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LIGAÇÕES PERIGOSAS
Telecom Italia quer voltar ao controle da operadora; fundos crêem em rompimento de italianos com Opportunity
Sócios voltam a negociar controle da BrT
JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
A maior disputa societária brasileira, o desenho de comando da
Brasil Telecom, começa a ter novo
capítulo. Os quatro atores desse
enredo -Citigroup, fundos de
pensão, Telecom Italia e Opportunity- voltaram a conversar.
Oficialmente, todos negam a retomada das negociações. A Folha
apurou, porém, que a intenção é
definir o destino da BrT ainda
neste semestre. Isso significa decidir se os italianos compram o
controle ou vendem suas ações.
Para que a resposta surja, vários
nós precisam ser desfeitos. O primeiro, e decisivo, é a volta da Telecom Italia ao bloco de controle
da BrT, de onde está afastada há
mais de três anos.
Nas últimas conversas, conduzidas em segredo e nem sempre
com a presença de todos, a Telecom Italia informou que seu retorno ao bloco é condição para
novo lance pela companhia. Os
fundos de pensão discordam da
idéia. O Citi quer só uma solução
rápida para o impasse, segundo
participantes das conversas.
O argumento usado pela Telecom Italia é o de ser a sócia com
experiência na área de teles. A
reintegração ao controle, dizem
os italianos, também serve para
provar que os outros acionistas
não pretendem trazer outra operadora para dentro da Brasil Telecom.
Os fundos de pensão consideram, por sua vez, que permitir o
reingresso da Telecom Italia ao
bloco de controle da BrT enfraquece as próprias condições de
negociar um bom preço pelas
ações que detêm na operadora.
Acordos intrincados
Além da Telecom Italia no bloco
de controle, o resultado das conversas passa por três acordos
complicados. O primeiro deles,
firmado entre Citi e fundos, é chamado "put". Prevê que, se não
aparecer um comprador para a
BrT aprovado por ambos até
2007, os fundos ficarão com a fatia
do Citi na BrT por R$ 1 bilhão.
Esse valor, de acordo com especialistas, está cerca de três vezes
acima do que as ações valem no
mercado. Os fundos contra-argumentam que o acordo garantiu a
eles negociar na mesma situação
que o Citi e que o banco só pode
vender suas ações na BrT com as
das fundações.
Os italianos se recusam a pagar
valor equivalente ao do acordo
"put". Pessoas presentes aos diálogos relataram que o ideal para a
Telecom Italia seria comprar apenas a parte do Citi na BrT, de preferência por um valor menor,
manter os fundos de pensão como sócios e afastar definitivamente o Opportunity da BrT.
Tal cenário só é possível se o
"put" for desfeito. Por isso, a revisão dos termos do acordo "put"
foi cogitada, mas há dificuldade
em ver a hipótese prosperar, por
conta do desgaste que fundos de
pensão e Citi sofreriam. Os dois
passaram o último ano defendendo o acordo com unhas e dentes.
O segundo pacto que interfere
nas negociações da BrT foi selado
entre Telecom Italia e Opportunity. Por ele, italianos compraram
as ações de Dantas (também por
um valor tido como alto pelos especialistas em teles, com as ações
cotadas mais de duas vezes acima
do mercado).
O pagamento ao Opportunity
ainda não foi efetivado, porque há
cláusulas que condicionam a quitação ao fato de a Telecom Italia
conseguir mandar na BrT.
Assim, os fundos e o Citi contam com a possibilidade de os italianos desistirem de levar a cabo a
compra das ações do Opportunity
e adquirirem, numa só tacada, as
partes das fundações e do banco
na BrT. Conforme o contrato, isso
seria possível a partir do dia 28.
Fontes próximas ao presidente
mundial da Telecom Italia, Marco
Tronchetti Provera, não descartam nenhuma alternativa para a
BrT -inclusive a suspensão do
acerto com o Opportunity ou a
venda das ações da Telecom Italia
para os fundos. Divergem, contudo, sobre qual caminho será trilhado. Uma das fontes acha pouco provável que Provera dê uma
guinada em relação ao que foi
combinado. Ele não teria interesse de reavivar disputas judiciais
com o Opportunity depois de ter
pago US$ 65 milhões para liquidá-las. Estaria disposto a manter a
palavra empenhada e considera
que o acordo é uma trava que impede golpes dos fundos e do Citi.
Outra fonte, contudo, avalia que
o comando da Telecom Italia está
dividido. Parte dos executivos
acha que a empresa sofreu desgaste de imagem por conta da associação com o Opportunity.
O terceiro acordo decisivo é o
chamado "guarda-chuva", ou
"umbrella", em inglês. Esse documento garante ao Opportunity a
gestão dos três fundos de investimentos que comandam a Brasil
Telecom e está sendo contestado
na Justiça pelos fundos de pensão.
Guerra jurídica
A validade do acordo "guarda-chuva" depende de dois processos. Um corre no Rio de Janeiro e
outro em Nova York.
No processo brasileiro, os fundos de pensão sustentam que o
acordo "guarda-chuva" é inválido
porque o Opportunity o assinou
em nome de três sócios -ele próprio, as fundações e o Citi. O Opportunity rebate dizendo que tinha procuração para tanto.
O acordo "guarda-chuva" está
suspenso, mas há uma chance de
ser restabelecido na próxima terça-feira. Se isso acontecer, o Opportunity poderia reassumir,
mesmo que temporariamente, o
controle da BrT, interferindo no
rumo das negociações.
O acordo "guarda-chuva" pode
voltar a valer porque a liminar
que o suspendeu está sendo questionada. A liminar foi assinada
pela juíza Márcia Cunha, da 2ª
Vara Empresarial fluminense. O
Ministério Público e o Conselho
da Magistratura do Tribunal de
Justiça do Rio de Janeiro, porém,
consideraram indícios de que a
sentença não foi escrita por ela.
Em junho, o Órgão Especial do
tribunal deverá avaliar a atuação
da magistrada. A sessão, antes, estava prevista para ocorrer até a
próxima sexta.
A juíza se defendeu das suspeitas e negou a participação de terceiros na elaboração da liminar.
No mês passado, afastou-se do caso BrT. Julgou-se impedida de
emitir novas opiniões sobre o
acordo "guarda-chuva".
Segundo Márcia Cunha, a decisão foi motivada porque ela não
tem forças para enfrentar o Opportunity. Acusou o grupo de disseminar calúnias, fazer ameaças a
familiares e tentar corrompê-la.
As acusações da juíza não encontraram respaldo do Ministério
Público e da polícia. Ambos consideraram não existir provas contra o Opportunity.
O acordo "guarda-chuva" é alvo
também do processo movido pelo Citigroup contra o Opportunity em Nova York. O caso está
sob a responsabilidade do juiz Lewis Kaplan. Ele determinou que
decisões do Opportunity como
gestor dos fundos controladores
da BrT, inclusive o acordo "guarda-chuva", fossem suspensas.
Na ação que corre em Nova
York, o Citi pede ao Opportunity
indenização de US$ 300 milhões.
Acusa o grupo de chantagem,
fraude, negligência, conduta profissional indevida e quebra de
contrato. O Opportunity, por seu
turno, luta para provar que sua
atuação foi correta e que os ataques do Citi acontecem porque o
banco rendeu-se à pressão dos
fundos de pensão e do governo federal para afastá-lo do negócios.
A Folha apurou que os advogados do Opportunity trabalham
em um documento, destinado ao
juiz Kaplan, propondo que o Citi
assuma, segundo as normas do
acordo "guarda-chuva", a gestão
dos fundos controladores da BrT
- inclusive o do Opportunity.
O processo de Nova York chegou a uma parte crucial. Pela lei
americana, as partes têm acesso a
todos os documentos relativos à
questão judicial em poder do
oponente. Correspondências internas do Citi e do Opportunity
começaram a ser esquadrinhadas.
É a certeza de novos e apimentados capítulos da disputa pela BrT.
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