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São Paulo, sábado, 09 de agosto de 2003

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RECEITA ORTODOXA

Em jantar com empresários, ministro sustenta arrocho e frustra setor produtivo; banco apóia discurso

Palocci defende aumentar imposto sobre as heranças

Sergio Lima/Folha imagem
O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, em Brasília


GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

Em jantar fechado na quinta-feira, com cerca de 50 empresários, em São Paulo, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, defendeu um significativo aumento da alíquota do imposto sobre heranças e disse que a distribuição de renda no país terá de ser mais veloz do que o crescimento.
Para alguns empresários, isso pode significar a possibilidade de aumento de impostos sobre as maiores faixas de renda ou alguma espécie de taxação sobre o patrimônio.
Num discurso aberto, de mais de uma hora, o ministro da Fazenda apresentou uma série de idéias sobre a economia que em nada agradou aos empresários presentes, principalmente aqueles ligados ao setor produtivo. Em sua maioria, os empresários saíram decepcionados.
O jantar, na casa de Ivo Rosset (Valisère), contou com boa parte do PIB brasileiro. Entre eles, os banqueiros Roberto Setubal (Itaú), Joseph e Moise Safra (Safra), Pedro Moreira Salles (Unibanco), além de Horacio Lafer Piva (Fiesp), Ivoncy Ioschpe (Iedi), Eugênio Staub (Gradiente), Paulo Skaf (Abit), Abram Szajman (Fecomercio-SP), Paulo Cunha (Ultra) e muitos outros.
Ao defender o aumento da alíquota do imposto, Palocci disse que as heranças no Brasil deveriam durar até dez gerações, a exemplo do que ocorre nos Estados Unidos. Atualmente, de acordo com seus cálculos, as heranças duram 30 gerações.
A alíquota do imposto sobre herança no Brasil, hoje, é de 4%. Dessa forma, os empresários entenderam que Palocci defendeu uma alíquota de 50% do imposto sobre as heranças. Os empresários não gostaram da idéia.
A proposta atual de reforma tributária do governo não fixa um percentual do imposto, apenas diz que terá alíquotas progressivas, conforme o valor da herança.
Um dos objetivos do jantar organizado na casa do presidente da Valisère, Ivo Rosset, era convencer Palocci da necessidade de mudar a política econômica atual do governo, considerada muito conservadora por grande parte dos empresários. Palocci descartou totalmente a possibilidade de qualquer mudança na política.

Tempero salgado
O presidente da Gradiente, Eugênio Staub, o primeiro grande empresário a apoiar o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva e membro do CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social), chegou a propor a criação de um grupo de trabalho formado por economistas independentes para discutir com o governo propostas de mudanças na política econômica. Com habilidade, Palocci rechaçou a idéia.
Os empresários se frustraram também com o cronograma apresentado por Palocci para a volta do crescimento na economia. O ministro da Fazenda disse que a retomada do crescimento será gradual. O país só voltará a apresentar taxas maiores de expansão a partir do final deste ano.
Ao responder a uma pergunta de Abram Szajman, presidente da Federação do Comércio de São Paulo, sobre o que o governo poderia fazer para diminuir o desemprego e a pobreza, Palocci pediu paciência aos empresários. A herança recebida pelo governo, segundo ele, é bastante pesada.
Segundo um dos presentes, só os banqueiros saíram satisfeitos com o discurso de Palocci. O maior defensor do governo no jantar teria sido Roberto Setubal, presidente do Itaú, que elogiou bastante a política econômica.


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