|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Turbulência atinge parcela mais rica
DA SUCURSAL DO RIO
Alguns fatores ajudam a entender por que o desemprego não fez
subir, na mesma proporção, a pobreza no país, durante as seguidas
crises de 1997 até o ano passado.
O economista Marcelo Neri, da
FGV (Fundação Getúlio Vargas),
se debruçou sobre os dados da
Pnad (Pesquisa Nacional por
Amostras de Domicílio) e concluiu, por exemplo, que a desocupação subiu menos entre os chefes de família, os principais provedores de renda de um núcleo familiar. O índice passou de 4% para 5,6% em quatro anos. Entre os
filhos, o nível de desocupação é
três vezes maior.
Também se mostrou menos intenso o aumento do desemprego
entre as pessoas de 40 a 45 anos,
cujo efeito em cadeia seria mais
grave, imaginando-se que esses
trabalhadores têm, em geral, dependentes.
Nessa faixa etária a taxa é quase
um quarto daquela que atinge os
jovens de 15 a 20 anos, as maiores
vítimas da falta de oportunidades
de uma economia estagnada.
Nessa faixa etária, o desemprego
chegou a 21% em 99.
O baixo desemprego nas áreas
rurais ajuda a explicar também a
contenção da miséria, já que é
nessas regiões que estão as comunidades mais carentes.
Mulheres e mestiços ou negros
também continuam sendo os
mais atingidos. Quando levada
em conta a educação, escapam os
extremos -analfabetos e instruídos com pelo menos a universidade, mesmo que incompleta, sofreram menos.
"As crises afetaram principalmente quem tinha inserção produtiva e perdeu com a abertura
econômica. Posições que, colocadas à prova, não se sustentaram",
explica Marcelo Neri.
Quando divulgou a Pnad, o IBGE já chamava a atenção para
uma redução, ainda que muito
pequena, na concentração de renda, viabilizada pela queda mais
significativa nos rendimentos das
classes mais abastadas.
A chamada classe A, cujo poder
aquisitivo lhe garante alguns bens
de consumo duráveis como freezer, geladeira e máquina de lavar,
registrou um aumento de 56,8%
entre as taxas de desemprego de
96 e de 99. A média da região metropolitana teve alta de 48%.
Para o economista Carlos Langoni, diretor do Centro Internacional da FGV, a crise brasileira
não só foi mais moderada e mais
curta do que a asiática e a russa,
como acabou tendo um efeito redistributivo. "Atingiu as regiões
mais ricas do país e poupou as
mais pobres", diz.
As regiões metropolitanas foram as mais prejudicadas porque
a crise brasileira ficou concentrada na indústria, explica Langoni.
Ele destaca que, justamente por
isso, a indústria paulista foi o
principal alvo involuntário da retração econômica nacional, tendo
sofrido ainda com a realocação de
atividades fabris para outros pontos do país. São duas situações
que colaboraram duplamente para a retração no número de vagas
em São Paulo.
A concentração do desemprego
nas áreas metropolitanas também
reflete a maior diversificação da
estrutura de trabalho no país, na
opinião de Langoni.
(IC)
Texto Anterior: Indústria em SP cria vagas pelo 7º mês consecutivo Próximo Texto: Panorâmica: Petroleiros fazem greve-relâmpago em unidade de São José dos Campos Índice
|