UOL


São Paulo, terça-feira, 09 de setembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Acerto estimula reestatização, diz especialista

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

O acordo preliminar fechado ontem entre a AES e o BNDES praticamente reestatiza a Eletropaulo, segundo Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura.
Quase 50% do capital da nova empresa ficará em poder do banco de fomento. "O [Carlos] Lessa [presidente do BNDES] fez a reestatização como queria. Com isso abriu um precedente enorme: amanhã haverá uma fila de empresas em dificuldades batendo na porta do banco", alerta.
Segundo Pires, também paira uma dúvida sobre os desdobramentos do acerto. O que, aparentemente, seria um bom acordo para ambas as partes poderá ser bem melhor para o devedor do que para o credor.
O acordo não define se a Eletropaulo, controlada pela AES Corp., poderá receber um financiamento de R$ 497 milhões do BNDES, para compensar o aumento do custo da energia de Itaipu provocado pela alta do dólar em 2002. Esse valor, equivalente a cerca de US$ 165 milhões, cobriria, com folga, o pagamento que a AES se compromete a fazer com o próprio banco, de parte da sua dívida.
Em julho, o governo baixou a MP nš 127 autorizando o BNDES a emprestar R$ 1,9 bilhão às distribuidoras para compensá-las por não ter autorizado o repasse dos aumentos de custos de Itaipu para as tarifas, neste ano.
Por exigência do BNDES, as empresas inadimplentes com o banco não teriam acesso ao dinheiro. "Não vejo por que a empresa não possa ter o mesmo tratamento que as demais distribuidoras daqui para a frente", diz Pires.
Outra dúvida que fica é sobre a capacidade de geração de dividendos da nova empresa, que englobará os ativos da AES no Brasil. É com esses recursos que serão amortizados os juros da dívida, nos próximos dois anos. "No entanto o grupo não vem gerando lucros para pagar dividendos aos acionistas", diz Pires. Além disso, segundo ele, a nova empresa carrega um "mico": a AES Uruguaina, uma geradora térmica que "não gera praticamente nada".
O consultor lembra que outra empresa do grupo, a geradora gaúcha AES Sul, também está inadimplente. Em agosto, ela deixou de pagar uma parcela de US$ 60,2 milhões -de uma dívida de US$ 300 milhões- com um grupo de bancos. Pires avalia, porém, que o BNDES deve estar apostando na capacidade futura de a nova empresa gerar lucros.


Texto Anterior: Curto-circuito: Acordo dá ao BNDES metade da Eletropaulo
Próximo Texto: Opinião econômica: É tempo de ousar
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.