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Chávez desvaloriza moeda e cria segunda taxa de câmbio
Venezuela terá uma cotação para produtos como alimentos e outra para bens como veículos
Medida era prevista, dada a grande diferença com o dólar
paralelo; principais produtos
brasileiros entrarão no país
com o câmbio mais valorizado
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
O presidente Hugo Chávez
anunciou ontem que a Venezuela, sexto destino das exportações brasileiras, desvalorizará a moeda local, o bolívar forte,
pela primeira vez desde 2005. A
partir de segunda, o país terá
duas taxas de câmbio, mas o
controle cambial, implantado
em 2003, continua.
"Decidimos aumentar a taxa
de 2,15 para 2,60 bolívares por
dólar. Esse é o primeiro nível",
disse Chávez, em cadeia nacional de rádio e TV. "Um segundo
nível, o "dólar petroleiro", vamos chamá-lo assim, ficará em
4,30 bolívares por dólar."
Segundo Chávez, o primeiro
nível inclui importação de alimentos (a Venezuela compra
cerca de 80% do que consome),
de material de saúde e de "equipamentos para o desenvolvimento" e livros, entre outros
itens menores.
Já o "dólar petroleiro" será
vendido pelo governo venezuelano para os demais setores da
economia, incluindo automóveis, telecomunicações, têxtil,
construção civil e outras áreas
citadas por Chávez.
Com isso, as três principais
itens da pauta de exportação do
Brasil para a Venezuela ficarão
no primeiro nível: bovino vivo
(9,10% do total vendido à Venezuela), carne de frango (8,27%)
e açúcar (4,72%).
A Venezuela é o segundo
maior comprador de produtos
brasileiros na América do Sul e
foi, no ano passado, o país com
o qual o Brasil obteve o segundo maior superavit, de acordo
com dados registrados pelo Ministério do Desenvolvimento,
atualizados até novembro.
A medida vinha sendo prevista havia meses e até anos por
analistas por causa da imensa
pressão do câmbio paralelo,
que, apesar de ilegal, vinha sendo cada vez mais usado por causa da redução na venda de dólares por parte do governo Chávez, afetado pela queda no preço do petróleo, o único motor
da economia do país.
Por outro lado, existe a preocupação do impacto da desvalorização na inflação. A Venezuela é o país latino-americano
com a maior taxa -fechou o
ano passado em 25%.
Ontem, o câmbio paralelo fechou a 6,05 bolívares por dólar,
um ágio de 181% sobre o câmbio oficial, de 2,15.
"A desvalorização era altamente esperada, o dólar de 2,15
era muito pouco aplicado. O
ajuste era inevitável, o câmbio
oficial era uma ficção", disse à
Folha José Francisco Marcondes, presidente da Federação
de Câmaras Brasil Venezuela,
por telefone.
Marcondes diz que é preciso
conhecer as regras de transição
antes de avaliar qual será o impacto nas exportações brasileiras. "De uma forma geral, para
o exportador brasileiro e para o
importador, é preferível um
dólar mais próximo da realidade. Quanto mais próximo, menores as distorções."
Como exemplo, ele afirma
que algumas empresas conseguiam importar com o dólar
oficial, enquanto outras do
mesmo setor tinham de recorrer ao mercado paralelo, praticamente inviabilizando uma
concorrência justa.
No ano passado, a economia
venezuelana se contraiu em
2,9%, a primeira recessão em
cinco anos.
O país também enfrentou
ainda uma minicrise bancária,
com a intervenção em oito pequenos bancos privados, acusados de operações ilegais.
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