São Paulo, quarta-feira, 09 de agosto de 2000


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Turbulência atinge parcela mais rica

DA SUCURSAL DO RIO

Alguns fatores ajudam a entender por que o desemprego não fez subir, na mesma proporção, a pobreza no país, durante as seguidas crises de 1997 até o ano passado.
O economista Marcelo Neri, da FGV (Fundação Getúlio Vargas), se debruçou sobre os dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio) e concluiu, por exemplo, que a desocupação subiu menos entre os chefes de família, os principais provedores de renda de um núcleo familiar. O índice passou de 4% para 5,6% em quatro anos. Entre os filhos, o nível de desocupação é três vezes maior.
Também se mostrou menos intenso o aumento do desemprego entre as pessoas de 40 a 45 anos, cujo efeito em cadeia seria mais grave, imaginando-se que esses trabalhadores têm, em geral, dependentes.
Nessa faixa etária a taxa é quase um quarto daquela que atinge os jovens de 15 a 20 anos, as maiores vítimas da falta de oportunidades de uma economia estagnada. Nessa faixa etária, o desemprego chegou a 21% em 99.
O baixo desemprego nas áreas rurais ajuda a explicar também a contenção da miséria, já que é nessas regiões que estão as comunidades mais carentes.
Mulheres e mestiços ou negros também continuam sendo os mais atingidos. Quando levada em conta a educação, escapam os extremos -analfabetos e instruídos com pelo menos a universidade, mesmo que incompleta, sofreram menos.
"As crises afetaram principalmente quem tinha inserção produtiva e perdeu com a abertura econômica. Posições que, colocadas à prova, não se sustentaram", explica Marcelo Neri.
Quando divulgou a Pnad, o IBGE já chamava a atenção para uma redução, ainda que muito pequena, na concentração de renda, viabilizada pela queda mais significativa nos rendimentos das classes mais abastadas.
A chamada classe A, cujo poder aquisitivo lhe garante alguns bens de consumo duráveis como freezer, geladeira e máquina de lavar, registrou um aumento de 56,8% entre as taxas de desemprego de 96 e de 99. A média da região metropolitana teve alta de 48%.
Para o economista Carlos Langoni, diretor do Centro Internacional da FGV, a crise brasileira não só foi mais moderada e mais curta do que a asiática e a russa, como acabou tendo um efeito redistributivo. "Atingiu as regiões mais ricas do país e poupou as mais pobres", diz.
As regiões metropolitanas foram as mais prejudicadas porque a crise brasileira ficou concentrada na indústria, explica Langoni. Ele destaca que, justamente por isso, a indústria paulista foi o principal alvo involuntário da retração econômica nacional, tendo sofrido ainda com a realocação de atividades fabris para outros pontos do país. São duas situações que colaboraram duplamente para a retração no número de vagas em São Paulo.
A concentração do desemprego nas áreas metropolitanas também reflete a maior diversificação da estrutura de trabalho no país, na opinião de Langoni. (IC)



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