São Paulo, segunda-feira, 09 de junho de 2008

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Brasil conquista mercado na Bolsa de NY

Média diária de negócios com papéis brasileiros em maio foi de US$ 3,8 bilhões, só atrás de americanos e canadenses

Vice-presidente da Bolsa nova-iorquina afirma que progressos do país e melhor governança explicam interesse por empresas

DA REPORTAGEM LOCAL

As empresas brasileiras já figuram entre as mais negociadas na Bolsa de Nova York: só perdem, claro, para as transações com as próprias companhias americanas e rivalizam com as canadenses, segundo Noreen Culhane, vice-presidente da Bolsa de Nova York.
Em maio, a média diária de negócios com papéis brasileiros na Bolsa de Nova York foi de US$ 3,8 bilhões. Ficou atrás da média canadense, de US$ 5,6 bilhões, e à frente da chinesa (US$ 1,7 bilhão) e da britânica (US$ 1,7 bilhão).
Responsável pela negociação de papéis estrangeiros, Culhane diz que o dinheiro em Wall Street não tem pátria e que o Brasil oferece uma das melhores oportunidades para o investidor pegar uma carona no bom momento vivido pelos países emergentes.
Para ela, mais do que o "investment grade", o reconhecimento do Brasil se deve ao investimento das empresas em transparência e boa governança, além da estabilidade e dos avanços políticos recentes do país, condições para que se transforme em uma potência mundial. Afirma que não vê na BM&F Bovespa uma concorrente, e, sim, uma parceira -a Bolsa de NY comprou 1% da Bovespa, com quem troca tecnologia e aprendizado.
Leia a seguir trechos da entrevista que a executiva concedeu à Folha. (TONI SCIARRETTA)  

FOLHA - No mês passado, ficamos sabendo que a Bolsa de NY já negocia US$ 4 bilhões diários com empresas brasileiras, enquanto a Bovespa só gira US$ 3,5 bilhões. Por que os investidores preferem negociar papéis brasileiros em NY?
NOREEN CULHANE
- Há um apetite enorme entre os investidores americanos por papéis brasileiros. Temos uma história longa de investimento e há muito dinheiro aqui interessado em diversificação. Esse investidor pretende buscar oportunidades de retorno fora dos EUA, especificamente em economias com grande potencial de crescimento, como Índia, China e Brasil. Quando uma empresa é listada aqui é mais fácil para o investidor americano do que no Brasil.

FOLHA - Qual importância dos papéis brasileiros para a Bolsa de NY?
CULHANE
- Devido à estabilidade e aos avanços econômicos e políticos, o Brasil está se tornando uma potência econômica global. O Brasil abre uma oportunidade aos investidores de participarem [desse momento] por meio da negociação de ADRs [recibo de ações estrangeiras]. Vimos um crescimento tremendo nos negócios com as 32 companhias brasileiras negociadas aqui, que atingiram US$ 4 bilhões diários em maio. É um valor significativo para o nosso mercado [de US$ 100 bilhões diários]. Isso faz do Brasil um dos nossos maiores parceiros. Vale e Petrobras são tão negociadas quanto a Exxon Mobil.

FOLHA - Além da estabilidade, quais avanços determinaram a conquista desse mercado?
CULHANE
- Para terem suas ações negociadas aqui, as empresas têm de cumprir exigências [contábeis e de transparência] feitas pelas autoridades dos EUA. Desde 1992, quando chegou a primeira companhia brasileira [a Telebrás], já havia um respeito alto à transparência. Atender a elevados níveis de governança e de transparência trouxe valor para essas empresas e diminuiu seus custos de financiamento. Esse alto padrão [de transparência], trazido também pelo Novo Mercado [da Bovespa], permitiu o aumento do número de IPOs [aberturas de capital] no Brasil. As empresas que focaram em governança e transparência foram recompensadas.

FOLHA - A Bovespa e a BM&F acabam de se fundir. Uma Bolsa forte no Brasil aumenta a concorrência com a Bolsa de NY?
CULHANE
- A fusão da BM&F e da Bovespa passa a mensagem de que o Brasil encontrou uma oportunidade de alcançar uma posição de liderança global nesse mercado. Temos um relacionamento excelente com ambas as Bolsas, que envolve várias parcerias, como tecnologia de negociação e de aprendizado.

FOLHA - Então as Bolsas não competem pelos mesmos negócios?
CULHANE
- Quando vemos empresas listadas no Brasil e em NY temos a impressão de que os valores aumentam em ambos os mercados. Por exemplo, a TAM, quando estava só na Bovespa, tinha negócios de US$ 8 milhões por dia. Depois que entrou na Bolsa de NY, o volume na Bovespa subiu para US$ 20 milhões diários e ainda somou mais US$ 25 milhões em NY -passou de US$ 8 milhões para US$ 45 milhões. Aconteceu o mesmo com a Gafisa.

FOLHA - Como fica a consolidação das Bolsas no mundo?
CULHANE
- Como em várias indústrias, a consolidação e a globalização dão oportunidade para ganhar escala e estreitar o caminho que o investidor tinha para obter o melhor retorno. Em nossa fusão com a Euronext, procuramos virar uma Bolsa global, que atua em vários negócios -ações, opções, futuros, títulos, índices etc. A Bovespa e a BM&F estão fazendo o mesmo na América Latina.
No futuro, provavelmente vamos ver cinco ou seis Bolsas globais atuando em negócios diversificados. Teremos uma classe média emergente na Ásia, na América Latina e no Leste Europeu demandando novos produtos e serviços. Isso cria espaço para vários desses mercados darem certo. Creio que em algum tempo as Bolsas vão trabalhar mais em parceria do que em competição.

FOLHA - Como a crise pode afetar a expansão do mercado brasileiro?
CULHANE
- Tivemos uma diminuição das IPOs em todo o mundo. O número de IPOs caiu de 461 no primeiro trimestre do ano passado para 261 no primeiro trimestre deste ano por causa dessa crise, além da escalada no preço do petróleo, da volatilidade exacerbada e do aumento das incertezas. A crise está focada nos serviços financeiros, mas atinge de alguma forma todos os outros setores. Vemos isso na temporada de divulgação de resultados.

FOLHA - Há uma "bolha" nos mercados emergentes originária dos altos preços das commodities?
CULHANE
- Não sou economista, mas digo que o mercado de commodities está muito flexível. Se você olhar para a infra-estrutura criada nos mercados emergentes da Ásia, na América Latina e no Leste Europeu verá que há um crescimento extraordinário e que não vai parar. A necessidade de produtos agrícolas e alimentos -e o Brasil é um dos maiores exportadores- vai continuar. Os países nessa posição seguirão se beneficiando dessa situação.


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