São Paulo, sexta-feira, 08 de dezembro de 2000

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LUÍS NASSIF

As apostas sobre os Estados Unidos

Provavelmente poucas vezes uma aposta esteve tão completamente empatada quanto que se dá em torno dos destinos da economia americana: se o "pouso suave" ou a queda brusca.
Em outros momentos como no caso da manutenção da política cambial brasileira-havia uma aparente divisão entre os economistas, mas só para leigos. Os peso pesados da economia jamais tiveram dúvidas de que a política cambial brasileira anterior não iria resistir.
No caso americano, nenhum dos peso pesados pode arriscar apostas sobre o que irá acontecer, devido às novas características das economias globalizadas.
Há uma defasagem entre a aplicação da política monetária e seus efeitos sobre a economia. Elevações de juros, hoje, vão se refletir sobre a atividade econômica daqui a algum tempo, dependendo da intensidade da elevação e das características da economia.
Nos períodos de economia fechada, era até possível definir alguns padrões de tempo. No entanto, dois fatores novos passaram a dificultar sobremaneira essa previsão. O primeiro, o elevado grau de alavancagem (endividamento) à disposição do mercado financeiro. O tamanho do tombo dependia do tamanho da alavancagem. Isso porque, nesses processos especulativos, ocorre a seguinte lógica:
1)Os ativos reais começam a se valorizar.
2)Os investidores adquirem os ativos e, depois, utilizam como garantia para contrair empréstimos.
3)Com os empréstimos, eles aplicam novamente nos ativos, acelerando sua valorização. Valorizados, os ativos cobriam o valor do empréstimo, permitindo tomar empréstimos adicionais.
4)Essa roda especulativa era rompida quando se percebia que o ritmo de valorização dos ativos não mais acompanharia o custo do crédito.
De alguns anos para cá, além das formas tradicionais de crédito bancário, o mercado desenvolveu mecanismos radicais de alavancagem, através dos derivativos. Com isso, os movimentos especulativos passaram a ser muito mais intensos do que em outras épocas. Quando um mercado desaba, é como um terremoto sobre uma cidade: há os edifícios que caem na hora e aqueles que caem algum tempo depois. Cair depois significa o investidor que consegue um fôlego adicional, apostando na recuperação dos mercados a médio prazo. Quando a recuperação não vem, ocorrem as rodadas seguintes de quebradeira.
Aparentemente, a Nasdaq e outros mercados especulativos americanos não encerraram seu ciclo de pós-terremoto. Some-se a isso as próprias taxas de endividamento dos consumidores americanos, que seguem rotas semelhantes às dos especuladores, embora menos intensas. Envida-se confiando no aumento futuro de renda. A recessão traz redução de ganhos e, muitas vezes, inadimplência.
O segundo fator é a relação entre as diversas economias internacionais. O FED tenta inverter a mãos dos juros e amenizar a queda da economia americana. Só que, pelo período em que a economia estiver desaquecida, há um sem-número de desdobramentos em outros países. Por exemplo, como ficará a relação faturamento/passivo dos grandes conglomerados coreanos que dependem das vendas para os EUA?
Mesmo que a economia americana se recuperasse daqui a algum tempo, o período de desaquecimento provoca desequilíbrios de caixa que não podem ser compensados futuramente. E esses efeitos acabam se refletindo também sobre a própria recuperação futura da economia norte-americana.
Estimar esse jogo de forças e contra-forças é tarefa que ainda não foi desvendada por nenhum dos grandes teóricos da macro-economia global.

Jóia rara
Para colecionadores de jóias raras: "Ney Lopes e os Amigos", CD da gravadora Velas.

Internet: www.dinheirovivo.com.br
E-mail - lnassif@uol.com.br



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