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VIZINHO EM CRISE
Após chegar ao fundo do poço, economia do país começa a apresentar sinais, ainda fracos, de recuperação
Argentina poderá substituir recessão por estagnação
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os argentinos começam a respirar. Dólar sob controle, aumento
do saldo comercial, recuperação
de alguns setores exportadores e
melhora de indicadores de atividade econômica mostram que, se
ainda não ocorre uma recuperação, há chances de que ela comece
mais cedo do que se imaginava.
A atividade econômica ainda é
fraca e o PIB (Produto Interno
Bruto -soma dos valores de todos os bens e serviços produzidos
no país) deve cair 11% em 2002.
Mas nas últimas semanas, tanto
o setor financeiro como a economia real deram sinais de que o
país chegou no que se poderia
chamar de fundo do poço da recessão. Ou seja, agora o mais provável é que comece uma recuperação ou estagnação.
Os primeiros sinais positivos
vieram do setor financeiro, onde
uma certa estabilidade, ainda que
frágil, trouxe alguma tranquilidade. Primeiro, o câmbio, agora
controlado pelo governo, não disparou. Segundo, a liberação dos
depósitos congelados pelo "corralito" não causou uma corrida
bancária. Pelo contrário, a maior
parte dos recursos voltou para os
bancos como depósitos a prazo.
Ou seja, a estratégia de tentar
monetizar a economia, que era
vista com ceticismo até mesmo
pelos economistas argentinos, parece estar funcionando. O governo começou ofertando aos bancos títulos públicos que pagavam
130% de juros anuais.
Depósitos voltam
Atraídos pela lucratividade, e a
despeito do trauma do "corralito", empresas e consumidores argentinos depositaram os pesos
nos bancos. Só em outubro, os depósitos livres, ou seja, que não estão bloqueados pelo "corralito",
subiram 24%. Agora, o total de recursos livres já supera o volume
de dinheiro bloqueado.
"Se você levar em consideração
que quem comprou dólar há três
meses já teve perda de 15% e que
os depósitos pagam juros atrativos, ainda que [as taxas de juros]
já tenham diminuído bastante, é
compreensivo que os argentinos
tenham optado por deixar o dinheiro nos bancos", explica Juan
Zabala, economista-chefe do CEB
(Centro de Estudos Bonaerenses).
Com a desvalorização do câmbio, alguns setores da economia já
estão crescendo: alguns exportam
e outros são beneficiados pela
substituição de importações.
"Ainda há muitos setores que
vão mal. Mas a mudança de preços relativos tem ajudado a sustentar a atividade de alguns setores ou de impedir uma queda
maior em outros", diz Eduardo
Curi, diretor do Centro de Análises Socioeconômicas.
Saldo robusto
Até setembro, as exportações
argentinas haviam subido 2%. No
mesmo período, as importações
despencaram 50%. Resultado:
um robusto superávit comercial
de US$ 12 bilhões que, se por um
lado incentivou alguns setores da
economia, por outro elevou para
quase US$ 10 bilhões as reservas
internacionais do país.
Apesar de não ser o suficiente
para fazer com que todos os setores da economia se recuperem, o
ajuste externo tem contribuído
para sustentar parte da indústria e
comércio locais, como sugere tanto o aumento da arrecadação como o resultado positivo do último
indicador mensal de atividade
econômica divulgado pelo Indec
(mais 0,9% em agosto), o instituto
oficial de estatística do país.
"Há indicadores irrefutáveis de
que a economia parou de despencar. Se eles são definitivos, vai depender do que acontece agora",
diz Fábio Rodriguez, economista
da Fundação Capital.
Rodriguez considera que o sucesso das negociações com o FMI,
ainda que não resolva todos os
problemas do país, é condição necessária para que a recuperação
seja definitiva.
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