|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DEPENDENTE
Dos 10 maiores detentores de títulos federais, 8 são de BB, Caixa e seus fundos de pensão; em 2000, 5 dos 10 eram bancos privados
Banco estatal amplia financiamento da União
KENNEDY ALENCAR
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Entre 2000 e 2005, caiu para
mais da metade a participação
dos bancos privados no ranking
dos dez grandes financiadores do
governo federal. A função foi assumida quase exclusivamente por
instituições públicas, como o
Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, e fundos de investimento vinculados a eles.
Entre os dez maiores detentores
individuais de títulos públicos federais, no final do ano passado, só
dois são bancos privados: o Pactual e um fundo de previdência do
Bradesco. Segundo documento
elaborado pela equipe econômica
e obtido pela Folha, em 2000, essa
mesma lista estava equilibrada
com cinco instituições privadas e
cinco públicas.
O levantamento mostra que,
juntos, esses dez maiores detentores individuais somavam R$ 304
bilhões em títulos no final de
2005. Esse valor equivale a mais
de 30% do total da dívida mobiliária federal, que, no período, estava
em R$ 979,662 bilhões.
A Caixa e o BB tinham, respectivamente, R$ 85,7 bilhões e R$ 52,9
bilhões em papéis da União, no
último dia útil de 2005. Cinco fundos ligados a essas instituições
respondiam por mais R$ 115,092
bilhões. Com isso, 83% do total
movimentado por esses dez
maiores credores do governo estava nas mãos do próprio governo ou de fundos ligados aos dois
bancos federais.
O percentual do setor público é
ainda maior se forem acrescidos
os R$ 20,734 bilhões registrados
pela Nossa Caixa, do governo de
São Paulo. Na área privada, o Pactual está na sétima posição, com
R$ 16,2 bilhões, e um fundo de
previdência do Bradesco, com R$
13,4 bilhões, é o 10º do ranking.
Em 2000, BB, Caixa e Nossa Caixa também figuravam na lista, só
que dividiam o topo com bancos
como Itaú, Safra, Bradesco, Unibanco e Banespa, vendido para o
Santander naquele ano. Juntos, tinham 20% da dívida em títulos,
que era quase a metade da atual
(R$ 510,7 bilhões).
Desde então, a participação do
setor privado na relação dos dez
maiores foi diminuindo e chegou
a ser exclusiva de instituições públicas em 2003, primeiro ano do
governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Apesar de a Caixa e o BB serem
instituições com grande presença
no mercado e terem recebido um
grande volume de títulos públicos
na reestruturação feita pela União
em 2001, o predomínio do setor
público entre os credores do governo federal é considerado uma
distorção do mercado brasileiro.
Coincide com o período em que
registraram os maiores lucros da
história. "Do ponto de vista da
empresa, [ter muito título público
em carteira] é ruim porque há
sempre o questionamento sobre
possíveis ingerências políticas do
governo federal sobre eles", diz o
diretor de análise de risco do Banco Espírito Santo, Carlos Guzzo.
No caso específico da Caixa, a
exposição a papéis federal é considerada muito acima da média recomendável pelo mercado. O total de títulos representa mais de
dez vezes o patrimônio líquido de
R$ 7,9 bilhões. O normal, segundo
analistas, é que essa exposição
não ultrapasse quatro vezes o valor do patrimônio líquido. O saldo de papéis federais do BB equivale a um pouco mais de três vezes o patrimônio da instituição.
No caso dos fundos de investimento ligado a esses bancos, a dúvida é se a acumulação de papéis
públicos é a política que garante
mais rendimento ao aplicador.
Normalmente, devido às altas taxas de juros, investir em título público é tido como uma aplicação
com retorno alto garantido.
No entanto, uma exposição excessiva a eles significa que a instituição está assumindo o risco do
país. A história recente mostrou
que isso pode trazer problemas.
Em 2002, após o BC mudar as
regras de contabilização dos títulos públicos, alguns administradores de fundos geraram perdas
significativas a seus cotistas. Antes, por conta de turbulências internacionais, cotistas de fundos
de investimento também tiveram
prejuízos com títulos do governo.
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Título público traz retorno alto e risco baixo Índice
|