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ANÁLISE
Economia global se recupera, mas há grandes desequilíbrios
DO "FINANCIAL TIMES"
O otimismo econômico
está varrendo o mundo.
Para comemorar, o Banco da Inglaterra (BC do Reino Unido) tornou-se o segundo entre os bancos
centrais do Grupo dos 7 países
mais desenvolvidos (depois do
canadense) a elevar as taxas de juros, desde 2000. Mas o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), o BCE (Banco
Central Europeu) e o Banco do Japão não mostraram praticamente
nenhuma intenção de seguir o
exemplo no futuro próximo.
Se o Japão precisa de taxas de juros zero, os Estados Unidos de taxas a 1% ao ano e a zona do euro
de juros de 2%, não é possível que
as coisas sejam tão saudáveis
quanto acreditam os otimistas.
Alan Greenspan, o presidente
do Fed, destacou, anteontem, que
o PIB (Produto Interno Bruto)
dos Estados Unidos cresceu a um
ritmo anualizado de 7,2% no terceiro trimestre, o crescimento
mais rápido em quase 20 anos.
Greenspan enfatizou, em especial,
que a produtividade (produção
de cada trabalhador por hora, no
setor não agrícola da economia)
havia subido em ritmo anualizado de 5% do quarto trimestre de
2001 para cá. Durante o segundo e
o terceiro trimestres de 2003, o
crescimento da produtividade
atingiu a ordem de 7,5%.
Em parte como resultado disso,
o Fed está convencido de que a
probabilidade de "uma queda indesejada da inflação excede a probabilidade de que a inflação suba
de seu nível atualmente baixo". A
política monetária, argumentou
Greenspan, pode ser paciente.
Se o Fed está relaxado quanto ao
ritmo da recuperação, o BCE demonstra calma semelhante, sem
dúvida em larga medida porque a
recuperação na zona do euro é
imensamente menos vigorosa.
Falando pela primeira vez como
presidente da instituição, em uma
reunião nesta semana, Jean-Claude Trichet indicou "uma certa resistência das taxas de juros, em
prazo mais curto", mas disse que
"a perspectiva de médio prazo
quanto à estabilidade de preços
continua favorável". Quanto ao
Banco do Japão, ninguém espera
que este altere sua política de taxa
zero de juros no curto prazo.
Questões no ar
Dada a calma no cenário monetário mundial, bem como o imenso relaxamento fiscal dos EUA,
era inevitável que alguma forma
de recuperação surgisse. As questões, no entanto, são mais amplas:
que dimensões ela terá, quanto
vai durar e qual será sua força?
A resposta à primeira das perguntas é animadora. Temos bons
motivos para esperar uma alta
mundial sincronizada.
Isso se deve em parte às forças
cíclicas normais. Mas também se
deve ao impacto de um dólar mais
fraco, particularmente em um
mundo de baixa inflação. Um dólar em queda faz com que as economias com bancos centrais que
empregam metas para a inflação,
ou que adotam taxas de câmbio
fixas ou esquemas de âncora cambial, optem por políticas monetárias menos severas.
O vigor da recuperação depende em parte de até que ponto a zona do euro e os japoneses adotarão reformas econômicas que
promovam um rápido crescimento econômico em longo prazo. Também depende da disposição dos norte-americanos de continuar tomando dinheiro emprestado -e da disposição do resto
do mundo para continuar emprestando.
O Fed obteve sucesso em impedir uma reacomodação que seria
normal, depois da bolha no setor
residencial, enquanto a tomada
de empréstimos em volume maciço pelo governo federal norte-americano mais que compensou
a queda nos empréstimos do setor
empresarial.
Dessa forma, as autoridades
norte-americanas deram sustentação à demanda nos EUA e ao
déficit em conta corrente. Enquanto isso, os estrangeiros, especialmente os asiáticos, ofereceram
alegremente o financiamento necessário.
Essa simbiose entre gastos elevados nos EUA e poupança elevada na Ásia é a fundação da recuperação mundial. Enquanto os
norte-americanos tomarem dinheiro emprestado e os asiáticos
emprestarem dinheiro, essa expansão pode prosperar.
A duração da recuperação vai
depender de como essa história
vai se desenrolar. Se tudo correr
bem, o ajuste para do déficit em
conta corrente norte-americano,
estimulado pela queda do dólar e
pela forte demanda no resto do
mundo, reduzirá a dependência
mundial da tendência americana
a gastos perdulários. Se tudo correr mal, a economia mundial atingirá a recuperação cavalgando
um maremoto de dívidas norte-americanas.
Ninguém sabe que hipótese vai
se provar real. Mas todos sabemos qual delas é desejável.
Tradução de Paulo Migliacci
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