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CRÉDITO
Recolhimento de depósitos sem remuneração cai de 60% para 45%; efeito para o consumidor ainda é uma incógnita
BC reduz compulsório; impacto é duvidoso
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central anunciou ontem a redução da alíquota do
compulsório para depósitos à vista -parcela do dinheiro em conta corrente retida pelos bancos.
Com a mudança, os bancos serão obrigados a deixar 45% dos
saldos em conta corrente de seus
clientes parados no BC. Antes, o
recolhimento atingia 60%.
Além disso, os bancos continuarão tendo que recolher mais
8% dos depósitos no BC, mas esses serão remunerados pela taxa
Selic (hoje em 24,5% ao ano). Somados os dois, então, o compulsório caiu de 68% para 53%.
O BC estima que o afrouxamento irá permitir a injeção de aproximadamente R$ 8,2 bilhões na economia, mas empresários e técnicos do próprio Banco Central
acreditam que o impacto da medida deverá ser pequeno, uma vez
que os bancos já têm dinheiro sobrando em caixa e não emprestam porque aplicar em dólar e em
títulos públicos é mais rentável.
Já o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, disse acreditar
que o compulsório menor proporcionará a cobrança de juros
mais baixos por parte dos bancos.
Em nota divulgada no início da
manhã, antes da abertura dos negócios no mercado financeiro, o
BC disse que a queda do compulsório foi possível por causa da
"normalização do ambiente macroeconômico verificado ao longo de 2003". A instituição cita ainda o controle da inflação como fator que levou a essa decisão.
A intenção do governo com a
medida é estimular o crescimento
da economia. Parte da responsabilidade por essa retomada, porém, é colocada nas instituições financeiras. "A medida terá um impacto direto nos "spreads" bancários, permitindo que os bancos
promovam uma redução no custo do crédito", diz a nota do BC.
"Spread" é a diferença entre os
juros pagos pelos bancos para
captar dinheiro no mercado e a
taxa cobrada dos clientes. Os bancos reagiram. Grandes instituições, como Bradesco, Itaú e Unibanco, anunciaram redução nos
juros cobrados aos clientes.
Queda esperada
A queda do compulsório já era
esperada há algumas semanas,
não só por bancos, mas também
por empresários e membros do
governo. O BC só bateu o martelo
sobre o assunto no início da noite
de anteontem, após a aprovação
em primeiro turno, na Câmara,
dos pontos mais polêmicos da reforma da Previdência.
Isso pode ser entendido como
um sinal de que o BC estava esperando para ver o desempenho do
governo na votação, o que poderia trazer nervosismo ao mercado. Num cenário de maior turbulência, os bancos poderiam usar o
dinheiro liberado do compulsório
para comprar dólares e pressionar o câmbio.
Com a mudança de ontem, voltou-se praticamente à mesma situação que se observava em janeiro, na posse do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. Na ocasião, o
compulsório estava em 45% e os
juros básicos da economia eram
de 25% ao ano -hoje a taxa Selic
está em 24,5% ao ano.
Ao longo do primeiro semestre,
tanto o compulsório como os juros foram elevados, segundo o
BC, para controlar a inflação.
Pressão
O compulsório é apontado pelos bancos como uma das justificativas para os elevados juros cobrados pelas instituições. A pressão por uma redução no recolhimento se intensificou depois que
o governo anunciou que obrigaria
os bancos a direcionar 2% dos depósitos à vista para operações de
microcrédito, a juros tabelados.
As instituições financeiras pediam que, para compensar o direcionamento do microcrédito, o
BC reduzisse o compulsório.
Em tese, quanto menos dinheiro os bancos têm para emprestar,
maiores os juros que serão cobrados nas operações de crédito feitas com os recursos restantes.
Com menos dinheiro em circulação, reduzem-se as chances de
que haja um crescimento significativo no consumo das famílias
ou nos investimentos das empresas. Nesse cenário mais recessivo,
o controle da inflação é favorecido, pois as empresas ficam com
margem menor para reajustes.
A Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) elogiou a decisão do BC, mas ressaltou que há
espaço para uma queda maior,
com o compulsório caindo para
30% dos depósitos à vista.
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