São Paulo, domingo, 09 de abril de 2000


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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Prejuízo na Internet pode dar início ao fim

GILSON SCHWARTZ
da Equipe de Articulistas

Depois de mais algumas sessões de alta instabilidade nas Bolsas, em especial no pregão da Nasdaq, as dúvidas sobre o alcance da "revolução" tecnológica em curso continuam. Um célebre analista da "nova economia", Hal Varian, tem insistido na idéia de que nada afinal é tão novo assim.
Ele dirige a "School of Information Management and Systems" da Universidade da Califórnia, em Berkeley, e é co-autor (com Carl Shapiro) de um livro cujo título, "Information Rules", dá a impressão de que as regras do jogo estão mudando.
Mas sua tese central é a de que a economia, no fundo, continua funcionando da mesma forma.
Varian insiste na tese em artigo mais recente. Tudo parece sujeito a novas regras. É uma ilusão, argumenta, pois os padrões de inovação repetem os do passado.
O principal mercado-vítima da ilusão de ótica é o da Internet. Comparada a febres anteriores (motores a vapor, telégrafos, automóveis, aviões e rádio), a revolução da Internet estaria condenada ao mesmo ciclo.
Mais importante: o investidor que conhecer os ciclos anteriores da história tecnológica terá mais condições de se antecipar e tomar a decisão correta na hora certa. Leia-se: entrar e sair do mercado, de papéis ou de empresas, a tempo de ficar com os vencedores e evitar os perdedores.
Um exemplo, entre tantos, é o da invenção do toca-discos. O produto se estabeleceu de modo impressionante em escala mundial. Mas houve vencedores e perdedores (entre os últimos, aliás, estava um dos inventores).
Hal Varian identifica cinco etapas no ciclo de qualquer inovação tecnológica: experimentação, capitalização, administração, hipercompetição e consolidação. Todos, alerta, podem ser identificados no processo revolucionário que se atribui à Internet.
No início, a invenção pode surgir em garagens. Raramente há um único inventor. Logo se multiplicam os interessados em desenvolver a nova tecnologia, cada qual tentando identificar um padrão que espera ver vitorioso em todo o mercado. Essas tentativas já não estão no território da invenção e sim no da recombinação de possibilidades de uso de inventos conhecidos (a cada dia surgem novas formas de usar os mesmos chips, computadores e redes). A inovação, nessa etapa, pode simplesmente ser um "business model", um modelo de negócios, uma forma de explorar comercialmente tecnologias conhecidas há vários anos.
Varian parece acertar nesse particular, quando se observa o que ocorre na Internet. A rede existe há muito tempo e fala-se mais em convergência de mídias como Internet, televisão e telefonia do que em invenção propriamente.
No entanto, das competições entre "business plans" às reuniões com investidores, a obsessão dirige-se a idéias sobre como afinal fazer essa coisa toda dar dinheiro e, quem sabe, até lucro. Assinaturas? Banners? Links? Pagar ao consumidor? Dar acesso gratuito?
A base tecnológica e os conteúdos são praticamente os mesmos. É na dimensão comercial e financeira que ocorre a competição autenticamente darwiniana. A seleção ocorrerá, os "melhores" (seja qual for o significado disso) vão consolidar-se. Muitos morrerão no caminho e muito dinheiro será perdido. No mercado se fala em "burn rate" (há um livro célebre com esse título). É a intensidade com que se queima capital.
Em pleno pânico na Nasdaq, na semana passada, um analista de Wall Street recordava, meio envergonhado por ter de dizer o óbvio, que "é perigoso investir em empresas que não dão, que nunca darão lucro". Mas nada é tão típico da febre de Internet quanto a empresa que não dá lucro.



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