São Paulo, sábado, 08 de dezembro de 2007

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Vice-presidente da Cisco é demitido em presídio

Advogado diz que executivo se sente injustiçado

MARIO CESAR CARVALHO
JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL

O vice-presidente da Cisco Systems para a América Latina, Carlos Carnevali, encerrou na última segunda-feira a sua carreira de executivo na corporação americana: um telegrama enviado pelo escritório de advocacia Trench, Rossi e Watanabe ao presídio de Tremembé, a 138 km de São Paulo, informava que ele havia sido demitido por justa causa.
Carnevali está preso desde 16 de outubro, quando a Polícia Federal (PF) deflagrou a Operação Persona. Ele ficou na Cisco desde 1994 e é apontado por seus pares como o responsável pelo crescimento da empresa no país e na América Latina.
Na demissão por justa causa, a Cisco alega que Carnevali rompeu um dos princípios éticos da empresa. Segundo a acusação, Carnevali é sócio oculto da Mude, a maior distribuidora de produtos Cisco no Brasil, e é acusado pela PF de comandar um esquema de fraudes em importação que teria causado um prejuízo fiscal de mais de R$ 1,5 bilhão ao cofres públicos.
Segundo o vice-presidente mundial da Cisco, Howard Charney, no Brasil não haveria nada de errado em um funcionário de uma empresa ter participação acionária em outra companhia. O problema é que isso contraria o código de conduta da Cisco e isso justificaria a demissão, mesmo sem que a investigação interna da empresa fosse concluída, afirma.
A PF acusa a Cisco dos EUA de comandar as fraudes. Dois executivos que trabalharam com Carnevali disseram à Folha, sob a condição de que seus nomes não fossem revelados, que a demissão por justa causa é uma estratégia de defesa da Cisco para tentar se livrar das acusações de que praticou crimes. Ambos dizem que a matriz conhecia, ajudava e se beneficiava das fraudes.
Segundo o advogado de Carnevali, Luiz Guilherme Moreira Porto, o ex-executivo da Cisco no Brasil se sente injustiçado pela companhia e, após provar sua inocência, deverá processar a matriz.
"No depoimento ele foi contundente e já traçamos uma estratégia de defesa", afirma Moreira Porto. O advogado afirma ainda que a demissão de Carnevali não foi concretizada.
"Ele aguarda alguns papéis assinados que precisam ser enviados dos EUA", afirma. Segundo ele, seu cliente estava negociando a aposentadoria quando estourou a operação.
A Folha apurou que, em seu depoimento à Justiça Federal, Carnevali reafirmou não ter qualquer vínculo societário com a distribuidora Mude. Segundo ele, essa empresa estava tentando contratá-lo, após sua saída da Cisco, para que a assessorasse no processo de venda à Westcom. A Westcom é uma das empresas que, segundo a Cisco, herdou o "espólio" deixado pela Mude, cujas atividades ficaram paralisadas logo após o início da operação.

Prêmio para a Mude
Maior distribuidora da Cisco no Brasil, a Mude foi premiada pela matriz americana, em abril deste ano, como a maior distribuidora do mundo. Em depoimento à Justiça, Moacyr Álvaro Sampaio, um dos principais executivos da Mude, afirma ter sido convidado pelo chairman da Cisco, John Chambers, para ministrar palestras nos EUA e contar a fórmula de seu sucesso.
Sampaio aproximou-se de Carnevali em uma feira, em 1995, quando apresentou a ele um projeto de exclusividade para distribuir produtos da Cisco. Naquela ocasião, a matriz americana só trabalhava com duas distribuidoras brasileiras.


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