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São Paulo, domingo, 09 de março de 2003

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TIPO EXPORTAÇÃO

Venda ao exterior reage, e faturamento do setor cresce 32,8%; celulose e mineração também avançam

Siderurgia festeja desvalorização do real

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

As siderúrgicas, os fabricantes de celulose e papel e as mineradoras foram os grandes beneficiados, na área industrial, com a disparada do dólar no ano passado. Esses setores, juntos, faturaram R$ 52,8 bilhões -um ganho de 25% em relação a 2001.
Em um ano de fraco desempenho da economia, eles geraram receitas equivalentes a 5,5% do PIB (Produto Interno Bruto, a soma dos bens e serviços produzidos pelo país em um ano).
As empresas engordaram suas receitas e lucros por dois caminhos: o do crescimento das exportações, que trouxe mais dólares aos seus cofres, e o do aumento dos preços internos, que acompanharam a cotação dos produtos no mercado internacional.
Como a maior parte dos custos desses setores é em reais, a dolarização de parte das receitas em um ano em que a moeda local perdeu 53,2% do valor foi, para eles, sopa no mel.
No mês passado, a sopa começou a correr o risco de azedar. O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, disse, em encontro com empresários, que o governo poderá adotar um imposto sobre as exportações de produtos siderúrgicos como aço e ferro-gusa, além de celulose e outros itens.
O objetivo seria frear a inflação provocada pelo aumento dos preços internos desses produtos que, historicamente, acompanham os preços internacionais.
Procurados pela Folha, o IBS (Instituto Brasileiro de Siderurgia) e a Bracelpa (Associação Brasileira de Celulose e Papel) não se manifestaram.

Aço forte
O setor siderúrgico foi o que mais ganhou com a variação cambial de 2002. Além de receber mais reais para cada dólar obtido com exportações, as indústrias se beneficiaram também da recuperação dos preços internacionais do aço.
"O ano de 2002 foi muito bom operacionalmente para a siderurgia. Os preços internacionais, que no início do ano atingiram seu menor nível em 14 anos, se recuperaram. Internamente, o preço médio dos produtos siderúrgicos subiu mais de 40%", diz Katia Brollo, analista do Unibanco.
Resultado: o faturamento do setor cresceu 32,8% em 2002, atingindo R$ 26,7 bilhões, segundo o IBS (Instituto Brasileiro de Siderurgia). Para este ano, a previsão é de um crescimento de 7%.
O ganho extraordinário da siderurgia brasileira foi alimentado pelo crescimento da demanda global. O consumo mundial teve uma expansão de 10,5%, segundo a consultoria britânica Meps International.
Com a demanda excepcionalmente aquecida, os preços das bobinas de aço laminado a quente subiram 41% no mercado internacional, e os das bobinas de aço laminado a frio, 37%, segundo levantamento da Meps.
Esses são os principais produtos do segmento de aços planos, destinados à industria automotiva, construção civil e eletrodomésticos da linha branca.

Surpresa
Em um ano marcado pelo crescimento do protecionismo internacional, o desempenho da siderurgia mundial surpreendeu e contrariou a expectativa da maioria dos analistas.
Em março do ano passado o governo americano impôs cotas tarifárias (um imposto adicional de importação quando são superados determinados limites quantitativos) de até 30%. Na esteira das salvaguardas americanas a União Européia e a China adotaram medidas similares.
O objetivo das proteções aos mercados locais era garantir preços melhores aos produtores internos desses países e forçar uma queda da produção global .
"A disseminação de várias medidas de proteção comercial teve como impacto a elevação dos preços siderúrgicos naqueles mercados, como era esperado", observa Germano Mendes de Paula, do Instituto de Economia da Universidade Federal de Uberlândia e especialista no setor siderúrgico.

Efeito China
O que os especialistas não esperavam é que, paralelamente ao aumento dos preços dentro dos mercados protegidos, os preços internacionais também reagiram, e a produção global, em vez de encolher, deslanchou.
A produção mundial de aço bruto cresceu 6,4%, depois de permanecer praticamente estagnada entre 1975 e 2000, quando registrou uma taxa anual de crescimento de apenas 1,1%. Essa expansão, segundo Paula, foi puxada pela China. "Se eliminarmos o efeito China, o mercado não é tão pujante", diz ele.
A "bolha chinesa", como está sendo chamada por analistas, foi a principal alavanca para a recuperação dos preços no mercado internacional. Os chineses consumiram todo o aço que produziram -181,5 milhões de toneladas, 30 milhões de toneladas a mais do que o fabricado em 2001. Insaciáveis, ainda importaram 31 milhões de toneladas.
Para se ter uma idéia do tamanho do salto do mercado chinês, toda a produção da indústria brasileira no ano passado chegou a 29 milhões de toneladas de produtos siderúrgicos.
"O consumo da China cresceu dois Brasis. Não há modelo econométrico que explique essa explosão", diz Paula.



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