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A BOLSA E A VIDA
Oito estrategistas indicam o mercado, apesar de preverem novas oscilações
Comprem ações, dizem bancos
de Londres
Bancos e corretores líderes do
mercado de Nova York não ficaram impressionados com a ameaça de fim do mundo que se abateu
sobre as Bolsas de Nova York, na
terça-feira passada.
Ao final da semana mais tumultuada da história recente do mercado financeiro, grandes bancos e
corretoras dos EUA decidiram
manter suas apostas em ações.
A Folha ouviu oito estrategistas
e economistas baseados em Nova
York, em instituições como Morgan Stanley, Merrill Lynch, Lehman Brothers e Warburg Dillon
Read. Mesmo prevendo fortes oscilações no Nasdaq, em que se negociam ações de empresas de alta
tecnologia, eles não recomendam
tirar dinheiro das Bolsas.
Eles preferem enfrentar o risco
de uma crise a ficar de fora de um
mercado que vem sendo muito
lucrativo. Para eles, a "exuberância irracional" dos mercados, na
expressão de Alan Greenspan, vai
continuar, apesar do susto causado pela evaporação de cerca de
US$ 600 bilhões em algumas horas na "terça-feira cinza" de 4 de
abril. Esse era o total da perda de
valor das empresas cujas ações
são cotadas pelo índice Nasdaq
Composite às 13h daquele dia, dinheiro equivalente a tudo o que o
Brasil produz em um ano.
Mas, apesar do pânico, ainda
não foi dessa vez que o "crash"
mais anunciado da história das
Bolsas de Valores aconteceu e, se
depender da avaliação dos estrategistas de Wall Street, não ocorrerá tão cedo.
"Estamos apostando na alta das
ações. O melhor investimento nos
EUA este ano serão as Bolsas", diz
Arum Qumar, estrategista-sênior
para o mercado de ações do Lehman Brothers, um dos bancos
mais otimistas em Wall Street.
O Lehman Brothers mudou recentemente suas recomendações
de investimentos para a clientela e
manteve a sugestão para deixar
80% do dinheiro em ações. Mais
da metade da carteira-modelo de
ações do Lehman Brothers é forrada com papéis de empresas de
alta tecnologia do Nasdaq.
O Morgan Stanley também acaba de mudar sua recomendação
de investimentos e até aumentou
a cota das ações de 70% para 75%.
Esse aumento de cinco ponto
percentual é destinado a Bolsas de
Valores fora dos EUA. Mas, de
qualquer maneira, o banco acredita que mesmo os papéis dos
EUA vão se valorizar.
"Não estamos considerando
que é hora de vender. Achamos
que os investidores vão tirar dinheiro das ações de alta tecnologia e aplicar em companhias tradicionais. O Nasdaq deve oscilar
muito, entre 3.900 e 4.500 pontos
(hoje está em 4.446 pontos), e a
Bolsa de Nova York deve se valorizar até o fim do ano", diz Loreena Wang, estrategista do Morgan
Stanley.
O mercado pode até desabar na
semana que vem, mas os analistas
preferem correr o risco de recomendar aos clientes que continuem acreditando nas Bolsas.
Um dos motivos é que o "crash"
em Wall Street vem sendo anunciado há mais de dois anos e
quem ficou com medo e saiu do
mercado perdeu dinheiro. Mesmo com cautela, os analistas não
querem perder boas oportunidades de aplicações.
Dívida é o que preocupa
Gail Dudack, estrategista responsável pelas área de tecnologia
no Warburg Dillon Read, está
preocupada com o endividamento dos investidores. Os norte-americanos já contraíram US$
250 bilhões em empréstimos para
aplicar nas Bolsas. Gail acha que,
se o Nasdaq cair rápido demais,
muita gente vai perder dinheiro e
não terá como quitar as dívidas, o
que pode trazer pânico e mais
quebradeira na praça.
Mesmo assim, Gail não sugere
aos clientes que saiam das Bolsas.
"Daqui para a frente, teremos oscilações violentas nas cotações. O
mercado vai testar o piso e o teto
dos preços no Nasdaq, oscilando
entre 3.650 pontos e 4.450 pontos.
O que recomendamos é escolher
ações de empresas com boas
perspectivas de bons lucros a curto prazo, em setores como energia, telecomunicações e seguro-saúde", diz a estrategista.
Neste momento, nem os mais
cautelosos dizem claramente para
os clientes sair do Nasdaq ou da
Bolsa de Nova York. A megacorretora Merrill Lynch orienta aos
investidores mais nervosos diversificar suas aplicações. "É claro
que há algum risco, mas a maior
parte dos nossos clientes está fazendo uma rotação de aplicações,
trocando de um setor para o outro", diz Richard Bernstein, estrategista da Merrill Lynch, que projeta uma rentabilidade para a Bolsa de Nova York abaixo de 10%
este ano.
(RICARDO GRINBAUM)
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