São Paulo, domingo, 8 de novembro de 1998

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MERCADO FINANCEIRO
Volumes negociados caíram após a turbulência mundial; presidente da Bovespa prevê dias difíceis
Onda de demissões atinge Bolsas de SP e RJ

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
da Reportagem Local

As Bolsas de Valores de São Paulo e do Rio estão se adaptando ao novo tamanho do mercado financeiro brasileiro e reduzindo sua estrutura. "O sistema inteiro está fazendo um ajuste. As corretoras e a Bolsa", diz o presidente da Bolsa de São Paulo, Alfredo Rizkallah.
Segundo a Folha apurou, o corte de funcionários nas Bolsas do Rio e de São Paulo chegou a 140 pessoas -70 pessoas em São Paulo e mais 70 no Rio. Hoje, a Bolsa de Valores de São Paulo tem cerca de 450 funcionários, e a do Rio, 280.
Os cortes não visam apenas adequar a estrutura das instituições a uma crise financeira momentânea, como a causada pela moratória da Rússia, em meados de agosto, e que se estendeu até o final de outubro último.
Em agosto, deixou a Bolsa de Valores de São Paulo R$ 1,7 bilhão apenas em recursos externos. Em setembro, saiu mais R$ 1,5 bilhão. No final de outubro, a crise se estancou e o saldo entre a compra a venda de ações por estrangeiros ficou positivo em R$ 27,8 milhões.
"Eu acredito que o período de facilidades no crédito e liquidez terminou, em escala global. Nós vamos passar por períodos difíceis. Nós próximos dois anos eu não acredito que nós vamos restaurar o movimento que tivemos no primeiro semestre do ano passado."
A Bolsa de São Paulo chegou a negociar, no primeiro semestre do ano passado, em torno de R$ 1,2 bilhão por dia. Nos dias atuais, em momentos de euforia, os negócios batem em R$ 700 milhões.
"Foi feito todo um ajuste de estrutura da Bolsa para um período, eu não diria de vacas magras, mas sim de seriedade muito maior. Isso implica redução de material, pessoal, racionalização de custos. Se nós negociamos hoje menos da metade do volume que negociávamos, temos de nos adaptar a isso", afirma Rizkallah.
A receita da Bolsa é apurada sobre o volume financeiro do mercado. Embora não queira revelar números, Rizkallah diz que há meses nos quais a diferença entre os recursos apurados e os gastos tem sido ligeiramente positiva. Há outros nos quais ela é, também ligeiramente, negativa.
Segundo Rizkallah, feito o primeiro ajuste, "nós vamos ver o que acontece. A gente tem de ir se adaptando à cada fase".
A redução nos volumes negociados com ações no Brasil acabou apressando uma discussão antiga, sobre a fusão da Bolsa de São Paulo com a Bolsa do Rio.
"Se nós estamos reavaliando estruturas e custos, esse é o momento adequado para aprofundarmos o debate com nossos colegas do Rio", disse Rizkallah.
Ele afirmou que está em fase "bem adiantada" a discussão para unificar os sistemas de negociação e de comunicação das duas Bolsas.
Segundo Rizkallah, isso traria uma "razoável" economia nas negociações. "As sociedades corretoras passariam a ter um custo menor. Nós precisamos viabilizar os intermediários. São eles que trazem os recursos para a Bolsa. Não é a Bolsa que gera recursos."
Ele não quis fixar prazos, mas afirmou que até o final do ano as conversas com "os parceiros do Rio" devem estar terminadas.
"Depois, a implementação vai depender de fatores técnicos que nós vamos procurar acelerar", afirmou o presidente da Bovespa.
Segundo a Folha apurou, o que tem atrasado as negociações são problemas políticos. A Bolsa de Valores do Rio tinha, antes do episódio Naji Nahas, em 89, grande importância no país. Hoje, o mercado carioca não movimenta mais do que R$ 10 milhões por dia.
A grande polêmica nas negociações é, no caso de uma fusão com a Bolsa paulista, que papel teriam os dirigentes cariocas.



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