São Paulo, sexta-feira, 08 de novembro de 2002

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CONJUNTURA

Chefe do Departamento de Indústria do instituto diz que setor saiu da estagnação ao crescer pelo 4º mês seguido

IBGE vê "ligeira recuperação" da indústria

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Ainda que a taxas modestas, a produção da indústria cresceu em setembro pelo quarto mês consecutivo. O setor registrou expansão de 1% em relação a agosto, já descontadas as influências sazonais (características de cada período), segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Em relação a setembro do ano passado, quando o país vivia o pico do racionamento de energia, houve crescimento de 5,6%, influenciado, em parte, pela base de comparação reduzida.
Segundo Sílvio Sales, chefe do Departamento de Indústria do IBGE, os dados de setembro mostram que a indústria do país passou de um período de estagnação para uma fase de "ligeira recuperação".
"O setor real da economia enfrentou esse período de turbulências de um modo surpreendente", disse Sales, em referência à crise cambial e ao fato de a indústria não ter registrado taxas negativas nos últimos meses.

Acima da previsão
Com o resultado de setembro, o crescimento acumulado no ano passou de 0,5% até agosto para 1,1% até setembro.
"A gente já vinha dizendo que a atividade econômica não estava tão ruim como as pessoas [do mercado financeiro] falavam. A demanda não estava tão retraída", afirmou Paulo Levy, economista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão do governo federal.
De acordo com Levy, se for mantido o ritmo de setembro, a produção industrial fechará o ano com alta de 1,9% -taxa superior à previsão atual do Ipea, de 1,5%.
O que prova a melhora em setembro, diz Sales, são os "sinais ainda discretos" de que a produção voltada para consumo interno começou a reagir. É o caso da fabricação de automóveis, que não crescia desde janeiro, e de insumos para a construção civil (alta de 3%).
Nos meses anteriores, itens relacionados a exportações -como os da agroindústria- e o petróleo vinham sustentando o ritmo produtivo.

Carros dão impulso
Por categoria de uso, a que mais contribuiu para o crescimento da produção foi a de bens intermediários (insumos usados na fabricação de produtos finais). Houve crescimentos de 1,5% em relação a agosto no indicador dessazonalizado e de 6,2% contra setembro de 2001.
Impulsionados pelo aumento da produção de automóveis e de eletrodomésticos, os bens duráveis também tiveram bom desempenho. Houve expansões de 19,9% em relação a setembro de 2001 -neste caso, também vale a ressalva da base de comparação fraca- e de 2,2% sobre agosto.
Em queda desde fevereiro, a produção de automóveis subiu 12,6% em setembro na comparação com o mesmo mês de 2001.
O setor foi beneficiado pela redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e pela redução dos estoques, segundo o IBGE. No caso dos eletrodomésticos, a alta foi de 27,8%.
Para Juan Pedro Jensen, economista da Tendências Consultoria, o que mais explica o crescimento da produção é a exportação.
"Apesar da depreciação do câmbio e da disparada do juro de mercado, isso tudo não foi repassado para o lado real da economia. A indústria não caiu. O que está puxando esse movimento é a demanda externa."

Mudança de cenário
No rastro das exportações, cresceu a produção de ramos como óleos vegetais (10%) e siderurgia (10,3%).
Para outubro, Sales diz que o cenário mudou, com a alta da taxa básica de juros e do recolhimento compulsório dos bancos -ambas as medidas restringem o crédito-, o que pode afetar o desempenho da indústria.
Levy discorda. Segundo ele, deve haver crescimento do consumo interno no fim do ano e o juro praticado nos empréstimos não acompanhou a alta da Selic (de 18% para 21%, em meados de outubro).


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