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São Paulo, sábado, 09 de agosto de 2003

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CRÉDITO

Recolhimento de depósitos sem remuneração cai de 60% para 45%; efeito para o consumidor ainda é uma incógnita

BC reduz compulsório; impacto é duvidoso

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central anunciou ontem a redução da alíquota do compulsório para depósitos à vista -parcela do dinheiro em conta corrente retida pelos bancos.
Com a mudança, os bancos serão obrigados a deixar 45% dos saldos em conta corrente de seus clientes parados no BC. Antes, o recolhimento atingia 60%.
Além disso, os bancos continuarão tendo que recolher mais 8% dos depósitos no BC, mas esses serão remunerados pela taxa Selic (hoje em 24,5% ao ano). Somados os dois, então, o compulsório caiu de 68% para 53%.
O BC estima que o afrouxamento irá permitir a injeção de aproximadamente R$ 8,2 bilhões na economia, mas empresários e técnicos do próprio Banco Central acreditam que o impacto da medida deverá ser pequeno, uma vez que os bancos já têm dinheiro sobrando em caixa e não emprestam porque aplicar em dólar e em títulos públicos é mais rentável.
Já o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, disse acreditar que o compulsório menor proporcionará a cobrança de juros mais baixos por parte dos bancos.
Em nota divulgada no início da manhã, antes da abertura dos negócios no mercado financeiro, o BC disse que a queda do compulsório foi possível por causa da "normalização do ambiente macroeconômico verificado ao longo de 2003". A instituição cita ainda o controle da inflação como fator que levou a essa decisão.
A intenção do governo com a medida é estimular o crescimento da economia. Parte da responsabilidade por essa retomada, porém, é colocada nas instituições financeiras. "A medida terá um impacto direto nos "spreads" bancários, permitindo que os bancos promovam uma redução no custo do crédito", diz a nota do BC.
"Spread" é a diferença entre os juros pagos pelos bancos para captar dinheiro no mercado e a taxa cobrada dos clientes. Os bancos reagiram. Grandes instituições, como Bradesco, Itaú e Unibanco, anunciaram redução nos juros cobrados aos clientes.

Queda esperada
A queda do compulsório já era esperada há algumas semanas, não só por bancos, mas também por empresários e membros do governo. O BC só bateu o martelo sobre o assunto no início da noite de anteontem, após a aprovação em primeiro turno, na Câmara, dos pontos mais polêmicos da reforma da Previdência.
Isso pode ser entendido como um sinal de que o BC estava esperando para ver o desempenho do governo na votação, o que poderia trazer nervosismo ao mercado. Num cenário de maior turbulência, os bancos poderiam usar o dinheiro liberado do compulsório para comprar dólares e pressionar o câmbio.
Com a mudança de ontem, voltou-se praticamente à mesma situação que se observava em janeiro, na posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na ocasião, o compulsório estava em 45% e os juros básicos da economia eram de 25% ao ano -hoje a taxa Selic está em 24,5% ao ano.
Ao longo do primeiro semestre, tanto o compulsório como os juros foram elevados, segundo o BC, para controlar a inflação.

Pressão
O compulsório é apontado pelos bancos como uma das justificativas para os elevados juros cobrados pelas instituições. A pressão por uma redução no recolhimento se intensificou depois que o governo anunciou que obrigaria os bancos a direcionar 2% dos depósitos à vista para operações de microcrédito, a juros tabelados.
As instituições financeiras pediam que, para compensar o direcionamento do microcrédito, o BC reduzisse o compulsório.
Em tese, quanto menos dinheiro os bancos têm para emprestar, maiores os juros que serão cobrados nas operações de crédito feitas com os recursos restantes.
Com menos dinheiro em circulação, reduzem-se as chances de que haja um crescimento significativo no consumo das famílias ou nos investimentos das empresas. Nesse cenário mais recessivo, o controle da inflação é favorecido, pois as empresas ficam com margem menor para reajustes.
A Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) elogiou a decisão do BC, mas ressaltou que há espaço para uma queda maior, com o compulsório caindo para 30% dos depósitos à vista.


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