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ESTRATÉGIA
Temor cria oportunidades
Crise inibe empréstimo dos bancos
da Reportagem Local
O momento em que a maioria
dos bancos retrai a oferta de crédito por medo da inadimplência cria
o ambiente ideal para uma ofensiva nessa área.
É o que pensa o presidente do
Bradesco, que acredita ser possível
ganhar mercado oferecendo crédito quando outros não o fazem. "Isso nos permite a construção de
uma base maior. Quando a economia começar a crescer novamente
estaremos melhor preparados",
diz Lázaro Brandão.
O banco procurou expandir sua
área de crédito pelas próprias pernas, mas a compra do BCN, em dezembro de 97 -após o crash- foi
um passo complementar.
O grupo ampliou em 30% sua
carteira de crédito de um ano para
outro, atingindo US$ 17,5 bilhões
em setembro passado, segundo
dados da consultoria financeira
Austin Asis.
"Crescemos e teríamos crescido
mais em crédito se não fosse o momento da economia, que exige
maior cuidado por causa da inadimplência", diz Brandão.
Caminhando no sentido oposto,
o Itaú reduziu sua carteira de crédito de US$ 9,8 bilhões para US$
9,2 bilhões.
"Quando decidimos reduzir o
crédito, após a crise asiática de 97,
estávamos olhando para a frente.
Sempre que os juros sobem, acontecem perdas também lá na frente", diz Roberto Setubal, do Itaú.
A ofensiva do banco das famílias
Vilela e Setubal aconteceu em outro campo. A carteira de títulos públicos cresceu muito e a receita
vinda dessa área avançou 172% de
setembro de 97 a setembro de 98,
atingindo US$ 2,45 bilhões.
Essa foi, segundo os executivos
do Itaú, a principal razão para que
o lucro do banco crescesse 12%.
A maioria dos bancos brasileiros
tem seguido essa mesma receita,
como imaginava o próprio Bradesco ao traçar seus objetivos.
De acordo com levantamento da
Austin com 200 instituições brasileiras, enquanto os ganhos da área
de crédito cresceram apenas 2,4%
de junho de 97 para junho de 98,
atingindo US$ 25,5 bilhões, a receita com títulos públicos saltou
27,6% para US$ 20,8 bilhões.
"A ciranda financeira voltou com
força total por causa dos juros altos. Por enquanto, a tendência deve continuar por causa do avanço
da inadimplência", diz Erivelto
Rodrigues, da Austin Asis.
Ele avalia, no entanto, que a tendência em um prazo maior é de
que a chamada ciranda financeira
-os ganhos com os juros altos-
perca força. "Os bancos de varejo
têm de voltar a cumprir o seu papel
na economia, o de emprestar. Sem
isso o crescimento da economia é
retardado", diz o consultor.
A escolha entre aplicar os ativos
-dinheiro captado junto aos
clientes por meio dos depósitos-
em crédito ou títulos públicos não
é a única marca da diferença da
gestão dos dois maiores bancos.
Outro fator determinante dos resultados publicados na semana
passada é o diferente grau de exposição no mercado de ações.
As empresas de seguros, previdência e capitalização do Bradesco
têm grande parte de suas reservas
técnicas aplicadas em ações.
A queda da Bolsa de Valores nos
últimos 12 meses fez com que o
grupo registrasse perdas.
"Tivemos nossas reservas muito
afetadas, mas são reservas de longo
prazo e a Bolsa agora já está tendo
uma recuperação", diz Brandão.
As perdas com ações, por enquanto, são apenas contábeis, pois
os papéis continuam em poder do
grupo. Se a Bolsa subir, a perda é
revertida. Só se as ações tivessem
sido vendidas após a queda de preços é que haveria prejuízo de fato.
Perdas contábeis ou reais, o Itaú
prefere não se arriscar. "Temos
muito poucas ações em nossa carteira porque seu resultado é muito
volátil", diz Roberto Setubal.
Participação em empresas
É por meio das empresas de seguros e previdência que o Bradesco mantém boa parte de suas participações acionárias em companhias de fora do grupo.
Essas empresas são obrigadas a
formar as chamadas reservas técnicas. Na prática, é um dinheiro
que tem de ficar separado para fazer frente às obrigações intrínsecas
dessas atividades: pagar indenizações e aposentadorias no futuro.
Como são obrigações situadas no
futuro, os recursos ficam guardados por um longo período de tempo. Por essa razão, são aplicados
em investimentos de longo prazo e
integram a chamada poupança
privada de qualquer país.
Mais uma vez, nesse campo, os
dois bancos se diferenciam. O Itaú
não detém participações acionárias expressivas em outras companhias. Já o Bradesco é conhecido
por essa atividade.
Mais recentemente, além de empresas privadas, o banco comandado por Brandão passou a investir também nas privatizações,
principalmente do setor elétrico e
de telecomunicações.
"Se o mesmo dinheiro (colocado
nas privatizações) tivesse sido aplicado em títulos de renda fixa, daria
um retorno inquestionável no momento", diz Lázaro Brandão. "As
privatizações são investimentos
que têm maturação de longo prazo, mas são presenças em áreas da
economia com muita substância."
Os frutos de cada um dos dois estilos vão aparecer com o tempo.
"São estratégias diferentes, que
têm resultados diferentes no momento. Pode ser que no longo prazo nem seja tão diferentes", diz Setubal. O tempo dirá.
Por enquanto, o que se pode ver
são apenas os ganhos imediatos.
Esses são, aliás, os ganhos que têm
sido observados por um pequeno
grupo de pessoas: os investidores
da Bolsa de Valores.
Como não poderia deixar de ser,
as ações dos dois bancos têm se
comportado de maneira totalmente opostas. Do início do ano até
agora, as ações do Bradesco recuaram mais de 30%, enquanto as do
Itaú subiram quase 7%. (VA)
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