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TRABALHO
Sexo feminino só é maioria na administração pública, mas, mesmo assim, ganha menos, diz estudo patrocinado pela ONU
Mercado formal também segrega mulher
LUIZ CAVERSAN
DA REPORTAGEM LOCAL
A idéia de que a mão-de-obra
feminina não consegue competir
com a masculina -tanto em número de empregos quanto em remuneração- porque se concentra prioritariamente no mercado
informal, sobretudo no doméstico, não corresponde à realidade.
A conclusão é de um estudo realizado por um jovem economista
do Pnud (Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento),
que atua em um convênio patrocinado por esse órgão da ONU
(Organização das Nações Unidas)
e pelo BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social).
O trabalho do economista Marcelo Ikeda, 22, formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, abrange apenas o mercado
formal de emprego e demonstra
que as mulheres ocupam menos
postos de trabalho e ganham menos que os homens, "mesmo que
se trate de um setor específico e
dentro da mesma faixa de escolaridade".
A exceção fica por conta do setor público, "o único em que o número de mulheres supera o de homens e a qualidade do emprego é
claramente superior à dos demais
setores".
Ikeda teve como fonte de informação um banco de dados fidedigno e abrangente: a Rais (Relação Anual de Informações Sociais), documento que as empresas devem obrigatoriamente fornecer ao Ministério do Trabalho e
Emprego e que contém informações completas sobre cada um
dos trabalhadores de cada uma
dessas empresas.
Assim, de um universo de 24,1
milhões de trabalhadores relacionados na Rais de 97 (o ano mais
recente disponibilizado pelo governo, segundo o pesquisador),
Ikeda pôde separar os empregos
de homens e mulheres em categorias como setor de atuação, remuneração, nível de instrução e fazer
a inter-relação entre elas.
"O meu ponto de partida foi
tentar desmistificar a idéia de que
a precariedade do mercado de
trabalho feminino em relação ao
masculino se justifica pela concentração de mulheres no mercado informal, principalmente em
funções domésticas", diz Ikeda.
De fato, segundo os dados apurados, não é isso o que acontece.
Do total de trabalhadores
abrangidos pela Rais, as mulheres
respondem por apenas 38% dos
empregos, num total de 9,1 milhões de trabalhadoras em vários
setores (serviços, administração
pública, comércio, indústria de
transformação e outros).
Em apenas um deles, o de administração pública, as mulheres são
maioria: 56,2%, contra 43,8% de
homens. Em todos os demais setores o sexo feminino é minoria:
na indústria de transformação as
mulheres são 26,5%; no comércio, 36,1%; serviços, 42,2%.
Desigualdades
A tese de Ikeda de que existe a
"segregação por gênero" no mercado formal de trabalho fica clara
quando se constata que, mesmo
no setor em que é maioria (administração pública), a mulher ganha menos que o homem: a maior
parte das empregadas nesse setor
recebe por mês até três salários
mínimos (44,6%), enquanto apenas 11,7% ganham mais de dez.
No universo masculino, a ordem é inversa: 29,4% ganham até
três salários mínimos mensais e
18,2%, mais de dez.
Na faixa intermediária (mais de
três e menos de 10 salários), os homens são 52,4% e as mulheres,
43,7%.
A diferença fica ainda mais gritante quando se cruza, como fez
Ikeda, os números relativos aos
salários com os que dizem respeito ao grau de instrução.
Veja o exemplo dos empregados do comércio: enquanto os homens com o curso superior completo que ganham mais de dez salários mínimos somam 50,5%, as
mulheres na mesma situação
atingem apenas 20,4%. Ou seja,
menos da metade.
Veja agora os números do setor
em que as mulheres são maioria,
o da administração pública: homens com curso superior completo que ganham mais de dez mínimos: 52,4%; mulheres na mesma situação: 29,9%. Pouco menos
da metade. A desigualdade se repete em todos os setores.
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