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COMÉRCIO EXTERIOR
Para ministro do Desenvolvimento, até janeiro de 2002 país terá superado etapas para a abertura total
2001 será de reformas e abertura, diz Tápias
CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL
O ministro Alcides Tápias (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) anunciou ontem
que, já em janeiro de 2002, "o processo de abertura da economia
chegará ao ápice".
Tápias afirma que a abertura total "ocorrerá quando o custo do
dinheiro, a oneração fiscal e o custo do emprego estiverem no nível
dos praticados nas economias
competitivas".
Traduzindo: até janeiro de 2002,
terão caído os juros (custo do dinheiro), terá sido feita a reforma
tributária (desonerando a produção da carga fiscal hoje existente)
e terá sido flexibilizada a legislação trabalhista, no pressuposto de
que os custos salariais no Brasil,
hoje, atrapalham a competitividade das empresas.
"Naquele momento, poderão
ser baixadas as proteções alfandegárias que, provisoriamente, ainda são necessárias", diz o ministro.
Apesar de a reforma tributária
ter sido apontada como prioridade por Fernando Henrique Cardoso em sua primeira campanha
presidencial (1994) e de, nos seis
anos decorridos, não ter sido feita,Tápias dá como inevitável a
aprovação da reforma tributária
no curto espaço de um ano até janeiro de 2002.
"O governo sabe que ela terá de
ser aprovada, porque é uma exigência do sistema produtivo internacional e pré-condição para a
inserção de nossos produtos no
mercado global", diz.
Se a reforma não for aprovada,
o risco é o do país "enfrentar sérios problemas no balanço de pagamentos num horizonte não
muito distante".
Tradução: a abertura adicional
da economia, sem que os produtos brasileiros se tornem competitivos, pelo alívio da carga tributária, fará com que aumentem as
importações, criando problemas
para a balança comercial (exportações menos importações) e, por
extensão, para o balanço de pagamentos, o que mede todas as transações do país com o exterior, que
é cronicamente deficitário.
As declarações de Tápias precisam ser entendidas no contexto
de um debate mais amplo entre os
que a mídia batizou, simplificadamente, de "desenvolvimentistas"
(os que cobram desenvolvimento,
depois de alcançada a estabilidade) e "monetaristas", que parecem conformar-se apenas com a
estabilidade.
Abertura adicional
Parte do debate passa pela abertura adicional da economia. Há
dois meses, o presidente do Banco
Central, Armínio Fraga, chegou a
defender uma abertura à la chilena, país em que a média das tarifas de importação não passa de
9% contra os 14%, sempre na média, do Brasil (e do Mercosul).
O presidente Fernando Henrique Cardoso interferiu duas vezes
nesse debate. Primeiro, para dizer
que qualquer nova abertura (a
primeira foi feita pelo governo
Fernando Collor) dependeria de
consultas aos setores produtivos.
A segunda, mais recente, para
discordar do FMI (Fundo Monetário Internacional) que, na sua
avaliação da economia brasileira,
apontara problemas no balanço
de pagamentos e sugerira mais
abertura como forma de tornar
mais competitiva a economia e,
em um segundo momento, conseguir exportar mais.
FHC, ao contrário, cobrou coerência dos países ricos que pregam a abertura, mas mantêm fechados os seus mercados para,
por exemplo, o competitivo agronegócio brasileiro.
O ministro Tápias considerou
ontem "uma bobagem" a distinção entre "monetaristas" e "desenvolvimentistas", apenas para
ser contraditado por César Borges
de Souza, vice-presidente da Abag
(Associação Brasileira do Agronegócio).
Debatedor do seminário "Agronegócio Brasileiro e o Mercado
Externo", no qual falou Tápias,
Borges de Souza lamentou que
predomine no governo apenas "a
visão do caixa" (ou seja, a visão do
equilíbrio fiscal).
Tápias até admitiu ser correta
essa interpretação, mas justificou-a como necessária para que o Estado brasileiro recuperasse credibilidade. O ministro até arriscou
uma visão mais ou menos "desenvolvimentista":
"Se já temos três, quatro anos de
credibilidade, podemos operar
um processo que desamarre um
pouco essa visão do caixa".
Defendeu também a necessidade de sair do "quase engessamento da visão puramente financeira"
para que o governo adote uma
"visão econômica".
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