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País recebe Semana do Empreendedorismo
Evento será no Brasil entre os dias 17 e 26 de novembro do próximo ano; meta é envolver 1 milhão de pessoas com o tema
"Empreender e ter sucesso não é fácil em nenhum lugar", diz Paulo Veras, diretor-geral do instituto Empreender Endeavor
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Entidades de apoio a novos
negócios pretendem reunir
cerca de 1 milhão de pessoas em
2008 no Brasil para promover o
empreendedorismo. Em sua
quinta edição mundial, será a
primeira vez que a Semana Global do Empreendedorismo
acontecerá no país, entre 17 e
26 de novembro de 2008, com a
participação de estudantes e jovens empresários.
Paulo Veras, diretor-geral do
instituto Empreender Endeavor, entidade sem fins lucrativos de promoção de novos negócios, é um dos organizadores
do evento, que deve ter o apoio
de outros 20 órgãos.
Ele diz que "empreender e
ter sucesso não é fácil em nenhum lugar". Em entrevista à
Folha, Veras dá dicas de áreas
promissoras e os cuidados que
os novos empreendedores devem ter. A seguir, os principais
trechos da entrevista:
FOLHA - Pesquisa do IBGE mostra
que 45% dos negócios abertos desde 1997 no país já fecharam. Dados
do Banco Mundial revelam que aqui
é um dos piores lugares para fazer
negócios. Isso está mudando?
PAULO VERAS - Temos de separar duas coisas. Primeiro, deixar claro que empreender e ter
sucesso não é fácil em nenhum
lugar. No Brasil, não é mais difícil do que em outros lugares. O
Brasil tem dificuldades diferentes. Mas todo mundo acha
que é muito fácil empreender
nos EUA. Não se leva em consideração a competição que tem
lá, que é muito mais forte do
que no Brasil, o profissionalismo dessa competição. Por
exemplo, montar uma empresa
no Silicon Valley [Vale do Silício, na Califórnia], onde as pessoas são disputadas a tapa. No
Brasil também há competição,
mas é em outro nível. Ter sucesso é difícil em qualquer lugar. Por que morrem tantas
empresas? Em geral, há falta de
preparo dos empreendedores.
As pessoas têm uma idéia, mas
não têm nenhum tipo de organização financeira, não entendem o básico de fluxo de caixa,
não têm disciplina. Estamos lutando para conseguir diminuir
essa lacuna, mas o empreendedor em geral, no Brasil, é muito
despreparado.
FOLHA - Para alguém pensando
em abrir um negócio, independentemente da área, o que o sr. recomenda?
VERAS - Primeiro, você tem de
fazer um negócio em alguma
área que goste, porque o teu negócio vai ser a tua vida. Você vai
passar mais tempo no negócio
do que em casa com a família.
Segundo: pensar bem ou pesar
o tipo de negócio e quanto de
investimento você precisa.
Tentar achar um negócio que
precise de menos investimento. O capital no Brasil ainda é
muito caro, e capital para empreendedor é difícil em qualquer lugar do mundo. O pessoal
acha que lá fora é superfácil,
mas também não é. Quanto
menos capital, melhor. Terceiro: é muito importante tentar
um modelo de negócio que tenha receita corrente, em que
você não precise "matar um
leão por dia". Um modelo em
que você não precise vender todo dia para ter receita. Alguma
coisa que tenha afinidade com
o cliente, que pague uma anuidade, que os clientes passem a
usufruir aquilo e que fiquem
meio travados ali, porque eles
gostam e não querem mudar.
Depois disso, o fundamental
para crescer é montar uma
equipe muito boa, e acho que
isso ainda é uma coisa pouco
valorizada no Brasil. Se você
quiser fazer um negócio dar
certo, crescer, se perenizar para daqui a 10, 20, 30, 40 anos,
você precisa, realmente, ter valores e princípios muito sólidos
e montar uma equipe que trabalhe dentro desses valores.
FOLHA - Nesse novo cenário, que
alguns acreditam ser um círculo virtuoso no Brasil, onde o sr. vê bons nichos de negócio?
VERAS - O Brasil está crescendo
muito na área de serviços. É um
setor que, efetivamente, precisa de pouco investimento. Há
muitas empresas começando
também na área de tecnologia
da informação. Há boas escolas
nesse setor e, por isso, há boa
disponibilidade de mão-de-obra competente. Esses engenheiros de software custam
muito menos aqui no Brasil do
que nos EUA ou na Índia.
FOLHA - Nesse contexto, qual o papel do Endeavor?
VERAS - Somos uma instituição
sem fins lucrativos. Nosso único interesse é o desenvolvimento do Brasil. Acreditamos
que, para isso, a única forma é
ter uma massa de empreendedores de alto impacto. Gente
que pense grande, trabalhe direito, queira chegar longe, empregue muitas pessoas. Temos
duas frentes de atuação: identificamos e apoiamos empreendedores que têm potencial para
gerar esse desenho e ajudar a
inspirar e a motivar novos empreendedores a seguir essa trilha. Outra frente é a disseminação do conhecimento. No site
do Endeavor [www.endeavor.org.br], de graça, você pode
encontrar dicas de como fazer
um plano de negócios, como levantar recursos, exportar ou
gerenciar pessoas. Temos um
processo de seleção que é aberto a todo mundo. Uma empresa
que acha que pode crescer muito, que é inovadora, que hoje
fatura entre US$ 1 milhão e
US$ 15 milhões por ano, pode
se inscrever nesse processo. Se
acharmos que realmente tem
muito potencial, podemos
apoiar esse empreendedor. É
um apoio de transferência de
conhecimento. Temos uma rede de 400 voluntários, como
Jorge Paulo Lemann (acionista
da InBev e Americanas), Emílio Odebrecht (Construtora
Odebrecht), Luiza Helena Trajano (Magazine Luiza) e Pedro
Passos (Natura). São pessoas
com muita experiência e que se
dispõem a transferi-la para os
empreendedores que estão começando. Hoje, 67 empreendedores têm o apoio direto do Endeavor. A cada ano colocamos
mais alguns, de sete a dez.
FOLHA - Os srs. pretendem trazer a
Semana Global do Empreendedorismo para o Brasil. O que é isso?
VERAS - Vai acontecer de 17 a
26 de novembro de 2008. Não é
um movimento do Endeavor,
mas mundial. O movimento foi
iniciado pelo Gordon Brown
(atual premiê britânico) em
2004, na Inglaterra. Este ano
foi a quarta vez que eles fizeram
[o encontro] e envolveram
mais de 500 mil pessoas na Inglaterra. Em geral, jovens de 13,
14, até uns 30 e poucos anos. E
colocaram esses jovens em
contato com o empreendedorismo. No Brasil, queremos envolver pelo menos 1 milhão
com esse tema, com competições, jogos nas escolas, fazendo
miniempresas. Já são 20 organizações que estão nessa coalizão para promover a Semana
Global de Empreendedores no
Brasil.
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