São Paulo, sexta-feira, 09 de maio de 2008

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Receita de commodities ajuda a conter queda do saldo comercial

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

O saldo da balança comercial começou o ano patinando. Mas a safra recorde de grãos e de cana, que começa a ser exportada agora, reduzirá o ritmo de queda do superávit, dando algum alívio às contas externas, um dos setores mais vulneráveis da economia brasileira.
Se os próximos dois quadrimestres repetirem o saldo do primeiro, o saldo do ano ficará em apenas US$ 13,7 bilhões, valor muito baixo se comparado aos US$ 40 bilhões de 2007.
"A esperança são as commodities, tanto as agropecuárias como as minerais. As quantidades exportadas são maiores, e os preços vêm engordados." A avaliação é de Júlio Gomes de Almeida, consultor do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
"É líquido e certo que vamos ter redução do saldo, devido ao déficit do setor de manufaturados. A única coisa que pode fazer esses US$ 13,7 bilhões se transformarem em US$ 20 bilhões é o agronegócio e os produtos minerais", diz Almeida.
As estimativas do levantamento Focus, do Banco Central, indicam US$ 25 bilhões de saldo para este ano. "Seria um valor excepcional", diz Almeida, ao analisar os dados da pesquisa feita pelo BC no mercado.
Victor Abou Nehmi Filho, da Sparta, administradora de fundos de investimento, diz que as exportações do agronegócio devem atingir US$ 73 bilhões no ano, mas que o saldo final ficará próximo de US$ 20 bilhões devido à alta das importações.

Peso dos grãos
As exportações do complexo soja -grãos, farelo e óleo- se concentram basicamente de maio a agosto, quando o país desova perto de 40% das exportações previstas para o ano.
"É certo que a entrada de dólares com a soja será maior neste ano do que em 2007. Os preços externos estão acima dos do ano passado, mas o quanto virá a mais de receitas ainda é dúvida", segundo Anderson Galvão, da consultoria Céleres.
O analista José Pitoli concorda com Galvão e diz que os números não virão tanto dos volumes, mas dos preços, que estão elevados. Para ele, o Brasil traz US$ 12 bilhões nos próximos meses só com o complexo soja (as estimativas são de US$ 16,5 bilhões a US$ 20 bilhões para o ano todo).
O café também começa a trazer mais dólares. Julho e agosto são os meses de maior pico nas exportações, segundo Guilherme Braga, do Cecafé -que reúne os exportadores. As exportações continuam por todo o segundo semestre.
As receitas ficam acima das de 2007, e podem atingir US$ 4,4 bilhões neste ano. Na avaliação de Braga, os preços não estão cedendo, apesar de o Brasil, líder mundial, ter produção maior neste ano. As exportações devem ficar entre 15 milhões e 16 milhões de sacas só no segundo semestre.
O agronegócio brasileiro recebe, ainda, boa injeção de dólares do milho, produto que começa a ganhar força nas exportações. Em 2007, saíram 11 milhões de toneladas do país. Neste ano, o volume pode superar 12 milhões de toneladas.
Com volume maior e preços melhores, as receitas devem atingir US$ 2,5 bilhões, na avaliação de Leonardo Sologuren, da Céleres. O preço médio do milho no primeiro quadrimestre esteve em US$ 205 por tonelada, 39% mais do que em igual período de 2007. As exportações se concentram mais no segundo semestre.
No segundo semestre, a balança comercial recebe o reforço, ainda, do suco de laranja. Com o atraso da safra, os embarques devem se acentuar a partir de agosto. O ritmo das exportações vai depender dos preços, que estão ruins. Maurício Mendes, presidente da AgraFNP, diz, no entanto, que as receitas deste ano não devem ser muito diferentes das de 2007 (US$ 2,3 bilhões).
"Apesar de o preço do suco ter caído, o volume exportado com maior valor agregado vem aumentando, o que compensa um pouco a redução dos preços", afirma Mendes.
Já o açúcar apresenta cenário um pouco mais complicado do que as demais commodities, concordam Fábio Barros, da AgraFNP, e Rodrigo Martini, da FCStone. Para Nehmi Filho, no entanto, os preços estão baixos, mas 60% da safra brasileira já foi fixada de 12 centavos a 12,5 centavos de dólar por libra-peso. Com isso, as receitas do setor sucroalcooleiro devem atingir US$ 8 bilhões, superando as de 2007.
A balança receberá, ainda, boa cooperação do setor de carnes, que, apesar de embargos e da redução no volume exportado, obtém receitas maiores devido à alta de preços. Na avaliação de Nehmi, esse setor pode render US$ 13,6 bilhões.


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