|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Receita de commodities ajuda a conter queda do saldo comercial
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
O saldo da balança comercial
começou o ano patinando. Mas
a safra recorde de grãos e de cana, que começa a ser exportada
agora, reduzirá o ritmo de queda do superávit, dando algum
alívio às contas externas, um
dos setores mais vulneráveis da
economia brasileira.
Se os próximos dois quadrimestres repetirem o saldo do
primeiro, o saldo do ano ficará
em apenas US$ 13,7 bilhões, valor muito baixo se comparado
aos US$ 40 bilhões de 2007.
"A esperança são as commodities, tanto as agropecuárias
como as minerais. As quantidades exportadas são maiores, e
os preços vêm engordados." A
avaliação é de Júlio Gomes de
Almeida, consultor do Iedi
(Instituto de Estudos para o
Desenvolvimento Industrial).
"É líquido e certo que vamos
ter redução do saldo, devido ao
déficit do setor de manufaturados. A única coisa que pode fazer esses US$ 13,7 bilhões se
transformarem em US$ 20 bilhões é o agronegócio e os produtos minerais", diz Almeida.
As estimativas do levantamento Focus, do Banco Central, indicam US$ 25 bilhões de
saldo para este ano. "Seria um
valor excepcional", diz Almeida, ao analisar os dados da pesquisa feita pelo BC no mercado.
Victor Abou Nehmi Filho, da
Sparta, administradora de fundos de investimento, diz que as
exportações do agronegócio
devem atingir US$ 73 bilhões
no ano, mas que o saldo final ficará próximo de US$ 20 bilhões
devido à alta das importações.
Peso dos grãos
As exportações do complexo
soja -grãos, farelo e óleo- se
concentram basicamente de
maio a agosto, quando o país
desova perto de 40% das exportações previstas para o ano.
"É certo que a entrada de dólares com a soja será maior neste ano do que em 2007. Os preços externos estão acima dos do
ano passado, mas o quanto virá
a mais de receitas ainda é dúvida", segundo Anderson Galvão,
da consultoria Céleres.
O analista José Pitoli concorda com Galvão e diz que os números não virão tanto dos volumes, mas dos preços, que estão
elevados. Para ele, o Brasil traz
US$ 12 bilhões nos próximos
meses só com o complexo soja
(as estimativas são de US$ 16,5
bilhões a US$ 20 bilhões para o
ano todo).
O café também começa a trazer mais dólares. Julho e agosto
são os meses de maior pico nas
exportações, segundo Guilherme Braga, do Cecafé -que reúne os exportadores. As exportações continuam por todo o segundo semestre.
As receitas ficam acima das
de 2007, e podem atingir US$
4,4 bilhões neste ano. Na avaliação de Braga, os preços não
estão cedendo, apesar de o Brasil, líder mundial, ter produção
maior neste ano. As exportações devem ficar entre 15 milhões e 16 milhões de sacas só
no segundo semestre.
O agronegócio brasileiro recebe, ainda, boa injeção de dólares do milho, produto que começa a ganhar força nas exportações. Em 2007, saíram 11 milhões de toneladas do país. Neste ano, o volume pode superar
12 milhões de toneladas.
Com volume maior e preços
melhores, as receitas devem
atingir US$ 2,5 bilhões, na avaliação de Leonardo Sologuren,
da Céleres. O preço médio do
milho no primeiro quadrimestre esteve em US$ 205 por tonelada, 39% mais do que em
igual período de 2007. As exportações se concentram mais
no segundo semestre.
No segundo semestre, a balança comercial recebe o reforço, ainda, do suco de laranja.
Com o atraso da safra, os embarques devem se acentuar a
partir de agosto. O ritmo das
exportações vai depender dos
preços, que estão ruins. Maurício Mendes, presidente da
AgraFNP, diz, no entanto, que
as receitas deste ano não devem ser muito diferentes das
de 2007 (US$ 2,3 bilhões).
"Apesar de o preço do suco
ter caído, o volume exportado
com maior valor agregado vem
aumentando, o que compensa
um pouco a redução dos preços", afirma Mendes.
Já o açúcar apresenta cenário um pouco mais complicado
do que as demais commodities,
concordam Fábio Barros, da
AgraFNP, e Rodrigo Martini,
da FCStone. Para Nehmi Filho,
no entanto, os preços estão baixos, mas 60% da safra brasileira
já foi fixada de 12 centavos a
12,5 centavos de dólar por libra-peso. Com isso, as receitas
do setor sucroalcooleiro devem
atingir US$ 8 bilhões, superando as de 2007.
A balança receberá, ainda,
boa cooperação do setor de carnes, que, apesar de embargos e
da redução no volume exportado, obtém receitas maiores devido à alta de preços. Na avaliação de Nehmi, esse setor pode
render US$ 13,6 bilhões.
Texto Anterior: Vinicius Torres Freire: O pior da crise passou para quem? Próximo Texto: Cana passa a ser 2ª principal fonte de energia do Brasil Índice
|