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CÂMBIO
Companhias fecham menos contratos para se proteger de dólar volátil
Empresa reduz hedge e se arrisca
DA REPORTAGEM LOCAL
As empresas brasileiras captaram cerca de US$ 18,14 bilhões
nos últimos 12 meses, mas estão
menos protegidas contra o estrago que uma desvalorização forte
do real pode fazer em seus balanços. Apesar do aumento das captações, diminuiu o número de
contratos de hedge.
Em janeiro de 2003, de acordo
com levantamento da consultoria
Global Invest, o número de contratos de hedge chegava a 16.449.
No mês passado, foram registrados 6.462 contratos.
Hedge cambial é a operação na
qual as empresas que têm dívidas
a pagar ou créditos a receber tentam se proteger das oscilações de
moeda estrangeira. Nesse caso, a
empresa vai ao mercado, normalmente via bancos ou corretoras, e
fecha contrato no qual fica definido o preço que ela pagará pelo dólar numa data determinada.
Os preços de contratos de hedge
são determinados a partir das taxas de juros (Selic) e da taxa projetada pelo cupom cambial.
Assim, na sexta-feira, uma empresa que tivesse uma dívida de
US$ 1 bilhão com vencimento em
um ano e quisesse fazer contrato
de hedge pagaria um custo de
12,71%, que era a diferença entre a
cotação do dólar no dia (R$ 2,94)
e a aposta no mercado de quanto
estaria em 6 de fevereiro de 2005
(R$ 3,27).
Ou seja, se o dólar estiver acima
de R$ 3,27, a empresa ""ganha"
porque tem assegurado que o
comprará a esse valor. Se estiver
abaixo, ela "perde".
Como no ano passado o dólar se
desvalorizou 18,1% diante do real,
muitas companhias que fizeram
hedge sofreram perdas. Foi o que
ocorreu, por exemplo, com a AmBev no segundo trimestre de
2003. A cervejaria, que depende
de insumos importados, fizera
hedge com taxa de R$ 3,31, mas a
taxa média do câmbio no período
não superou os R$ 2,99.
""As empresas perceberam que,
em 2003, o câmbio só caiu. E muitas apostam que o nível de câmbio
este ano ficará entre R$ 2,85 e R$
2,95", comenta Márcio Pepino, do
banco Finantia.
Em relatório divulgado na semana passada, Nathan Blanche,
sócio da consultoria Tendências,
sustenta, que, além da expectativa
de desvalorização cambial (em
média de 12,5% nos contratos de
um ano na BM&F), as empresas
têm que considerar um custo médio de 5% na captação externa.
O que resultaria em uma taxa
média final superior a 18% ao ano
(quando se incluem os encargos
cobrados pela BM&F e o
"spread" de bancos e corretoras),
acima dos custos de captação interna, de 15,3% ao ano, mas pré-fixados. "Esse descompasso [entre o volume de ingresso de capitais e a diminuição no volume
contratos de hedge em aberto]
pode ser um indicador do otimismo nos mercados", diz Blanche.
Mas o economista argumenta
também que, em mercados naturalmente voláteis, como os de países emergentes, o ingresso de capitais sem proteção cambial embute um risco. ""Ainda que os ganhos de curto prazo possam ser
atrativos, o risco elevado da operação pode gerar bolhas negativas, uma vez que o excesso de otimismo conduz a uma exposição
exagerada ao risco", completa.
Outro levantamento, da corretora Souza Barros, mostra que em
janeiro de 2003, o mercado carregava R$ 90,311 bilhões em contratos de ""swaps" (troca de rentabilidade) ofertados pelo Banco Central. Em janeiro passado, o volume estava em R$ 60,697 bilhões.
Custo alto
Esse movimento é resultado da
política do próprio governo, que
decidiu aproveitar a estabilidade
interna para reduzir a renovação
desses papéis.
Mas só foi possível porque,
diante de um cenário menos volátil, as empresas também procuraram menos hedge, ao contrário
do que ocorreu em 2002 (quando
o dólar encostou nos R$ 4).
Para Wolfgang Walter, da Souza Barros, são duas as determinantes para que as empresas brasileiras relutem em buscar hedge.
""Há uma questão cultural. O hedge no Brasil ainda é visto como
novidade. Mas o mais importante
na decisão é o fator custo", diz.
Segundo ele, o custo de operação de hedge pode ser reduzido,
por exemplo, com a compra de
opções de dólar futuro. Na avaliação de analistas, esse tipo de instrumento pode baixar o custo da
operação de 12,5% (não incluído
as taxas da BM&F e o "spread" de
bancos e corretoras) para 6%.
No primeiro semestre de 2003, o
prazo médio para o vencimento
das captações feitas pelas empresas brasileiras não superava o 1,3
ano. No segundo semestre, ampliou-se para 4,1 anos. Quanto
maior o prazo do vencimento,
menores os riscos de as empresas
serem afetadas por períodos de
turbulências, como os de 2002.
Um dos riscos, segundo o economista Paulo Cintra, da Global
Invest, é que a carga de vencimentos da empresas no curto prazo
ainda é substancial: no ano passado, os vencimentos privados somavam US$ 23 bilhões. Este ano,
passaram a US$ 35 bilhões.
""Por enquanto, as captações
que estão vencendo estão sendo
roladas sem traumas. Se o cenário
mudar, essas empresas serão
obrigadas a comprar dólares e a
cotação estará pressionada", diz
Cintra.
(JOSÉ ALAN DIAS)
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