São Paulo, sexta-feira, 08 de novembro de 2002

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VIZINHO EM CRISE

Após chegar ao fundo do poço, economia do país começa a apresentar sinais, ainda fracos, de recuperação

Argentina poderá substituir recessão por estagnação

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os argentinos começam a respirar. Dólar sob controle, aumento do saldo comercial, recuperação de alguns setores exportadores e melhora de indicadores de atividade econômica mostram que, se ainda não ocorre uma recuperação, há chances de que ela comece mais cedo do que se imaginava.
A atividade econômica ainda é fraca e o PIB (Produto Interno Bruto -soma dos valores de todos os bens e serviços produzidos no país) deve cair 11% em 2002.
Mas nas últimas semanas, tanto o setor financeiro como a economia real deram sinais de que o país chegou no que se poderia chamar de fundo do poço da recessão. Ou seja, agora o mais provável é que comece uma recuperação ou estagnação.
Os primeiros sinais positivos vieram do setor financeiro, onde uma certa estabilidade, ainda que frágil, trouxe alguma tranquilidade. Primeiro, o câmbio, agora controlado pelo governo, não disparou. Segundo, a liberação dos depósitos congelados pelo "corralito" não causou uma corrida bancária. Pelo contrário, a maior parte dos recursos voltou para os bancos como depósitos a prazo.
Ou seja, a estratégia de tentar monetizar a economia, que era vista com ceticismo até mesmo pelos economistas argentinos, parece estar funcionando. O governo começou ofertando aos bancos títulos públicos que pagavam 130% de juros anuais.

Depósitos voltam
Atraídos pela lucratividade, e a despeito do trauma do "corralito", empresas e consumidores argentinos depositaram os pesos nos bancos. Só em outubro, os depósitos livres, ou seja, que não estão bloqueados pelo "corralito", subiram 24%. Agora, o total de recursos livres já supera o volume de dinheiro bloqueado.
"Se você levar em consideração que quem comprou dólar há três meses já teve perda de 15% e que os depósitos pagam juros atrativos, ainda que [as taxas de juros] já tenham diminuído bastante, é compreensivo que os argentinos tenham optado por deixar o dinheiro nos bancos", explica Juan Zabala, economista-chefe do CEB (Centro de Estudos Bonaerenses).
Com a desvalorização do câmbio, alguns setores da economia já estão crescendo: alguns exportam e outros são beneficiados pela substituição de importações.
"Ainda há muitos setores que vão mal. Mas a mudança de preços relativos tem ajudado a sustentar a atividade de alguns setores ou de impedir uma queda maior em outros", diz Eduardo Curi, diretor do Centro de Análises Socioeconômicas.

Saldo robusto
Até setembro, as exportações argentinas haviam subido 2%. No mesmo período, as importações despencaram 50%. Resultado: um robusto superávit comercial de US$ 12 bilhões que, se por um lado incentivou alguns setores da economia, por outro elevou para quase US$ 10 bilhões as reservas internacionais do país.
Apesar de não ser o suficiente para fazer com que todos os setores da economia se recuperem, o ajuste externo tem contribuído para sustentar parte da indústria e comércio locais, como sugere tanto o aumento da arrecadação como o resultado positivo do último indicador mensal de atividade econômica divulgado pelo Indec (mais 0,9% em agosto), o instituto oficial de estatística do país.
"Há indicadores irrefutáveis de que a economia parou de despencar. Se eles são definitivos, vai depender do que acontece agora", diz Fábio Rodriguez, economista da Fundação Capital.
Rodriguez considera que o sucesso das negociações com o FMI, ainda que não resolva todos os problemas do país, é condição necessária para que a recuperação seja definitiva.


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