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EM TRANSE
Cotação da moeda não recua mesmo depois da medida do BC que, em tese, colocaria mais dólares no mercado
Pressão de dívidas mantém o dólar caro
DA REPORTAGEM LOCAL
O dólar encerrou o dia praticamente estável ontem, com baixa
de 0,13%, negociado a R$ 3,73.
Havia a expectativa para uma
queda maior da moeda americana, por conta das medidas anunciadas pelo Banco Central no início da noite de segunda-feira.
O BC aumentou em até 50% a
necessidade de capital que os bancos precisam ter para manter a
mesma exposição cambial permitida até aquele dia. Analistas e
operadores avaliaram que as instituições teriam de fazer um reajuste de suas posições para se adequar à nova norma, o que poderia
detonar a venda de dólares.
Continuou o questionamento
do mercado sobre o porquê de o
BC ter esperado o dólar subir tanto para limitar a exposição dos
bancos. Um operador avaliou que
a medida pode ser vista por um lado negativo aos olhos do mercado, que poderia interpretá-la como um sinal de que o BC não tem
dólares para vender. Ou não está
disposto a vendê-los.
A moeda norte-americana chegou a operar em baixa de até
2,5%, pela manhã. A queda teria
sido estimulada por um melhor
início de dia nas Bolsas dos EUA.
Mas a baixa acentuada não se
sustentou ainda por conta da forte concentração do vencimento
de dívidas dos setores públicos e
privados nos próximos dias.
Para este mês há cerca de US$
700 milhões em débitos de empresas e bancos, que não deverão
ser renovados. Portanto haveria
necessidade real de dólares -as
instituições estariam comprando
a moeda norte-americana antecipadamente para honrar seus
compromissos, que começam a
vencer no final desta semana. Essa pressão de compra teria impedido uma baixa maior.
O crédito externo ao Brasil é escasso devido à aversão mundial
ao risco, após os escândalos financeiros de empresas norte-americanas -e as perdas por eles
geradas- e ao cenário político
brasileiro, que apresenta grandes
chances de a oposição vencer as
eleições presidenciais.
Por conta de toda a desconfiança externa em relação ao Brasil, o
risco-país, calculado pelo banco
JP Morgan, subiu mais 2,1%, para
2.091 pontos ontem.
O risco-país é o diferencial de
taxa de juros que os papéis do governo pagam acima dos títulos do
Tesouro dos EUA (de risco zero).
Pelo fechamento de ontem, seria
o mesmo que dizer que a média
dos juros pagos pelos papéis brasileiros acima dos títulos americanos é de 20,91 pontos percentuais.
As taxas estão muito altas para
permitir que as empresas renovem os vencimentos.
A forte procura por dólares no
mercado é ilustrada, também, pelo fato de a cotação no mercado
futuro estar inferior ao valor da
moeda à vista. Os contratos de
dólar para novembro na BM&F
fecharam a R$ 3,695, em alta de
0,10%. No "after market", a cotação da moeda subia 1%. Além do
setor privado, há um forte vencimento de dívida pública atrelada
ao dólar na semana que vem -no
dia 17 vencem US$ 3,6 bilhões.
O BC fez ontem a segunda tentativa para iniciar a rolagem do
débito. O mercado chegou a ficar
apreensivo, por avaliar que, como
na sexta-feira, a autoridade monetária não teria sucesso. Mas ontem o BC aceitou as taxas pedidas
pelo mercado e renovou 16,4% da
dívida (ou US$ 592 milhões) em
contratos de "swap".
Para os papéis de vencimento
mais curto, em julho de 2003, as
taxas ficaram em 35,21%. No vencimento mais longo, em julho de
2005, elas saíram a 25%.
O mercado continua atento ao
jogo de alianças que se formam
para a disputa do segundo turno
das eleições presidenciais. A avaliação é que as chances do candidato do governo, José Serra
(PSDB), ainda são mínimas.
Declarações do megainvestidor
George Soros também foram
apontadas como geradoras de
nervosismo. Ele disse que a probabilidade de o Brasil ter de reestruturar a dívida é de 50%.
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