São Paulo, quarta-feira, 09 de outubro de 2002

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EM TRANSE

Cotação da moeda não recua mesmo depois da medida do BC que, em tese, colocaria mais dólares no mercado

Pressão de dívidas mantém o dólar caro

DA REPORTAGEM LOCAL

O dólar encerrou o dia praticamente estável ontem, com baixa de 0,13%, negociado a R$ 3,73.
Havia a expectativa para uma queda maior da moeda americana, por conta das medidas anunciadas pelo Banco Central no início da noite de segunda-feira.
O BC aumentou em até 50% a necessidade de capital que os bancos precisam ter para manter a mesma exposição cambial permitida até aquele dia. Analistas e operadores avaliaram que as instituições teriam de fazer um reajuste de suas posições para se adequar à nova norma, o que poderia detonar a venda de dólares.
Continuou o questionamento do mercado sobre o porquê de o BC ter esperado o dólar subir tanto para limitar a exposição dos bancos. Um operador avaliou que a medida pode ser vista por um lado negativo aos olhos do mercado, que poderia interpretá-la como um sinal de que o BC não tem dólares para vender. Ou não está disposto a vendê-los.
A moeda norte-americana chegou a operar em baixa de até 2,5%, pela manhã. A queda teria sido estimulada por um melhor início de dia nas Bolsas dos EUA.
Mas a baixa acentuada não se sustentou ainda por conta da forte concentração do vencimento de dívidas dos setores públicos e privados nos próximos dias.
Para este mês há cerca de US$ 700 milhões em débitos de empresas e bancos, que não deverão ser renovados. Portanto haveria necessidade real de dólares -as instituições estariam comprando a moeda norte-americana antecipadamente para honrar seus compromissos, que começam a vencer no final desta semana. Essa pressão de compra teria impedido uma baixa maior.
O crédito externo ao Brasil é escasso devido à aversão mundial ao risco, após os escândalos financeiros de empresas norte-americanas -e as perdas por eles geradas- e ao cenário político brasileiro, que apresenta grandes chances de a oposição vencer as eleições presidenciais.
Por conta de toda a desconfiança externa em relação ao Brasil, o risco-país, calculado pelo banco JP Morgan, subiu mais 2,1%, para 2.091 pontos ontem.
O risco-país é o diferencial de taxa de juros que os papéis do governo pagam acima dos títulos do Tesouro dos EUA (de risco zero). Pelo fechamento de ontem, seria o mesmo que dizer que a média dos juros pagos pelos papéis brasileiros acima dos títulos americanos é de 20,91 pontos percentuais. As taxas estão muito altas para permitir que as empresas renovem os vencimentos.
A forte procura por dólares no mercado é ilustrada, também, pelo fato de a cotação no mercado futuro estar inferior ao valor da moeda à vista. Os contratos de dólar para novembro na BM&F fecharam a R$ 3,695, em alta de 0,10%. No "after market", a cotação da moeda subia 1%. Além do setor privado, há um forte vencimento de dívida pública atrelada ao dólar na semana que vem -no dia 17 vencem US$ 3,6 bilhões.
O BC fez ontem a segunda tentativa para iniciar a rolagem do débito. O mercado chegou a ficar apreensivo, por avaliar que, como na sexta-feira, a autoridade monetária não teria sucesso. Mas ontem o BC aceitou as taxas pedidas pelo mercado e renovou 16,4% da dívida (ou US$ 592 milhões) em contratos de "swap".
Para os papéis de vencimento mais curto, em julho de 2003, as taxas ficaram em 35,21%. No vencimento mais longo, em julho de 2005, elas saíram a 25%.
O mercado continua atento ao jogo de alianças que se formam para a disputa do segundo turno das eleições presidenciais. A avaliação é que as chances do candidato do governo, José Serra (PSDB), ainda são mínimas.
Declarações do megainvestidor George Soros também foram apontadas como geradoras de nervosismo. Ele disse que a probabilidade de o Brasil ter de reestruturar a dívida é de 50%.


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