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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Prejuízo na Internet
pode dar início ao fim
GILSON SCHWARTZ
da Equipe de Articulistas
Depois de mais algumas sessões
de alta instabilidade nas Bolsas,
em especial no pregão da Nasdaq,
as dúvidas sobre o alcance da "revolução" tecnológica em curso
continuam. Um célebre analista
da "nova economia", Hal Varian,
tem insistido na idéia de que nada
afinal é tão novo assim.
Ele dirige a "School of Information Management and Systems"
da Universidade da Califórnia,
em Berkeley, e é co-autor (com
Carl Shapiro) de um livro cujo título, "Information Rules", dá a
impressão de que as regras do jogo estão mudando.
Mas sua tese central é a de que a
economia, no fundo, continua
funcionando da mesma forma.
Varian insiste na tese em artigo
mais recente. Tudo parece sujeito
a novas regras. É uma ilusão, argumenta, pois os padrões de inovação repetem os do passado.
O principal mercado-vítima da
ilusão de ótica é o da Internet.
Comparada a febres anteriores
(motores a vapor, telégrafos, automóveis, aviões e rádio), a revolução da Internet estaria condenada ao mesmo ciclo.
Mais importante: o investidor
que conhecer os ciclos anteriores
da história tecnológica terá mais
condições de se antecipar e tomar
a decisão correta na hora certa.
Leia-se: entrar e sair do mercado,
de papéis ou de empresas, a tempo de ficar com os vencedores e
evitar os perdedores.
Um exemplo, entre tantos, é o
da invenção do toca-discos. O
produto se estabeleceu de modo
impressionante em escala mundial. Mas houve vencedores e perdedores (entre os últimos, aliás,
estava um dos inventores).
Hal Varian identifica cinco etapas no ciclo de qualquer inovação
tecnológica: experimentação, capitalização, administração, hipercompetição e consolidação. Todos, alerta, podem ser identificados no processo revolucionário
que se atribui à Internet.
No início, a invenção pode surgir em garagens. Raramente há
um único inventor. Logo se multiplicam os interessados em desenvolver a nova tecnologia, cada
qual tentando identificar um padrão que espera ver vitorioso em
todo o mercado. Essas tentativas
já não estão no território da invenção e sim no da recombinação
de possibilidades de uso de inventos conhecidos (a cada dia surgem novas formas de usar os
mesmos chips, computadores e
redes). A inovação, nessa etapa,
pode simplesmente ser um "business model", um modelo de negócios, uma forma de explorar
comercialmente tecnologias conhecidas há vários anos.
Varian parece acertar nesse particular, quando se observa o que
ocorre na Internet. A rede existe
há muito tempo e fala-se mais em
convergência de mídias como Internet, televisão e telefonia do que
em invenção propriamente.
No entanto, das competições
entre "business plans" às reuniões
com investidores, a obsessão dirige-se a idéias sobre como afinal
fazer essa coisa toda dar dinheiro
e, quem sabe, até lucro. Assinaturas? Banners? Links? Pagar ao
consumidor? Dar acesso gratuito?
A base tecnológica e os conteúdos são praticamente os mesmos.
É na dimensão comercial e financeira que ocorre a competição autenticamente darwiniana. A seleção ocorrerá, os "melhores" (seja
qual for o significado disso) vão
consolidar-se. Muitos morrerão
no caminho e muito dinheiro será
perdido. No mercado se fala em
"burn rate" (há um livro célebre
com esse título). É a intensidade
com que se queima capital.
Em pleno pânico na Nasdaq, na
semana passada, um analista de
Wall Street recordava, meio envergonhado por ter de dizer o óbvio, que "é perigoso investir em
empresas que não dão, que nunca
darão lucro". Mas nada é tão típico da febre de Internet quanto a
empresa que não dá lucro.
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