que a
atividade econômica não estava
tão ruim como as pessoas [do
mercado financeiro] falavam. A
demanda não estava tão retraída", afirmou Paulo Levy, economista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão do governo federal.
De acordo com Levy, se for
mantido o ritmo de setembro, a
produção industrial fechará o ano
com alta de 1,9% -taxa superior
à previsão atual do Ipea, de 1,5%.
O que prova a melhora em setembro, diz Sales, são os "sinais
ainda discretos" de que a produção voltada para consumo interno começou a reagir. É o caso da
fabricação de automóveis, que
não crescia desde janeiro, e de insumos para a construção civil (alta de 3%).
Nos meses anteriores, itens relacionados a exportações -como
os da agroindústria- e o petróleo
vinham sustentando o ritmo produtivo.
Carros dão impulso
Por categoria de uso, a que mais
contribuiu para o crescimento da
produção foi a de bens intermediários (insumos usados na fabricação de produtos finais). Houve
crescimentos de 1,5% em relação
a agosto no indicador dessazonalizado e de 6,2% contra setembro
de 2001.
Impulsionados pelo aumento
da produção de automóveis e de
eletrodomésticos, os bens duráveis também tiveram bom desempenho. Houve expansões de
19,9% em relação a setembro de
2001 -neste caso, também vale a
ressalva da base de comparação
fraca- e de 2,2% sobre agosto.
Em queda desde fevereiro, a
produção de automóveis subiu
12,6% em setembro na comparação com o mesmo mês de 2001.
O setor foi beneficiado pela redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e pela redução dos estoques, segundo o
IBGE. No caso dos eletrodomésticos, a alta foi de 27,8%.
Para Juan Pedro Jensen, economista da Tendências Consultoria,
o que mais explica o crescimento
da produção é a exportação.
"Apesar da depreciação do
câmbio e da disparada do juro de
mercado, isso tudo não foi repassado para o lado real da economia. A indústria não caiu. O que
está puxando esse movimento é a
demanda externa."
Mudança de cenário
No rastro das exportações, cresceu a produção de ramos como
óleos vegetais (10%) e siderurgia
(10,3%).
Para outubro, Sales diz que o cenário mudou, com a alta da taxa
básica de juros e do recolhimento
compulsório dos bancos -ambas as medidas restringem o crédito-, o que pode afetar o desempenho da indústria.
Levy discorda. Segundo ele, deve haver crescimento do consumo interno no fim do ano e o juro
praticado nos empréstimos não
acompanhou a alta da Selic (de
18% para 21%, em meados de outubro).
Texto Anterior: Painel S.A. Próximo Texto: CNI diz que salários e vendas também sobem Índice
|