São Paulo, domingo, 09 de julho de 2000


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TRABALHO
Sexo feminino só é maioria na administração pública, mas, mesmo assim, ganha menos, diz estudo patrocinado pela ONU
Mercado formal também segrega mulher

LUIZ CAVERSAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A idéia de que a mão-de-obra feminina não consegue competir com a masculina -tanto em número de empregos quanto em remuneração- porque se concentra prioritariamente no mercado informal, sobretudo no doméstico, não corresponde à realidade.
A conclusão é de um estudo realizado por um jovem economista do Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), que atua em um convênio patrocinado por esse órgão da ONU (Organização das Nações Unidas) e pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
O trabalho do economista Marcelo Ikeda, 22, formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, abrange apenas o mercado formal de emprego e demonstra que as mulheres ocupam menos postos de trabalho e ganham menos que os homens, "mesmo que se trate de um setor específico e dentro da mesma faixa de escolaridade".
A exceção fica por conta do setor público, "o único em que o número de mulheres supera o de homens e a qualidade do emprego é claramente superior à dos demais setores".
Ikeda teve como fonte de informação um banco de dados fidedigno e abrangente: a Rais (Relação Anual de Informações Sociais), documento que as empresas devem obrigatoriamente fornecer ao Ministério do Trabalho e Emprego e que contém informações completas sobre cada um dos trabalhadores de cada uma dessas empresas.
Assim, de um universo de 24,1 milhões de trabalhadores relacionados na Rais de 97 (o ano mais recente disponibilizado pelo governo, segundo o pesquisador), Ikeda pôde separar os empregos de homens e mulheres em categorias como setor de atuação, remuneração, nível de instrução e fazer a inter-relação entre elas.
"O meu ponto de partida foi tentar desmistificar a idéia de que a precariedade do mercado de trabalho feminino em relação ao masculino se justifica pela concentração de mulheres no mercado informal, principalmente em funções domésticas", diz Ikeda.
De fato, segundo os dados apurados, não é isso o que acontece.
Do total de trabalhadores abrangidos pela Rais, as mulheres respondem por apenas 38% dos empregos, num total de 9,1 milhões de trabalhadoras em vários setores (serviços, administração pública, comércio, indústria de transformação e outros).
Em apenas um deles, o de administração pública, as mulheres são maioria: 56,2%, contra 43,8% de homens. Em todos os demais setores o sexo feminino é minoria: na indústria de transformação as mulheres são 26,5%; no comércio, 36,1%; serviços, 42,2%.

Desigualdades
A tese de Ikeda de que existe a "segregação por gênero" no mercado formal de trabalho fica clara quando se constata que, mesmo no setor em que é maioria (administração pública), a mulher ganha menos que o homem: a maior parte das empregadas nesse setor recebe por mês até três salários mínimos (44,6%), enquanto apenas 11,7% ganham mais de dez.
No universo masculino, a ordem é inversa: 29,4% ganham até três salários mínimos mensais e 18,2%, mais de dez.
Na faixa intermediária (mais de três e menos de 10 salários), os homens são 52,4% e as mulheres, 43,7%.
A diferença fica ainda mais gritante quando se cruza, como fez Ikeda, os números relativos aos salários com os que dizem respeito ao grau de instrução.
Veja o exemplo dos empregados do comércio: enquanto os homens com o curso superior completo que ganham mais de dez salários mínimos somam 50,5%, as mulheres na mesma situação atingem apenas 20,4%. Ou seja, menos da metade.
Veja agora os números do setor em que as mulheres são maioria, o da administração pública: homens com curso superior completo que ganham mais de dez mínimos: 52,4%; mulheres na mesma situação: 29,9%. Pouco menos da metade. A desigualdade se repete em todos os setores.


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