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São Paulo, sábado, 09 de agosto de 2003

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Com desemprego em alta, nem juros mais baixos estimulariam consumidor

Analista não crê em consumo maior

DA REPORTAGEM LOCAL

A redução do compulsório total de depósitos à vista de 68% para 53% -que pode significar R$ 8 bilhões a mais na economia- não quer dizer necessariamente maior oferta imediata de crédito pessoal ou para as indústrias.
Isso porque, além dessa queda no montante que as instituições financeiras têm que deixar depositado no Banco Central, não foi determinado nenhum tipo de restrição ao destino desse dinheiro.
Ou seja, os bancos vão investir a quantia liberada onde for mais lucrativo e menos arriscado. O problema é que as taxas de juros para empréstimos estão elevadas, o que aumenta o risco de calote.
"Se aplicações em câmbio ou títulos forem mais lucrativas e com risco menor, esse é o caminho que será seguido pelos bancos", diz Vander Rosifini Júnior, da consultoria ABM Consulting.
Além disso, alguns analistas acreditam que a demanda por financiamentos é pequena.
"Com as condições atuais da economia, como renda comprimida e desemprego elevado, será que alguém vai querer buscar financiamento?", questiona Fábio Silveira, da MB Associados.
Ele acredita que a redução do compulsório será sentida na medida em que a economia se mostrar mais previsível. "A previsibilidade está meio embaçada neste momento. O trabalhador não vê com bons olhos o que vem ocorrendo no setor automobilístico, com a redução do emprego."
A redução do compulsório, diz, é uma medida positiva, mas não é suficiente para permitir um aumento do consumo. "É fundamental que o consumidor se sinta confiante para não achar que vai perder o emprego. Se o vizinho dele é demitido, ele fica reticente em buscar crédito", diz.

Sobra
O próprio Banco Central admite que o efeito da diminuição no compulsório sobre a economia deve ser reduzido.
Segundo técnicos da instituição, a sobra de dinheiro no mercado chega a cerca de R$ 30 bilhões -mais do que o triplo dos recursos que devem ser liberados com a queda do compulsório.
Esse dinheiro é recolhido pelo BC, por meio da venda de títulos públicos de curto prazo. Dessa maneira, em vez de os bancos emprestarem dinheiro para o setor privado, na prática, acaba emprestando para o governo.
Isso se explica, em parte, pela segurança que o investimento em títulos públicos oferece, já que as chances de o governo dar um calote em sua dívida são menores do que as de uma pessoa ou empresa ficar inadimplente com o banco.
Se o efeito sobre o crédito não deve ser instantâneo, a redução do compulsório seria um sinal de que o BC deve continuar no caminho da redução da taxa de juros básica, a Selic, na tentativa de reaquecer a economia.
"O BC, historicamente, não faz movimentos descontínuos. Acredito que podemos esperar queda nos juros", analisa Alexandre Schwartsman, consultor do Unibanco Asset Management.
Além da queda do compulsório e a última redução da Selic, a redução do IPI dos automóveis é outro sinal de que o governo está tomando medidas na tentativa de conseguir "o espetáculo do crescimento" ainda neste ano.
(MAELI PRADO, FÁTIMA FERNANDES)


Com a Sucursal de Brasília


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