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Números mostram mercado mais calmo
GABRIEL J. DE CARVALHO
da Redação
A crise não passou, ainda há
muita incerteza no ar e existem sérios obstáculos na travessia imaginada pelo governo. Boa parte do
pacote fiscal nem sequer foi aprovada pelo Congresso. Não há como
negar, entretanto, que a batalha
das expectativas -vital em situações como a atual- começa a ser
vencida.
O mercado já não está tão pessimista. Antes mesmo dos fatos novos da primeira semana de novembro -reação nas Bolsas de Valores
e volta espontânea de dólares-,
movimentos importantes de mercado em outubro indicavam para
certa calmaria dos investidores.
A fuga de dólares do país, por
exemplo, cedeu bastante já em outubro. O auge foi em setembro
-saída de US$ 18,9 bilhões nos
segmentos comercial e flutuante-, mesmo porque a crise russa
se agravou só na segunda quinzena
de agosto. Naquele mês a perda foi
de US$ 12,1 bilhões.
Em outubro as remessas para fora não chegaram a US$ 2 bilhões.
Mesmo considerando antecipações de entrada de dólares negociadas pelo governo, caso dos espanhóis que compraram a Telesp,
o fluxo foi mais favorável.
Com crédito externo suspenso e
bônus antigos vencendo, é natural
que o saldo tenda a ser negativo.
Fuga de brasileiros
Em setembro, cresceu também o
temor de que não só estrangeiros
estavam deixando o país, mas também brasileiros, via mercado flutuante, o que abrange o chamado
dólar-turismo e contas CC-5 (de
não-residentes).
Por serem brasileiros, parte do
dinheiro estaria nos FIFs (Fundos
de Investimento Financeiro), principalmente nos de 60 dias, que detêm mais de 80% do patrimônio
total de R$ 126 bilhões nessas aplicações.
Em setembro, a captação líquida
dos FIFs, segundo dados do Banco
Central, foi negativa em R$ 6,85 bilhões, contra R$ 858 milhões no
mês anterior.
Em outubro, dados disponíveis
no Sisbacen indicam que os saques
ainda superaram os depósitos,
mas num volume menor, de R$
3,05 bilhões até o dia 29.
E retiradas de fundos, CDBs e
mesmo poupança não significam
necessariamente compra de dólares, para envio ao exterior ou, por
precaução, ficar "debaixo do colchão" aqui dentro.
"Black" recua
Prova da maior calmaria entre
investidores locais é o preço do dólar paralelo. O "black" é hoje um
mercado restrito, mas não deixa de
ser indicador do humor de quem
mexe com dinheiro.
Em meados de setembro, chegou
a ser vendido a R$ 1,33, com ágio
próximo de 13% sobre o oficial. Fechou outubro em R$ 1,255. Na última sexta-feira o ágio estava em
5,20%, nível próximo ao anterior à
crise russa.
Bolsa animada
A Bolsa sofreu as maiores quedas
no início de setembro, quando o
Índice Bovespa, que reflete a oscilação de preços das ações mais negociadas em São Paulo, chegou a
bater em 4.760 pontos.
Só para comparar: o recorde foi
em julho de 97, com 13.617. Ponta a
ponta, daria uma queda de 65%.
Com menor nervosismo nos
mercados interno e externo, o Ibovespa fechou outubro em 7.047
pontos. Na última sexta, em 8.214.
Dá uma reação de 72,6% sobre o
"fundo do poço" de setembro.
O volume diário de negócios, indicador importante, também melhorou: R$ 647,98 milhões.
Só expectativas
Por enquanto, a calmaria vem
das expectativas: reforma da Previdência, que finalmente passou;
aprovação do pacote fiscal; acerto
com o FMI; e megaoperação internacional de apoio às reservas.
Por fim, queda dos juros para
controlar o endividamento público e evitar que a recessão dramatize mais a questão social.
Na área cambial, tudo indica que
a política de minidesvalorizações
do real vai continuar. Daqui para a
frente, o ganho real para as exportações deve ser maior, pois a inflação está zerada.
As recomendações de máxi, mesmo que não seja já, com o mercado
tenso, dificilmente serão acolhidas
pelo governo. Partem de quem não
tem a responsabilidade pelas consequências de "apertar o botão".
Se der errado, em desastre, a culpa
ainda será de FHC e equipe.
O risco da estratégia adotada pelo governo, temem até analistas
que a defendem, é a provável volta
do financiamento externo levá-lo
novamente a se acomodar, adiando um ataque frontal e mais rápido
aos desequilíbrios da economia.
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