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São Paulo, terça-feira, 09 de setembro de 2003

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OMC providencia até provador de comida

DO ENVIADO ESPECIAL A CANCÚN

Talvez porque já haja veneno retórico suficiente nas divergências entre países ricos e pobres em torno da agricultura, o Comitê Organizador da Conferência de Cancún tomou uma providência inusitada: convocou provadores de comida para evitar o envenenamento dos delegados, "como na Idade Média", comenta o jornal mexicano "La Jornada".
É apenas um dos excepcionais cuidados com a segurança para a reunião, no evidente propósito de evitar outra Seattle, a cidade americana em que naufragou, em 1999, a 3ª Conferência Ministerial da OMC, em meio a divergências entre os delegados (como agora) e protestos nas ruas (como agora).
A diferença: Seattle não tem praia e é uma cidade gelada, ao contrário de Cancún, que não é uma cidade propriamente, mas uma faixa 22 quilômetros, em forma de "7", de praias paradisíacas, hotéis pouco menos que faraônicos e um sol (ontem) devastador.
Natural que o protesto mais vistoso de ontem tenha sido na praia: os manifestantes tiraram a roupa e desenharam com o corpo nu um dos mais moderados slogans de protesto ("No to WTO", não para a OMC). Em geral, o grito é mais forte: "Destroy the WTO" ("Destruam a OMC").
Se houvesse, de fato, o desejo de destruir não propriamente a OMC, mas a conferência de Cancún, a tarefa seria virtualmente inatingível. O esquema de segurança, que pode chegar a 20 mil homens, fechou a zona hoteleira, a faixa de 22 quilômetros em que estão os hotéis e o Centro de Convenções, o local da reunião.
Fechou por terra, mar e ar. Por terra, aliás, nem é tão difícil: só há uma entrada para a zona hoteleira, o Bulevar Kukulcán, bordeado pelos hotéis e por uma lagoa que, dizem os locais, tem crocodilos.
A grade de ferro que marca o limite além do qual os manifestantes não passarão fica a exatos 9,5 km do Centro de Convenções.
De todo o modo, pouco mais de 300 ONGs (Organizações Não-Governamentais) terão acesso ao QG da reunião, cada uma podendo credenciar três representantes. Mas só um deles de cada vez entrará no Centro de Convenções.
As restrições não impedem que Cancún abrigue um sem-número de manifestações e simpósios organizados pelos que são chamados, pelos inimigos, de "globalifóbicos", ou seja, o pessoal que tem horror à globalização.
Eles próprios rejeitam o termo, já que a globalização veio para ficar e não adianta ser contra. Preferiam ser chamados de "globalicríticos", mas, agora, definiram-se por um rótulo mais simpático, na medida em que não é contra, mas a favor de algo: "altermundialistas", ou seja, defensores de que "um outro mundo é possível", o slogan sob o qual se reúnem no Fórum Social Mundial, cujas três primeiras edições foram em Porto Alegre. (CLÓVIS ROSSI)


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