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GANHOS DE CAPITAL
Valor se refere aos juros pagos às instituições financeiras em 2003 pelo recolhimento compulsório
Bancos embolsam R$ 2,3 bilhões com dinheiro preso no BC
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ao mesmo tempo em que o governo defende que o sistema financeiro direcione mais recursos
para operações de crédito, os bancos ganharam cerca de R$ 2,3 bilhões do Banco Central em 2003
para que não fosse injetado mais
dinheiro na economia.
O valor se refere aos juros pagos
aos bancos pelo chamado recolhimento compulsório -parcela
dos depósitos em contas correntes e cadernetas de poupança que
é retida pelo BC. Parte desse volume é corrigido pela taxa Selic.
Os bancos dizem que o compulsório é uma das causas dos elevados juros praticados hoje no país
e dizem que o BC deveria reduzir
o recolhimento. "Isso é uma forma de tributação indireta, que
onera todos os bancos", afirma o
economista-chefe da Febraban
(Federação Brasileira dos Bancos), Roberto Luis Troster.
O BC usa o compulsório para
controlar a quantidade de dinheiro em circulação no mercado. Em
tese, quanto maior o volume de
dinheiro disponível, maiores podem ser o consumo e os investimentos das empresas, o que poderia pressionar a inflação.
Até 2002, porém, os bancos não
recebiam nada por esse dinheiro
retido. No máximo, era oferecida
a mesma remuneração recebida
pelos seus clientes. Assim, o compulsório que incidia sobre a poupança era corrigido pelo mesmo
índice que corrige a caderneta. No
caso das contas correntes, o BC
não oferecia remuneração.
Mudança nas regras
Naquele ano, porém, o governo
passou a enfrentar dificuldades
para financiar sua dívida. Devido
a mudanças nas normas que regem o funcionamento dos fundos
de investimento e a proximidade
das eleições presidenciais, muitos
investidores fugiram dos títulos
públicos -corrigidos pela Selic.
Assim, de acordo com analistas,
instituir um compulsório corrigido pela taxa Selic era um meio alternativo de financiar a dívida pública: como não conseguia dinheiro vendendo títulos, o governo passou a obter recursos retendo parte dos depósitos bancários.
De maneira simplificada, pode-se dizer que o BC recolhe R$ 53 de
cada R$ 100 que são depositados
em contas correntes. Desses R$
53, R$ 8 são colocados numa conta especial e corrigidos pela Selic.
No caso da poupança, a proporção é menor: R$ 30 em cada R$
100 são retidos, sendo que R$ 10
são remunerados com juros.
Em dezembro passado, o compulsório remunerado que incidia
sobre essas duas aplicações somava R$ 18,7 bilhões. Se prevalecesse
a regra antiga, os bancos não receberiam nada pelo compulsório
sobre conta corrente e juros de
aproximadamente 10% (o rendimento da poupança) pelo recolhimento sobre as cadernetas.
Pela regra nova, o recolhimento
foi corrigido pela Selic, que em
2003 teve variação de 23,35%. A
diferença resultou num ganho de
R$ 2,3 bilhões para os bancos.
Apesar de dizer que o BC deveria acabar com os compulsórios,
Troster nega que a remuneração
do recolhimento represente vantagem. "Os bancos têm custos para captar depósitos à vista. Esses
são os recursos mais caros que
existem, porque a manutenção da
estrutura das agências é onerosa."
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