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São Paulo, sábado, 09 de agosto de 2003

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Para indústria e comércio, diminuição do compulsório veio com atraso e precisa ser acompanhada de mais corte nos juros

Empresários aprovam redução, mas acham pouco para retomada

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A decisão de reduzir a alíquota de recolhimento compulsório foi correta, mas "veio com atraso" e deve ser a primeira de uma série de iniciativas do governo para reativar a combalida economia. Líderes industriais e do comércio repetiram esse mesmo discurso ontem, após serem informados da medida.
Alguns empresários foram além disso: para o Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), "seria bom que o governo obrigasse os bancos a emprestar um mínimo ao consumidor. Se não, o dinheiro pode ser aplicado em títulos do governo", afirmou Julio Gomes de Almeida, diretor da entidade.
A ACSP (Associação Comercial de São Paulo) segue essa mesma linha de raciocínio. "A medida deve contribuir para a melhora gradativa da atividade econômica, mas desde que o sistema financeiro direcione os recursos liberados para a atividade produtiva", disse o presidente da entidade, Guilherme Afif Domingos.
Ou seja, sem contrapartida dos bancos, pouco muda. O compulsório equivale a uma parcela dos depósitos bancários que as instituições financeiras são obrigadas a depositar no Banco Central. Com a medida anunciada ontem, os bancos, em tese, poderão reduzir os juros cobrados do mercado, porque terão mais dinheiro disponível para emprestar.
Mas as instituições têm liberdade para agir como quiserem.
"Em doses homeopáticas, o Banco Central relaxa a política monetária. A Fiesp é favorável a essa decisão (...), que acreditamos que vá ser acompanhada por nova queda de juros", informa a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, em nota assinada por seu presidente, Horacio Lafer Piva.

Efeito demorado
Roberto Faldini, diretor da federação, afirmou ontem que os reflexos dessa queda no compulsório só chegam ao mercado dentro de um a dois meses. "Na hora de subir a alíquota de recolhimento, o dinheiro some rapidinho. Quando a taxa cai e, portanto, tende a aumentar o volume de recursos na economia, aí é tudo mais lento", afirmou.
A expectativa da CNI (Confederação Nacional da Indústria) é que o governo adote outras soluções "que permitam continuar a flexibilização da política monetária do país". Para Armando Monteiro Neto, presidente da CNI, "a iniciativa chega com atraso". Lideranças pedem há meses a queda na taxa.
"Essa medida deve ser apenas o início do processo de redução dos compulsórios, que ainda continuam extremamente elevados, e deve ser complementada por uma queda mais acelerada da taxa Selic", disse Domingos, da ACSP. A taxa Selic -juros básicos da economia- é definida pelo Banco Central em reuniões mensais e está em 24,5% ao ano.
Para Almeida, do Iedi, a redução do compulsório deve contribuir para a queda das taxas de juros. Na sua avaliação, o compulsório sobre os depósitos à vista continua muito elevado.
"Provavelmente, daqui dois a três meses vamos sentir o efeito dessa medida, um estímulo para a economia real", afirmou, na mesma linha do discurso de Roberto Faldini.
Representante do setor têxtil, Paulo Skaf, presidente da Abit, associação de empresários do segmento, reforçou o coro ontem e afirmou que a medida "é um passo na direção correta". Mas por si só é insuficiente para reativar a economia.


Colaborou Fátima Fernandes, da Reportagem Local


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