São Paulo, quinta-feira, 09 de março de 2006

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DEPENDENTE

Dos 10 maiores detentores de títulos federais, 8 são de BB, Caixa e seus fundos de pensão; em 2000, 5 dos 10 eram bancos privados

Banco estatal amplia financiamento da União

KENNEDY ALENCAR
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Entre 2000 e 2005, caiu para mais da metade a participação dos bancos privados no ranking dos dez grandes financiadores do governo federal. A função foi assumida quase exclusivamente por instituições públicas, como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, e fundos de investimento vinculados a eles.
Entre os dez maiores detentores individuais de títulos públicos federais, no final do ano passado, só dois são bancos privados: o Pactual e um fundo de previdência do Bradesco. Segundo documento elaborado pela equipe econômica e obtido pela Folha, em 2000, essa mesma lista estava equilibrada com cinco instituições privadas e cinco públicas.
O levantamento mostra que, juntos, esses dez maiores detentores individuais somavam R$ 304 bilhões em títulos no final de 2005. Esse valor equivale a mais de 30% do total da dívida mobiliária federal, que, no período, estava em R$ 979,662 bilhões.
A Caixa e o BB tinham, respectivamente, R$ 85,7 bilhões e R$ 52,9 bilhões em papéis da União, no último dia útil de 2005. Cinco fundos ligados a essas instituições respondiam por mais R$ 115,092 bilhões. Com isso, 83% do total movimentado por esses dez maiores credores do governo estava nas mãos do próprio governo ou de fundos ligados aos dois bancos federais.
O percentual do setor público é ainda maior se forem acrescidos os R$ 20,734 bilhões registrados pela Nossa Caixa, do governo de São Paulo. Na área privada, o Pactual está na sétima posição, com R$ 16,2 bilhões, e um fundo de previdência do Bradesco, com R$ 13,4 bilhões, é o 10º do ranking.
Em 2000, BB, Caixa e Nossa Caixa também figuravam na lista, só que dividiam o topo com bancos como Itaú, Safra, Bradesco, Unibanco e Banespa, vendido para o Santander naquele ano. Juntos, tinham 20% da dívida em títulos, que era quase a metade da atual (R$ 510,7 bilhões).
Desde então, a participação do setor privado na relação dos dez maiores foi diminuindo e chegou a ser exclusiva de instituições públicas em 2003, primeiro ano do governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Apesar de a Caixa e o BB serem instituições com grande presença no mercado e terem recebido um grande volume de títulos públicos na reestruturação feita pela União em 2001, o predomínio do setor público entre os credores do governo federal é considerado uma distorção do mercado brasileiro. Coincide com o período em que registraram os maiores lucros da história. "Do ponto de vista da empresa, [ter muito título público em carteira] é ruim porque há sempre o questionamento sobre possíveis ingerências políticas do governo federal sobre eles", diz o diretor de análise de risco do Banco Espírito Santo, Carlos Guzzo.
No caso específico da Caixa, a exposição a papéis federal é considerada muito acima da média recomendável pelo mercado. O total de títulos representa mais de dez vezes o patrimônio líquido de R$ 7,9 bilhões. O normal, segundo analistas, é que essa exposição não ultrapasse quatro vezes o valor do patrimônio líquido. O saldo de papéis federais do BB equivale a um pouco mais de três vezes o patrimônio da instituição.
No caso dos fundos de investimento ligado a esses bancos, a dúvida é se a acumulação de papéis públicos é a política que garante mais rendimento ao aplicador. Normalmente, devido às altas taxas de juros, investir em título público é tido como uma aplicação com retorno alto garantido.
No entanto, uma exposição excessiva a eles significa que a instituição está assumindo o risco do país. A história recente mostrou que isso pode trazer problemas.
Em 2002, após o BC mudar as regras de contabilização dos títulos públicos, alguns administradores de fundos geraram perdas significativas a seus cotistas. Antes, por conta de turbulências internacionais, cotistas de fundos de investimento também tiveram prejuízos com títulos do governo.


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