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Brasil conquista mercado na Bolsa de NY
Média diária de negócios com papéis brasileiros em maio foi de US$ 3,8 bilhões, só atrás de americanos e canadenses
Vice-presidente da Bolsa nova-iorquina afirma que progressos do país e melhor governança explicam interesse por empresas
DA REPORTAGEM LOCAL
As empresas brasileiras já figuram entre as mais negociadas na Bolsa de Nova York: só
perdem, claro, para as transações com as próprias companhias americanas e rivalizam
com as canadenses, segundo
Noreen Culhane, vice-presidente da Bolsa de Nova York.
Em maio, a média diária de
negócios com papéis brasileiros na Bolsa de Nova York foi
de US$ 3,8 bilhões. Ficou atrás
da média canadense, de US$ 5,6
bilhões, e à frente da chinesa
(US$ 1,7 bilhão) e da britânica
(US$ 1,7 bilhão).
Responsável pela negociação
de papéis estrangeiros, Culhane diz que o dinheiro em Wall
Street não tem pátria e que o
Brasil oferece uma das melhores oportunidades para o investidor pegar uma carona no bom
momento vivido pelos países
emergentes.
Para ela, mais do que o "investment grade", o reconhecimento do Brasil se deve ao investimento das empresas em transparência e boa governança, além da estabilidade e dos
avanços políticos recentes do
país, condições para que se
transforme em uma potência
mundial. Afirma que não vê na
BM&F Bovespa uma concorrente, e, sim, uma parceira -a
Bolsa de NY comprou 1% da
Bovespa, com quem troca tecnologia e aprendizado.
Leia a seguir trechos da entrevista que a executiva concedeu à Folha.
(TONI SCIARRETTA)
FOLHA - No mês passado, ficamos
sabendo que a Bolsa de NY já negocia US$ 4 bilhões diários com empresas brasileiras, enquanto a Bovespa
só gira US$ 3,5 bilhões. Por que os investidores preferem negociar papéis brasileiros em NY?
NOREEN CULHANE - Há um apetite enorme entre os investidores americanos por papéis brasileiros. Temos uma história longa de investimento e há
muito dinheiro aqui interessado em diversificação. Esse investidor pretende buscar oportunidades de retorno fora dos EUA, especificamente em economias com grande potencial
de crescimento, como Índia,
China e Brasil. Quando uma
empresa é listada aqui é mais
fácil para o investidor americano do que no Brasil.
FOLHA - Qual importância dos papéis brasileiros para a Bolsa de NY?
CULHANE - Devido à estabilidade e aos avanços econômicos e
políticos, o Brasil está se tornando uma potência econômica global. O Brasil abre uma
oportunidade aos investidores
de participarem [desse momento] por meio da negociação
de ADRs [recibo de ações estrangeiras]. Vimos um crescimento tremendo nos negócios
com as 32 companhias brasileiras negociadas aqui, que atingiram US$ 4 bilhões diários em
maio. É um valor significativo
para o nosso mercado [de US$
100 bilhões diários]. Isso faz do
Brasil um dos nossos maiores
parceiros. Vale e Petrobras são
tão negociadas quanto a Exxon
Mobil.
FOLHA - Além da estabilidade,
quais avanços determinaram a conquista desse mercado?
CULHANE - Para terem suas
ações negociadas aqui, as empresas têm de cumprir exigências [contábeis e de transparência] feitas pelas autoridades dos EUA. Desde 1992, quando
chegou a primeira companhia
brasileira [a Telebrás], já havia
um respeito alto à transparência. Atender a elevados níveis
de governança e de transparência trouxe valor para essas empresas e diminuiu seus custos
de financiamento. Esse alto padrão [de transparência], trazido também pelo Novo Mercado
[da Bovespa], permitiu o aumento do número de IPOs
[aberturas de capital] no Brasil.
As empresas que focaram em
governança e transparência foram recompensadas.
FOLHA - A Bovespa e a BM&F acabam de se fundir. Uma Bolsa forte
no Brasil aumenta a concorrência
com a Bolsa de NY?
CULHANE - A fusão da BM&F e
da Bovespa passa a mensagem
de que o Brasil encontrou uma
oportunidade de alcançar uma
posição de liderança global nesse mercado. Temos um relacionamento excelente com ambas
as Bolsas, que envolve várias
parcerias, como tecnologia de
negociação e de aprendizado.
FOLHA - Então as Bolsas não competem pelos mesmos negócios?
CULHANE - Quando vemos empresas listadas no Brasil e em
NY temos a impressão de que
os valores aumentam em ambos os mercados. Por exemplo,
a TAM, quando estava só na Bovespa, tinha negócios de US$ 8
milhões por dia. Depois que entrou na Bolsa de NY, o volume
na Bovespa subiu para US$ 20
milhões diários e ainda somou
mais US$ 25 milhões em NY
-passou de US$ 8 milhões para
US$ 45 milhões. Aconteceu o
mesmo com a Gafisa.
FOLHA - Como fica a consolidação
das Bolsas no mundo?
CULHANE - Como em várias indústrias, a consolidação e a globalização dão oportunidade para ganhar escala e estreitar o
caminho que o investidor tinha
para obter o melhor retorno.
Em nossa fusão com a Euronext, procuramos virar uma
Bolsa global, que atua em vários
negócios -ações, opções, futuros, títulos, índices etc. A Bovespa e a BM&F estão fazendo
o mesmo na América Latina.
No futuro, provavelmente vamos ver cinco ou seis Bolsas
globais atuando em negócios
diversificados. Teremos uma
classe média emergente na
Ásia, na América Latina e no
Leste Europeu demandando
novos produtos e serviços. Isso
cria espaço para vários desses
mercados darem certo. Creio
que em algum tempo as Bolsas
vão trabalhar mais em parceria
do que em competição.
FOLHA - Como a crise pode afetar a
expansão do mercado brasileiro?
CULHANE - Tivemos uma diminuição das IPOs em todo o
mundo. O número de IPOs caiu
de 461 no primeiro trimestre
do ano passado para 261 no primeiro trimestre deste ano por
causa dessa crise, além da escalada no preço do petróleo, da
volatilidade exacerbada e do
aumento das incertezas. A crise
está focada nos serviços financeiros, mas atinge de alguma
forma todos os outros setores.
Vemos isso na temporada de
divulgação de resultados.
FOLHA - Há uma "bolha" nos mercados emergentes originária dos altos preços das commodities?
CULHANE - Não sou economista,
mas digo que o mercado de
commodities está muito flexível. Se você olhar para a infra-estrutura criada nos mercados
emergentes da Ásia, na América Latina e no Leste Europeu
verá que há um crescimento
extraordinário e que não vai
parar. A necessidade de produtos agrícolas e alimentos -e o
Brasil é um dos maiores exportadores- vai continuar. Os países nessa posição seguirão se
beneficiando dessa situação.
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