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A BOLSA E A VIDA
Depois da variação maluca do mercado na semana, investidores terão de reformular estratégia
Gangorra da Nasdaq evidencia desgaste
GRETCHEN MORGENSON
do "The New York Times"
Ainda que as coisas tenham se
acalmado, a movimentação amalucada do começo da semana no
mercado acionário foi de fato um
marco. Os veteranos acreditam
que a viagem de ida e volta de
1.074 pontos pela qual a Bolsa eletrônica Nasdaq -que reúne as
ações da "nova economia"- passou na terça-feira indica que os
mercados entraram em um novo
período e que os investidores precisam reformular suas estratégias.
"A percepção dos investidores
de que nada pode sair errado na
nova economia começa a ser encarada com suspeita maior. O elemento de risco volta a fazer parte
da equação", disse James Molz,
vice-presidente da International
Strategy and Investment, assessoria de investimentos dos EUA.
A consciência mais aguçada dos
consumidores quanto a riscos é
evidente em sua fuga rumo a
ações de empresas lucrativas,
com histórias sólidas. GE, Intel e
Oracle, todas subiram na confusão da semana passada, enquanto
os índices de Internet, lotados de
empresas de comércio eletrônico
inexperientes e não lucrativas,
quase não conseguiram encontrar o fundo do poço.
É evidente que os mercados de
ações estão desgastados. E em nenhum lugar isso fica mais claro do
que na movimentação maníaca
dos preços, hoje, principalmente
na Nasdaq. Os operadores profissionais adoram volatilidade, porque lhes dá oportunidade de
comprar e vender ações na corrida. Mas, para as pessoas comuns,
é sinal de um mercado em transição -e com risco significativo.
"A queda livre de terça-feira revelou fragilidade real nesse mercado", disse Steven Leuthold, da
Leuthold Weeden, assessoria de
investimentos dos EUA. "Os investidores, institucionais ou individuais, sobrecarregaram os mecanismos do mercado."
O mecanismo a que ele se refere
-a capacidade dos investidores
de encontrar outras pessoas dispostas a negociar com eles- está
sobrecarregado já há algum tempo. Mas os investidores não reconheceram a situação como um
problema em razão da alta nos
preços das ações. Os compradores vinham superando de longe o
número de vendedores, o que
conduziu as ações à estratosfera.
Muitos fatores contribuem para
a alta da volatilidade. Comissões
ridiculamente baratas nas transações com ações atraíram muitos
investidores novos ao mercado.
Eles negociam com maior frequência e muitos deles entram e
saem das Bolsas em massa, reagindo a informações recebidas na
Internet ou via TV paga.
À medida que mais e mais investidores chegam ao mercado,
os operadores, cuja função é ajudá-los a executar essas ordens, se
retiram da arena. Os lucros dos
maiores operadores com ações da
Nasdaq caíram, como resultado
da fiscalização estreita das autoridades. E assim as fileiras dos protagonistas das Bolsas diminuíram, deixando poucos compradores em posição de sustentar um
piso para as cotações quando os
preços das ações despencam.
"Hoje em dia, os intermediários
oferecem pouca proteção", disse
Leuthold. "Há uma ilusão de liquidez causada pelo número de
ações sendo negociadas. Mas a
verdadeira liquidez é revelada em
dias como a terça-feira."
Kaufman identificou outra força importante impulsionando a
volatilidade do mercado: a obsessão de Wall Street com a conversão de investimentos que antigamente teriam ficado nas carteiras
dos investidores ou bancos até
vencerem em valores negociáveis.
Hipotecas residenciais, por exemplo, são compradas e vendidas em
ritmo furioso, hoje em dia.
"Com essas novas obrigações,
pode-se usar alavancagem maior,
porque o preço de mercado permite que se tome empréstimo
contra elas", disse Kaufman. "Isso
permite uma administração mais
intensiva desses ativos, o que cria
também uma orientação de prazo
mais curto da parte dos administradores de carteira. Assim, as
ações são compradas mais por
causa de sua próxima virada nos
preços do que de seu valor provável dentro de dez ou 20 anos."
Alguns economistas e estrategistas de mercado acreditam que
o tumulto da terça-feira confirmou uma mudança quase clandestina mas importante no quadro econômico geral. "Tivemos
tendências econômicas bem definidas até janeiro ou fevereiro deste ano", disse James Paulsen, diretor de investimento da Wells Capital Management, de Minneapolis. "Os juros estavam subindo, os
preços do petróleo também, e a
tecnologia dominava as Bolsas.
Mas essas tendências mudaram."
Paulsen diz que essas mudanças
podem indicar uma queda no
crescimento econômico mais para o final do ano. "Os mercados
vêm sugerindo que o ímpeto do
lucro e o ímpeto econômico estão
começando a desacelerar", disse.
O poder de manter preços da
maior parte das corporações está
se reduzindo, ainda que a economia esteja crescendo.
O mercado de bônus pode ter
farejado a queda iminente no
crescimento. É por isso, diz Paulsen, que os rendimentos caíram
tão rápido, apesar dos números
fortes da economia. Essa percepção poderia ajudar a explicar o excêntrico comportamento do mercado de bônus, no qual o rendimento de longo prazo está abaixo
do rendimento de curto prazo.
O que tudo isso quer dizer em
relação às ações de tecnologia é
interessante aos investidores. Afinal, essas são as ações com as
quais eles ganharam mais dinheiro recentemente.
Christine A. Callies, estrategista-chefe de Bolsa da Credit Suisse
First Boston, diz que é um caso de
amor em extinção. Na quarta-feira, ressalta ela, cerca de um terço
das ações do setor de tecnologia
estava pelo menos 50% abaixo de
seu pico em 2000. "Assim que os
operadores começam a perder dinheiro mais rápido do que ganham, o fervor especulativo morre rapidamente." Ela não espera
que as ações de tecnologia recuperem o papel de liderança nas
Bolsas por alguns trimestres.
Nem todos concordam. Jeffrey
Applegate, estrategista-chefe de
investimentos da Lehman Brothers, que se manteve otimista
-e acertou- quanto ao setor de
tecnologia nos últimos anos, diz
que a queda e o retorno da terça
representam o fundo do poço para a Nasdaq. "Tanto para a Bolsa
quanto para o setor de tecnologia,
quando temos esse tipo de volume, isso indica que chegamos ao
fundo do poço -de lá, só alta."
Ele reconhece que os investidores precisam ser mais seletivos
agora quanto às ações de tecnologia. O varejo eletrônico parece
vulnerável, diz, mas as empresas
que estão construindo infra-estrutura para a Internet devem se
manter líderes.
"As ações da velha economia
participarão, até certo ponto",
disse. "Mas, em última análise, será que a Ford tem o potencial de
crescimento real da Oracle? Não.
Este será mais um ano em que o
crescimento terá desempenho superior ao do valor", concluiu.
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