São Paulo, terça-feira, 09 de agosto de 2005

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SAFRA DE INVERNO

Devido a problemas climáticos, produtores paranaenses desistiram do milho; preços atuais desanimam

Plantio de trigo aumenta, mas preço é baixo

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

Após todos os revezes sofridos pelos produtores de trigo em 2004, esperava-se forte queda na área de plantio no Paraná neste ano. Não foi o que ocorreu. A área destinada ao cereal no maior Estado produtor deverá crescer de 5% a 8%, e a produção fica próxima de 4 milhões de toneladas.
Os números são do analista José Pitoli, que aponta como causa da evolução de área o fato de muitos produtores terem perdido o tempo ideal de plantio do milho safrinha, devido a problemas climáticos na região. A opção foi, então, pelo trigo.
O Departamento de Economia Rural da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento paranaense tem, no entanto, outros números para o setor. O órgão do governo do Paraná admite que houve uma opção de última hora pelo trigo, e que a área foi maior do que a esperada devido a problemas com o milho safrinha, mas será de 1,3 milhão de hectares. A produção fica em 3 milhões de toneladas, na avaliação do Deral.
Quem fez a opção pelo trigo, mesmo na última hora, acertou, segundo Pitoli. "A lavoura se desenvolve muito bem e a produtividade no Estado deverá ser de 45 sacas por hectare". A estimativa de Pitoli é de que a área plantada deste ano fique entre 1,40 milhão e 1,45 milhão de hectares.
O engenheiro agrônomo Enzo Sabenetti, da região de Cornélio Procópio (PR), confirma que o trigo se desenvolve muito bem e terá boa produtividade.
Mas o bom desempenho das lavouras não é motivo de euforia por parte dos produtores. Afinal, os mesmos problemas vividos pelo setor no ano passado persistem também neste: pouca procura pelo cereal e preços baixos.
Felisbau Negrisoli, da Agrobal, empresa que comercializa trigo do norte do Paraná, diz que "quem não tiver boa produtividade estará morto". "Há muito trigo estocado e o momento é crítico", afirma. Mas complementa: o produto não deverá ter preço abaixo dos R$ 19 atuais.
O cenário externo também não é favorável. Os estoques mundiais estão elevados e as importações são facilitadas pela fraqueza do dólar no Brasil e pelos altos juros no país. O trigo argentino chega ao Brasil por US$ 145, diz Pitoli. Além disso, os moinhos têm crédito externo a juros baixos por 180 dias para pagar o produto.

Apoio do governo
A produção nacional de trigo deste ano deverá atingir 6 milhões de toneladas, segundo Pitoli. Esse volume, somado ao 1,2 milhão de toneladas da sobra do ano passado, vai dificultar a comercialização do produto a preços razoáveis e gerar novas perdas de renda para os produtores.
A saca de trigo está atualmente próxima de R$ 19, preço bem distante dos R$ 24 do valor mínimo de garantia do governo. O custo de produção caiu 10% neste ano, devido à queda do dólar, mas os gastos com salários, máquinas e combustíveis subiram, diz Pitoli.
"O governo precisa parar de olhar apenas para "mensalão" e CPIs [Comissões Parlamentares de Inquérito] e cuidar mais da parte real da economia, principalmente da lavoura. Os deputados envolvidos no "mensalão" vão embora, mas a agricultura vai ficar."
Diante das dificuldades internas, devido aos preços baixos, e do mercado externo, que tem estoques elevados, o governo tem de agir já neste mês, na avaliação de Pitoli. Para ele, o governo deverá ter prontos até o final do mês, quando o trigo desta safra começa a chegar ao mercado, instrumentos de AGF (Aquisição do Governo Federal), EGFs (Empréstimos do Governo Federal), Contratos de Opções de Venda e PEP (Prêmio de Escoamento de Produtos).
Pitoli diz que, se os preços não reagirem, ou o governo não entrar no mercado com os programas de apoio, os produtores vão ter perdas ou apenas empatar os investimentos feitos na produção, mesmo com a boa safra prevista.
Com a queda nos preços da saca para R$ 19, os produtores têm de produzir 21% a mais para atingir os preços mínimos previstos no início da safra. Uma queda maior dos preços vai forçar muitos produtores a fazer vendas para a produção de ração, principalmente se o trigo for de qualidade ruim.
Parte das indústrias prefere usar o cereal na ração, mesmo que ele custe um pouco mais que o milho, devido ao maior teor de proteína, diz Pitoli. O teor do milho é de 8,5%. O do trigo, 13%.


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