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São Paulo, sábado, 08 de novembro de 2003

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ANÁLISE

Economia global se recupera, mas há grandes desequilíbrios

DO "FINANCIAL TIMES"

O otimismo econômico está varrendo o mundo. Para comemorar, o Banco da Inglaterra (BC do Reino Unido) tornou-se o segundo entre os bancos centrais do Grupo dos 7 países mais desenvolvidos (depois do canadense) a elevar as taxas de juros, desde 2000. Mas o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), o BCE (Banco Central Europeu) e o Banco do Japão não mostraram praticamente nenhuma intenção de seguir o exemplo no futuro próximo.
Se o Japão precisa de taxas de juros zero, os Estados Unidos de taxas a 1% ao ano e a zona do euro de juros de 2%, não é possível que as coisas sejam tão saudáveis quanto acreditam os otimistas.
Alan Greenspan, o presidente do Fed, destacou, anteontem, que o PIB (Produto Interno Bruto) dos Estados Unidos cresceu a um ritmo anualizado de 7,2% no terceiro trimestre, o crescimento mais rápido em quase 20 anos. Greenspan enfatizou, em especial, que a produtividade (produção de cada trabalhador por hora, no setor não agrícola da economia) havia subido em ritmo anualizado de 5% do quarto trimestre de 2001 para cá. Durante o segundo e o terceiro trimestres de 2003, o crescimento da produtividade atingiu a ordem de 7,5%.
Em parte como resultado disso, o Fed está convencido de que a probabilidade de "uma queda indesejada da inflação excede a probabilidade de que a inflação suba de seu nível atualmente baixo". A política monetária, argumentou Greenspan, pode ser paciente.
Se o Fed está relaxado quanto ao ritmo da recuperação, o BCE demonstra calma semelhante, sem dúvida em larga medida porque a recuperação na zona do euro é imensamente menos vigorosa.
Falando pela primeira vez como presidente da instituição, em uma reunião nesta semana, Jean-Claude Trichet indicou "uma certa resistência das taxas de juros, em prazo mais curto", mas disse que "a perspectiva de médio prazo quanto à estabilidade de preços continua favorável". Quanto ao Banco do Japão, ninguém espera que este altere sua política de taxa zero de juros no curto prazo.

Questões no ar
Dada a calma no cenário monetário mundial, bem como o imenso relaxamento fiscal dos EUA, era inevitável que alguma forma de recuperação surgisse. As questões, no entanto, são mais amplas: que dimensões ela terá, quanto vai durar e qual será sua força?
A resposta à primeira das perguntas é animadora. Temos bons motivos para esperar uma alta mundial sincronizada.
Isso se deve em parte às forças cíclicas normais. Mas também se deve ao impacto de um dólar mais fraco, particularmente em um mundo de baixa inflação. Um dólar em queda faz com que as economias com bancos centrais que empregam metas para a inflação, ou que adotam taxas de câmbio fixas ou esquemas de âncora cambial, optem por políticas monetárias menos severas.
O vigor da recuperação depende em parte de até que ponto a zona do euro e os japoneses adotarão reformas econômicas que promovam um rápido crescimento econômico em longo prazo. Também depende da disposição dos norte-americanos de continuar tomando dinheiro emprestado -e da disposição do resto do mundo para continuar emprestando.
O Fed obteve sucesso em impedir uma reacomodação que seria normal, depois da bolha no setor residencial, enquanto a tomada de empréstimos em volume maciço pelo governo federal norte-americano mais que compensou a queda nos empréstimos do setor empresarial.
Dessa forma, as autoridades norte-americanas deram sustentação à demanda nos EUA e ao déficit em conta corrente. Enquanto isso, os estrangeiros, especialmente os asiáticos, ofereceram alegremente o financiamento necessário.
Essa simbiose entre gastos elevados nos EUA e poupança elevada na Ásia é a fundação da recuperação mundial. Enquanto os norte-americanos tomarem dinheiro emprestado e os asiáticos emprestarem dinheiro, essa expansão pode prosperar.
A duração da recuperação vai depender de como essa história vai se desenrolar. Se tudo correr bem, o ajuste para do déficit em conta corrente norte-americano, estimulado pela queda do dólar e pela forte demanda no resto do mundo, reduzirá a dependência mundial da tendência americana a gastos perdulários. Se tudo correr mal, a economia mundial atingirá a recuperação cavalgando um maremoto de dívidas norte-americanas.
Ninguém sabe que hipótese vai se provar real. Mas todos sabemos qual delas é desejável.


Tradução de Paulo Migliacci


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