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Nacionalismo do
banco é eficiente e
eficaz, diz Lessa
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
O presidente do BNDES, Carlos
Lessa, 67, considerou inconsistente o fato de a agência Fitch
Atlantic ter rebaixado o "rating"
do banco. Segundo ele, a nota da
agência foi reflexo da acusações
de ineficiência ao qual o banco é
acusado por parte da mídia ou da
sociedade. "Fizemos do BNDES
uma instituição muito mais eficiente do que a que nós recebemos", afirmou. Ele acha que a política nacionalista e desenvolvimentista do banco contraria muitos interesses. "Servir os interesses nacionais numa visão moderna pode ser muito eficiente e muito eficaz." A seguir, trechos de entrevista concedida à Folha:
Folha - Por que a Fitch Atlantic rebaixou a nota do banco?
Carlos Lessa - O BNDES é hoje
uma organização que melhorou a
eficiência de uma maneira impressionante. Pelos critérios de
gestão empresarial, o BNDES está
com um desempenho extremamente eficiente. Essa eficiência já
tinha se verificado em 2003. No
ano passado, executamos por inteiro o orçamento e terminamos o
ano com um lucro mais alto da
história do banco. Para 2004, já temos certeza que vamos executar o
orçamento de R$ 47,2 bilhões. Esse desempenho do banco é uma
demonstração inequívoca de que
os resultados do banco se contrapõem a esse tipo de discurso de
que o BNDES é pouco eficiente.
Às vezes, essas agências fazem
sondagens cabalísticas sobre o futuro. Há pouco tempo, muitas
agências classificaram o rating da
Argentina melhor que o do Brasil.
Logo depois, veio o "default".
Folha - O sr. acha que contrariou
interesses?
Lessa - O fato de nós termos reformado o banco, passando de
um banco de investimento para
um banco de desenvolvimento,
criou uma situação incômoda. O
curioso é que, por querer se desenvolver, o banco perdeu "rating". Por trás de uma avaliação
desse tipo há uma recorrente acusação de um pedaço da mídia e da
sociedade de que a eficiência do
banco ficou comprometida porque eu removi quadros experientes do banco. O banco é um celeiro de quadros de valores e está
tendo um desempenho brilhante.
Fizemos do BNDES uma instituição muito mais eficiente do
que a que nós recebemos. Impressiona-me a inoportunidade dessa
mudança de classificação, exatamente no momento que o banco
tenta reforçar o mercado de capitais, ao lançar um novo fundo de
ações. O voto da agência é extremamente inconsistente. O banco
tem tido indicadores melhores do
que a economia brasileira.
Folha - O sr. acha que as críticas
contra o "nacionalismo" do BNDES
podem voltar com mais ênfase?
Lessa - Isso tem um ciclo de realimentação, já que há setores ou
grupos de interesses que discordam da orientação substantiva do
BNDES. Se eles procurassem uma
discussão sobre a substância, essa
controvérsia seria rica e útil para a
formação da opinião pública.
Agora, quando recorrem a construção de avaliações inteiramente
desprovidas de referencial técnico
ou cheio de inverdades, eles contribuem para prejudicar o desempenho da instituição. Eu acho que
essas pessoas deveriam dizer claramente, por exemplo, que o
BNDES não deveria apoiar a pequena e média empresa ou que o
BNDES não deve ser um banco de
desenvolvimento, e sim um banco só de negócios. Ou que o
BNDES deveria usar os seus recursos para financiar projeções
das empresas brasileiras na Transilvânia. Essa seria uma controvérsia de mérito e de substância.
Eu respeito quem se contrapõe
nesse plano. O que me incomoda
é aquele que ataca no outro plano,
que é malfeitor e mentiroso.
No fundo, as pessoas ficam incomodadas com o fato de uma série de diretivas da Presidência estarem sendo implementadas a sério. Ser nacionalista pode ser muito eficiente. Ou melhor, servir os
interesses nacionais numa visão
moderna, que é onde estamos,
pode ser muito eficiente e eficaz.
Folha - Qual seria essa visão moderna?
Lessa - A idéia do desenvolvimento é a de que nós temos um
encontro marcado com o futuro,
e o BNDES é um banco que tem a
obrigação de ser o Dom Quixote
ao olhar o futuro e de ser o Sancho
Pança ao administrar as poupanças que são dos trabalhadores.
Nós temos a obrigação absoluta
de nos comportarmos em parte
com o sonho e também de estarmos com os pés no chão. Mas temos que confiar em que o Brasil
tem futuro e temos que procurar
facilitar isso.
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