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Vice-presidente da Cisco é demitido em presídio
Advogado diz que executivo se sente injustiçado
MARIO CESAR CARVALHO
JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL
O vice-presidente da Cisco
Systems para a América Latina,
Carlos Carnevali, encerrou na
última segunda-feira a sua carreira de executivo na corporação americana: um telegrama
enviado pelo escritório de advocacia Trench, Rossi e Watanabe ao presídio de Tremembé,
a 138 km de São Paulo, informava que ele havia sido demitido por justa causa.
Carnevali está preso desde 16
de outubro, quando a Polícia
Federal (PF) deflagrou a Operação Persona. Ele ficou na Cisco desde 1994 e é apontado por
seus pares como o responsável
pelo crescimento da empresa
no país e na América Latina.
Na demissão por justa causa,
a Cisco alega que Carnevali
rompeu um dos princípios éticos da empresa. Segundo a acusação, Carnevali é sócio oculto
da Mude, a maior distribuidora
de produtos Cisco no Brasil, e é
acusado pela PF de comandar
um esquema de fraudes em importação que teria causado um
prejuízo fiscal de mais de R$ 1,5
bilhão ao cofres públicos.
Segundo o vice-presidente
mundial da Cisco, Howard
Charney, no Brasil não haveria
nada de errado em um funcionário de uma empresa ter participação acionária em outra
companhia. O problema é que
isso contraria o código de conduta da Cisco e isso justificaria
a demissão, mesmo sem que a
investigação interna da empresa fosse concluída, afirma.
A PF acusa a Cisco dos EUA
de comandar as fraudes. Dois
executivos que trabalharam
com Carnevali disseram à Folha, sob a condição de que seus
nomes não fossem revelados,
que a demissão por justa causa
é uma estratégia de defesa da
Cisco para tentar se livrar das
acusações de que praticou crimes. Ambos dizem que a matriz
conhecia, ajudava e se beneficiava das fraudes.
Segundo o advogado de Carnevali, Luiz Guilherme Moreira Porto, o ex-executivo da Cisco no Brasil se sente injustiçado pela companhia e, após provar sua inocência, deverá processar a matriz.
"No depoimento ele foi contundente e já traçamos uma estratégia de defesa", afirma Moreira Porto. O advogado afirma
ainda que a demissão de Carnevali não foi concretizada.
"Ele aguarda alguns papéis
assinados que precisam ser enviados dos EUA", afirma. Segundo ele, seu cliente estava
negociando a aposentadoria
quando estourou a operação.
A Folha apurou que, em seu
depoimento à Justiça Federal,
Carnevali reafirmou não ter
qualquer vínculo societário
com a distribuidora Mude. Segundo ele, essa empresa estava
tentando contratá-lo, após sua
saída da Cisco, para que a assessorasse no processo de venda à Westcom. A Westcom é
uma das empresas que, segundo a Cisco, herdou o "espólio"
deixado pela Mude, cujas atividades ficaram paralisadas logo
após o início da operação.
Prêmio para a Mude
Maior distribuidora da Cisco
no Brasil, a Mude foi premiada
pela matriz americana, em
abril deste ano, como a maior
distribuidora do mundo. Em
depoimento à Justiça, Moacyr
Álvaro Sampaio, um dos principais executivos da Mude, afirma ter sido convidado pelo
chairman da Cisco, John
Chambers, para ministrar palestras nos EUA e contar a fórmula de seu sucesso.
Sampaio aproximou-se de
Carnevali em uma feira, em
1995, quando apresentou a ele
um projeto de exclusividade
para distribuir produtos da Cisco. Naquela ocasião, a matriz
americana só trabalhava com
duas distribuidoras brasileiras.
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