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SAFRA DE INVERNO
Devido a problemas climáticos, produtores paranaenses desistiram do milho; preços atuais desanimam
Plantio de trigo aumenta, mas preço é baixo
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
Após todos os revezes sofridos
pelos produtores de trigo em
2004, esperava-se forte queda na
área de plantio no Paraná neste
ano. Não foi o que ocorreu. A área
destinada ao cereal no maior Estado produtor deverá crescer de
5% a 8%, e a produção fica próxima de 4 milhões de toneladas.
Os números são do analista José
Pitoli, que aponta como causa da
evolução de área o fato de muitos
produtores terem perdido o tempo ideal de plantio do milho safrinha, devido a problemas climáticos na região. A opção foi, então,
pelo trigo.
O Departamento de Economia
Rural da Secretaria da Agricultura
e do Abastecimento paranaense
tem, no entanto, outros números
para o setor. O órgão do governo
do Paraná admite que houve uma
opção de última hora pelo trigo, e
que a área foi maior do que a esperada devido a problemas com o
milho safrinha, mas será de 1,3
milhão de hectares. A produção
fica em 3 milhões de toneladas, na
avaliação do Deral.
Quem fez a opção pelo trigo,
mesmo na última hora, acertou,
segundo Pitoli. "A lavoura se desenvolve muito bem e a produtividade no Estado deverá ser de 45
sacas por hectare". A estimativa
de Pitoli é de que a área plantada
deste ano fique entre 1,40 milhão e
1,45 milhão de hectares.
O engenheiro agrônomo Enzo
Sabenetti, da região de Cornélio
Procópio (PR), confirma que o
trigo se desenvolve muito bem e
terá boa produtividade.
Mas o bom desempenho das lavouras não é motivo de euforia
por parte dos produtores. Afinal,
os mesmos problemas vividos pelo setor no ano passado persistem
também neste: pouca procura pelo cereal e preços baixos.
Felisbau Negrisoli, da Agrobal,
empresa que comercializa trigo
do norte do Paraná, diz que
"quem não tiver boa produtividade estará morto". "Há muito trigo
estocado e o momento é crítico",
afirma. Mas complementa: o produto não deverá ter preço abaixo
dos R$ 19 atuais.
O cenário externo também não
é favorável. Os estoques mundiais
estão elevados e as importações
são facilitadas pela fraqueza do
dólar no Brasil e pelos altos juros
no país. O trigo argentino chega
ao Brasil por US$ 145, diz Pitoli.
Além disso, os moinhos têm crédito externo a juros baixos por 180
dias para pagar o produto.
Apoio do governo
A produção nacional de trigo
deste ano deverá atingir 6 milhões
de toneladas, segundo Pitoli. Esse
volume, somado ao 1,2 milhão de
toneladas da sobra do ano passado, vai dificultar a comercialização do produto a preços razoáveis
e gerar novas perdas de renda para os produtores.
A saca de trigo está atualmente
próxima de R$ 19, preço bem distante dos R$ 24 do valor mínimo
de garantia do governo. O custo
de produção caiu 10% neste ano,
devido à queda do dólar, mas os
gastos com salários, máquinas e
combustíveis subiram, diz Pitoli.
"O governo precisa parar de
olhar apenas para "mensalão" e
CPIs [Comissões Parlamentares
de Inquérito] e cuidar mais da
parte real da economia, principalmente da lavoura. Os deputados
envolvidos no "mensalão" vão embora, mas a agricultura vai ficar."
Diante das dificuldades internas, devido aos preços baixos, e
do mercado externo, que tem estoques elevados, o governo tem
de agir já neste mês, na avaliação
de Pitoli. Para ele, o governo deverá ter prontos até o final do mês,
quando o trigo desta safra começa
a chegar ao mercado, instrumentos de AGF (Aquisição do Governo Federal), EGFs (Empréstimos
do Governo Federal), Contratos
de Opções de Venda e PEP (Prêmio de Escoamento de Produtos).
Pitoli diz que, se os preços não
reagirem, ou o governo não entrar no mercado com os programas de apoio, os produtores vão
ter perdas ou apenas empatar os
investimentos feitos na produção,
mesmo com a boa safra prevista.
Com a queda nos preços da saca
para R$ 19, os produtores têm de
produzir 21% a mais para atingir
os preços mínimos previstos no
início da safra. Uma queda maior
dos preços vai forçar muitos produtores a fazer vendas para a produção de ração, principalmente se
o trigo for de qualidade ruim.
Parte das indústrias prefere usar
o cereal na ração, mesmo que ele
custe um pouco mais que o milho,
devido ao maior teor de proteína,
diz Pitoli. O teor do milho é de
8,5%. O do trigo, 13%.
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