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Acerto estimula reestatização, diz especialista
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
O acordo preliminar fechado
ontem entre a AES e o BNDES
praticamente reestatiza a Eletropaulo, segundo Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura.
Quase 50% do capital da nova
empresa ficará em poder do banco de fomento. "O [Carlos] Lessa
[presidente do BNDES] fez a reestatização como queria. Com isso
abriu um precedente enorme:
amanhã haverá uma fila de empresas em dificuldades batendo
na porta do banco", alerta.
Segundo Pires, também paira
uma dúvida sobre os desdobramentos do acerto. O que, aparentemente, seria um bom acordo
para ambas as partes poderá ser
bem melhor para o devedor do
que para o credor.
O acordo não define se a Eletropaulo, controlada pela AES Corp.,
poderá receber um financiamento de R$ 497 milhões do BNDES,
para compensar o aumento do
custo da energia de Itaipu provocado pela alta do dólar em 2002.
Esse valor, equivalente a cerca de
US$ 165 milhões, cobriria, com
folga, o pagamento que a AES se
compromete a fazer com o próprio banco, de parte da sua dívida.
Em julho, o governo baixou a
MP nš 127 autorizando o BNDES
a emprestar R$ 1,9 bilhão às distribuidoras para compensá-las por
não ter autorizado o repasse dos
aumentos de custos de Itaipu para
as tarifas, neste ano.
Por exigência do BNDES, as empresas inadimplentes com o banco não teriam acesso ao dinheiro.
"Não vejo por que a empresa não
possa ter o mesmo tratamento
que as demais distribuidoras daqui para a frente", diz Pires.
Outra dúvida que fica é sobre a
capacidade de geração de dividendos da nova empresa, que englobará os ativos da AES no Brasil. É com esses recursos que serão
amortizados os juros da dívida,
nos próximos dois anos. "No entanto o grupo não vem gerando
lucros para pagar dividendos aos
acionistas", diz Pires. Além disso,
segundo ele, a nova empresa carrega um "mico": a AES Uruguaina, uma geradora térmica que
"não gera praticamente nada".
O consultor lembra que outra
empresa do grupo, a geradora
gaúcha AES Sul, também está inadimplente. Em agosto, ela deixou
de pagar uma parcela de US$ 60,2
milhões -de uma dívida de US$
300 milhões- com um grupo de
bancos. Pires avalia, porém, que o
BNDES deve estar apostando na
capacidade futura de a nova empresa gerar lucros.
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