São Paulo, sexta-feira, 09 de julho de 2004

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Nacionalismo do banco é eficiente e eficaz, diz Lessa

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

O presidente do BNDES, Carlos Lessa, 67, considerou inconsistente o fato de a agência Fitch Atlantic ter rebaixado o "rating" do banco. Segundo ele, a nota da agência foi reflexo da acusações de ineficiência ao qual o banco é acusado por parte da mídia ou da sociedade. "Fizemos do BNDES uma instituição muito mais eficiente do que a que nós recebemos", afirmou. Ele acha que a política nacionalista e desenvolvimentista do banco contraria muitos interesses. "Servir os interesses nacionais numa visão moderna pode ser muito eficiente e muito eficaz." A seguir, trechos de entrevista concedida à Folha:
 

Folha - Por que a Fitch Atlantic rebaixou a nota do banco?
Carlos Lessa -
O BNDES é hoje uma organização que melhorou a eficiência de uma maneira impressionante. Pelos critérios de gestão empresarial, o BNDES está com um desempenho extremamente eficiente. Essa eficiência já tinha se verificado em 2003. No ano passado, executamos por inteiro o orçamento e terminamos o ano com um lucro mais alto da história do banco. Para 2004, já temos certeza que vamos executar o orçamento de R$ 47,2 bilhões. Esse desempenho do banco é uma demonstração inequívoca de que os resultados do banco se contrapõem a esse tipo de discurso de que o BNDES é pouco eficiente.
Às vezes, essas agências fazem sondagens cabalísticas sobre o futuro. Há pouco tempo, muitas agências classificaram o rating da Argentina melhor que o do Brasil. Logo depois, veio o "default".

Folha - O sr. acha que contrariou interesses?
Lessa -
O fato de nós termos reformado o banco, passando de um banco de investimento para um banco de desenvolvimento, criou uma situação incômoda. O curioso é que, por querer se desenvolver, o banco perdeu "rating". Por trás de uma avaliação desse tipo há uma recorrente acusação de um pedaço da mídia e da sociedade de que a eficiência do banco ficou comprometida porque eu removi quadros experientes do banco. O banco é um celeiro de quadros de valores e está tendo um desempenho brilhante.
Fizemos do BNDES uma instituição muito mais eficiente do que a que nós recebemos. Impressiona-me a inoportunidade dessa mudança de classificação, exatamente no momento que o banco tenta reforçar o mercado de capitais, ao lançar um novo fundo de ações. O voto da agência é extremamente inconsistente. O banco tem tido indicadores melhores do que a economia brasileira.

Folha - O sr. acha que as críticas contra o "nacionalismo" do BNDES podem voltar com mais ênfase?
Lessa -
Isso tem um ciclo de realimentação, já que há setores ou grupos de interesses que discordam da orientação substantiva do BNDES. Se eles procurassem uma discussão sobre a substância, essa controvérsia seria rica e útil para a formação da opinião pública. Agora, quando recorrem a construção de avaliações inteiramente desprovidas de referencial técnico ou cheio de inverdades, eles contribuem para prejudicar o desempenho da instituição. Eu acho que essas pessoas deveriam dizer claramente, por exemplo, que o BNDES não deveria apoiar a pequena e média empresa ou que o BNDES não deve ser um banco de desenvolvimento, e sim um banco só de negócios. Ou que o BNDES deveria usar os seus recursos para financiar projeções das empresas brasileiras na Transilvânia. Essa seria uma controvérsia de mérito e de substância. Eu respeito quem se contrapõe nesse plano. O que me incomoda é aquele que ataca no outro plano, que é malfeitor e mentiroso.
No fundo, as pessoas ficam incomodadas com o fato de uma série de diretivas da Presidência estarem sendo implementadas a sério. Ser nacionalista pode ser muito eficiente. Ou melhor, servir os interesses nacionais numa visão moderna, que é onde estamos, pode ser muito eficiente e eficaz.

Folha - Qual seria essa visão moderna?
Lessa -
A idéia do desenvolvimento é a de que nós temos um encontro marcado com o futuro, e o BNDES é um banco que tem a obrigação de ser o Dom Quixote ao olhar o futuro e de ser o Sancho Pança ao administrar as poupanças que são dos trabalhadores. Nós temos a obrigação absoluta de nos comportarmos em parte com o sonho e também de estarmos com os pés no chão. Mas temos que confiar em que o Brasil tem futuro e temos que procurar facilitar isso.


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