São Paulo, segunda-feira, 09 de agosto de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LETRA CAPITAL

Autores apontam instituições financeiras como responsáveis pelas crises econômicas na Argentina

Livros culpam bancos por fracassos

DE BUENOS AIRES

Nos últimos anos, os argentinos parecem exorcizar os males do passado pela literatura. Desde o colapso econômico de 2001, uma série de lançamentos vêm dissecando os fracassos econômicos do país. Em quase todos os livros os bancos são apontados como principais protagonistas das crises e saqueadores das riquezas -ou pelos menos como importantes atores.
O jornalista Adrián Murano conta em "Banqueiros, os Donos do Poder", o mais recente lançamento, uma série de negociatas que permitiram que, pouco antes do "corralito" (o sistema que congelou os depósitos bancários em 2002), os bancos autorizassem 144 cancelamentos de depósitos fixos no valor de US$ 83,6 milhões.
Resultado de 50 entrevistas e dois anos de pesquisas em material das comissões parlamentares, Murano detalha como, por mais de um século, os bancos desenvolveram um mecanismo padrão na Argentina que consistiria em emaranhar-se no poder e no sistema produtivo, influenciar a elaboração das leis, sugar os recursos, muitas vezes por meio de corrupção, e sair ilesos, protegidos pelas leis que ajudaram a criar.
O livro de Murano vai da influência do magnata do início do século passado Ernesto Tornquist na negociação da dívida com os credores britânicos do Baring Brothers -o primeiro "default" da Argentina- à participação do Banco Geral de Negócios, do Banco Galícia, do BankBoston e do Citibank na longa história de endividamento do país e na onda de privatizações dos anos 90, quando, segundo o autor, todos foram investigados por corrupção.
"Citibank versus Argentina, História de um País em Bancarrota", escrito pelo jornalista Marcelo Zlotogwiazda e pelo contador público Luis Balaguer, lançado no ano passado, dedica 460 páginas a relatar como a presença do principal banco norte-americano na Argentina se confunde com a história do país.
"A primeira sucursal do Citibank aberta fora dos EUA foi a de Buenos Aires, em 1914, o que mostra o que era a Argentina para o imperialismo emergente norte-americano naquele momento", diz Zlotogwiazda.
Segundo os autores, "o livro ajuda a entender como a Argentina passou de uma das nações mais poderosas e promissoras do mundo, quando aqui desembarcou o Citibank, ao país quebrado, com miséria e sem futuro certo que é atualmente".
(CLÁUDIA DIANNI)

Texto Anterior: Vizinho em crise: Argentina suspende revisões com o FMI
Próximo Texto: Panorâmica - Consumo: Shopping centers estimam aumento de 5% nas vendas do Dia dos Pais
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.