São Paulo, domingo, 09 de abril de 2000


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A BOLSA E A VIDA
Oito estrategistas indicam o mercado, apesar de preverem novas oscilações
Comprem ações, dizem bancos



de Londres

Bancos e corretores líderes do mercado de Nova York não ficaram impressionados com a ameaça de fim do mundo que se abateu sobre as Bolsas de Nova York, na terça-feira passada.
Ao final da semana mais tumultuada da história recente do mercado financeiro, grandes bancos e corretoras dos EUA decidiram manter suas apostas em ações.
A Folha ouviu oito estrategistas e economistas baseados em Nova York, em instituições como Morgan Stanley, Merrill Lynch, Lehman Brothers e Warburg Dillon Read. Mesmo prevendo fortes oscilações no Nasdaq, em que se negociam ações de empresas de alta tecnologia, eles não recomendam tirar dinheiro das Bolsas.
Eles preferem enfrentar o risco de uma crise a ficar de fora de um mercado que vem sendo muito lucrativo. Para eles, a "exuberância irracional" dos mercados, na expressão de Alan Greenspan, vai continuar, apesar do susto causado pela evaporação de cerca de US$ 600 bilhões em algumas horas na "terça-feira cinza" de 4 de abril. Esse era o total da perda de valor das empresas cujas ações são cotadas pelo índice Nasdaq Composite às 13h daquele dia, dinheiro equivalente a tudo o que o Brasil produz em um ano.
Mas, apesar do pânico, ainda não foi dessa vez que o "crash" mais anunciado da história das Bolsas de Valores aconteceu e, se depender da avaliação dos estrategistas de Wall Street, não ocorrerá tão cedo.
"Estamos apostando na alta das ações. O melhor investimento nos EUA este ano serão as Bolsas", diz Arum Qumar, estrategista-sênior para o mercado de ações do Lehman Brothers, um dos bancos mais otimistas em Wall Street.
O Lehman Brothers mudou recentemente suas recomendações de investimentos para a clientela e manteve a sugestão para deixar 80% do dinheiro em ações. Mais da metade da carteira-modelo de ações do Lehman Brothers é forrada com papéis de empresas de alta tecnologia do Nasdaq.
O Morgan Stanley também acaba de mudar sua recomendação de investimentos e até aumentou a cota das ações de 70% para 75%.
Esse aumento de cinco ponto percentual é destinado a Bolsas de Valores fora dos EUA. Mas, de qualquer maneira, o banco acredita que mesmo os papéis dos EUA vão se valorizar.
"Não estamos considerando que é hora de vender. Achamos que os investidores vão tirar dinheiro das ações de alta tecnologia e aplicar em companhias tradicionais. O Nasdaq deve oscilar muito, entre 3.900 e 4.500 pontos (hoje está em 4.446 pontos), e a Bolsa de Nova York deve se valorizar até o fim do ano", diz Loreena Wang, estrategista do Morgan Stanley.
O mercado pode até desabar na semana que vem, mas os analistas preferem correr o risco de recomendar aos clientes que continuem acreditando nas Bolsas. Um dos motivos é que o "crash" em Wall Street vem sendo anunciado há mais de dois anos e quem ficou com medo e saiu do mercado perdeu dinheiro. Mesmo com cautela, os analistas não querem perder boas oportunidades de aplicações.

Dívida é o que preocupa
Gail Dudack, estrategista responsável pelas área de tecnologia no Warburg Dillon Read, está preocupada com o endividamento dos investidores. Os norte-americanos já contraíram US$ 250 bilhões em empréstimos para aplicar nas Bolsas. Gail acha que, se o Nasdaq cair rápido demais, muita gente vai perder dinheiro e não terá como quitar as dívidas, o que pode trazer pânico e mais quebradeira na praça.
Mesmo assim, Gail não sugere aos clientes que saiam das Bolsas. "Daqui para a frente, teremos oscilações violentas nas cotações. O mercado vai testar o piso e o teto dos preços no Nasdaq, oscilando entre 3.650 pontos e 4.450 pontos. O que recomendamos é escolher ações de empresas com boas perspectivas de bons lucros a curto prazo, em setores como energia, telecomunicações e seguro-saúde", diz a estrategista.
Neste momento, nem os mais cautelosos dizem claramente para os clientes sair do Nasdaq ou da Bolsa de Nova York. A megacorretora Merrill Lynch orienta aos investidores mais nervosos diversificar suas aplicações. "É claro que há algum risco, mas a maior parte dos nossos clientes está fazendo uma rotação de aplicações, trocando de um setor para o outro", diz Richard Bernstein, estrategista da Merrill Lynch, que projeta uma rentabilidade para a Bolsa de Nova York abaixo de 10% este ano. (RICARDO GRINBAUM)




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