São Paulo, segunda-feira, 09 de agosto de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VIZINHO EM CRISE

País não submeterá condução da economia ao crivo do Fundo até concluir a troca dos títulos em moratória

Argentina suspende revisões com o FMI

Marcos Brindicci-12.fev.04/Reuters
Manifestantes atiram ovos contra agência do Citibank em Buenos Aires; instituição é alvo de críticas de autores argentinos


CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES

A Argentina vai suspender as próximas revisões do último acordo assinado com o FMI (Fundo Monetário Internacional) até o ano que vem. Segundo disse ontem à Folha um membro do governo argentino, o Ministério da Economia aguarda uma resposta do organismo para a proposta de suspender as revisões até que o país termine a renegociação com os credores privados, para quem deve mais de US$ 100 bilhões.
Segundo a Folha apurou, mesmo que o FMI não concorde em suspender as revisões temporariamente, o governo já tomou sua decisão e não vai submeter a condução da economia do país ao crivo do FMI até concluir a troca dos títulos em moratória, o que espera que aconteça até o fim do ano.
A suspensão das revisões não significa, porém, o rompimento com o Fundo. Isso aconteceria se a Argentina deixasse de pagar os serviços, ou seja, os juros da dívida de cerca de US$ 31 bilhões que tem com os organismos multilaterais de crédito, inclusive o FMI.
Ocorre que, ao suspender as revisões, o país deixa de receber as parcelas relativas ao empréstimo de US$ 13,8 bilhões assinado em setembro do ano passado.
É justamente com as parcelas desse acordo que a Argentina paga os juros para não entrar em moratória também com os organismo internacionais. Segundo a Folha apurou, ainda não está certo se o país continuará usando reservas internacionais, como fez no mês passado, para pagar os juros ao FMI. De acordo com o membro do governo, isso faz parte da negociação com o Fundo.
O objetivo é separar o FMI das discussões com os credores internacionais, já que as exigências do Fundo, como aumento da oferta de pagamento da dívida em moratória e produção de maior superávit primário, estariam atrapalhando a renegociação com os credores privados.
Isso estaria ocorrendo porque, ao fazer tais exigências, o FMI estaria dando munição aos argumentos dos credores privados, que exigem uma melhora na oferta de pagamento feita pelo governo argentino em junho, com desconto de 75%.

Giro para trocar títulos
Os ministérios da Economia e das Relações Exteriores pretendem iniciar ainda neste mês um giro internacional para tentar fechar a troca dos mais de 150 títulos em "default" pelos três novos tipos de bônus, com descontos e prazos maiores do que os oferecidos recentemente. A negociação será feita sem o respaldo do FMI.
A terceira revisão do acordo de setembro deveria ter sido liberada em junho, mas, como a oferta feita pelo governo aos credores privados da dívida em moratória desde dezembro de 2001 não agradou ao FMI e, além disso, outras reformas estruturais que o Fundo exigia não foram feitas, o organismo de crédito adiou para setembro a decisão sobre a aprovação ou não da parcela de cerca de US$ 780 milhões.
"Ou a revisão se fazia em julho, quando correspondia ao Fundo, ou será feita no ano que vem. Agora quem tem de falar é o mercado", disse o ministro da Economia, Roberto Lavagna, ao jornal "La Nación", na sexta-feira.
Na quinta-feira, Lavagna se reuniu com 16 economistas para conversar sobre a decisão de continuar renegociando a dívida privada mesmo sem o respaldo das aprovações periódicas do FMI.
"Se mantivermos a confiança, a falta de acordo com o FMI não será traumática e poderemos seguir com a reestruturação da dívida", disse na ocasião.



Texto Anterior: Mercado financeiro: Fed deve subir juro, apesar de freio no emprego
Próximo Texto: Letra capital: Livros culpam bancos por fracassos
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.