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Para Mantega, "sobrará dólar" durante a eleição
DO ENVIADO ESPECIAL A LONDRES
DE LONDRES
Foi apenas uma tentativa de
brincadeira, mas, como estava falando em português, a platéia talvez não tenha entendido.
O fato é que ninguém riu quando Guido Mantega, o presidente
do BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social), disse que, se o processo
eleitoral de 2006, provocasse uma
desvalorização do real "até seria
bom".
O que Mantega queria transmitir ao público que assistia ao seminário sobre as relações econômicas Brasil/Reino Unido era a idéia
de que, desta vez, as eleições "não
vão perturbar o curso da economia", ao contrário do que aconteceu em momentos anteriores, em
especial em 2002.
Quando há perturbações, o normal é que quem pode corre para o
dólar para se proteger. "Desta vez,
será a primeira eleição com sobra
de dólares no Brasil", disse, o que,
como é óbvio, impedirá qualquer
corrida para a moeda norte-americana.
Por isso, é que seria "até bom"
que houvesse alguma corrida e a
conseqüente desvalorização do
real, já que há certo consenso de
que a moeda brasileira está sobrevalorizada.
Câmbio flutuante
Consenso de que participa, por
exemplo, o ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), que
reclama da frase de seu colega da
Fazenda, Antonio Palocci, que
sempre diz que o problema com a
flutuação da moeda é que "a moeda flutua".
Reage o ministro Furlan: "Só
flutua unidirecionalmente", ou
seja, para cima.
Tréplica de Palocci: "Não dá para reclamar do câmbio quando as
exportações crescem há 38 meses
consecutivos".
Para a felicidade das autoridades brasileiras, o debate sobre o
câmbio se deu indiretamente, em
conversas separadas com os jornalistas.
Para o público, a mensagem de
todos, incluído Mantega, foi de
um otimismo incontrolável, a
ponto de o ministro da Fazenda
ter dito que "o Brasil deixou para
trás a época de crises".
Lembra um pouco o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, no discurso da segunda posse,
quando jurou que não seria "o gerente da crise". Foi.
Sobre o pífio crescimento registrado em 2005 (2,3%), Palocci foge para a frente: "O importante
para o Brasil não é ter crescimento só um ano, mas parar de ter crises. Penso que o país já superou
essa fase".
Nervosismo
Nem o nervosismo dos últimos
dias nos mercados internacionais,
por conta da alta de juros nos Estados Unidos, abala o espírito zen
e o otimismo de Palocci.
Lembra que, assim que o Fed, o
banco central dos EUA, anunciou
o início das altas de juros, houve
idêntico nervosismo, que, no entanto, "se acomodou logo em seguida".
O ministro só tem um lamento:
o fato de o Congresso, no relatório
(ainda preliminar) sobre o Orçamento-2006, ter eliminado o espaço previsto pelo governo para
eliminar impostos sobre os bens
de produção (uma "bondade" de
R$ 2,6 bilhões). Mas Palocci ainda
acha que pode convencer os parlamentares a voltar atrás.
Mesmo como todo esse otimismo, Palocci evita arriscar previsões sobre o "espetáculo do crescimento" que Lula prometeu em
2003 mas nunca conseguiu levar a
cabo. Já Mantega prefere mudar a
expressão para "espetáculo do desenvolvimento", que, segundo
ele, já está ocorrendo. Mas que
ninguém espere algo do tipo China ou Índia.
"Não dá para crescer 10% [como a China] porque a China está
em outra etapa do processo de desenvolvimento", diz o presidente
do BNDES.
No Brasil, 5% ou 6% seria "um
espetáculo", acha Mantega. "Já
estamos nessa trajetória virtuosa", aposta.
(CR e FV)
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