São Paulo, sábado, 09 de janeiro de 2010

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Chávez desvaloriza moeda e cria segunda taxa de câmbio

Venezuela terá uma cotação para produtos como alimentos e outra para bens como veículos

Medida era prevista, dada a grande diferença com o dólar paralelo; principais produtos brasileiros entrarão no país com o câmbio mais valorizado

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

O presidente Hugo Chávez anunciou ontem que a Venezuela, sexto destino das exportações brasileiras, desvalorizará a moeda local, o bolívar forte, pela primeira vez desde 2005. A partir de segunda, o país terá duas taxas de câmbio, mas o controle cambial, implantado em 2003, continua.
"Decidimos aumentar a taxa de 2,15 para 2,60 bolívares por dólar. Esse é o primeiro nível", disse Chávez, em cadeia nacional de rádio e TV. "Um segundo nível, o "dólar petroleiro", vamos chamá-lo assim, ficará em 4,30 bolívares por dólar."
Segundo Chávez, o primeiro nível inclui importação de alimentos (a Venezuela compra cerca de 80% do que consome), de material de saúde e de "equipamentos para o desenvolvimento" e livros, entre outros itens menores.
Já o "dólar petroleiro" será vendido pelo governo venezuelano para os demais setores da economia, incluindo automóveis, telecomunicações, têxtil, construção civil e outras áreas citadas por Chávez.
Com isso, as três principais itens da pauta de exportação do Brasil para a Venezuela ficarão no primeiro nível: bovino vivo (9,10% do total vendido à Venezuela), carne de frango (8,27%) e açúcar (4,72%).
A Venezuela é o segundo maior comprador de produtos brasileiros na América do Sul e foi, no ano passado, o país com o qual o Brasil obteve o segundo maior superavit, de acordo com dados registrados pelo Ministério do Desenvolvimento, atualizados até novembro.
A medida vinha sendo prevista havia meses e até anos por analistas por causa da imensa pressão do câmbio paralelo, que, apesar de ilegal, vinha sendo cada vez mais usado por causa da redução na venda de dólares por parte do governo Chávez, afetado pela queda no preço do petróleo, o único motor da economia do país.
Por outro lado, existe a preocupação do impacto da desvalorização na inflação. A Venezuela é o país latino-americano com a maior taxa -fechou o ano passado em 25%.
Ontem, o câmbio paralelo fechou a 6,05 bolívares por dólar, um ágio de 181% sobre o câmbio oficial, de 2,15.
"A desvalorização era altamente esperada, o dólar de 2,15 era muito pouco aplicado. O ajuste era inevitável, o câmbio oficial era uma ficção", disse à Folha José Francisco Marcondes, presidente da Federação de Câmaras Brasil Venezuela, por telefone.
Marcondes diz que é preciso conhecer as regras de transição antes de avaliar qual será o impacto nas exportações brasileiras. "De uma forma geral, para o exportador brasileiro e para o importador, é preferível um dólar mais próximo da realidade. Quanto mais próximo, menores as distorções."
Como exemplo, ele afirma que algumas empresas conseguiam importar com o dólar oficial, enquanto outras do mesmo setor tinham de recorrer ao mercado paralelo, praticamente inviabilizando uma concorrência justa.
No ano passado, a economia venezuelana se contraiu em 2,9%, a primeira recessão em cinco anos.
O país também enfrentou ainda uma minicrise bancária, com a intervenção em oito pequenos bancos privados, acusados de operações ilegais.


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