|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EM TRANSE
Para analistas, medida que exige aumento de capital nas operações de câmbio só detém alta, mas não derruba cotação
Ação do BC no dólar deve ter efeito limitado
ISABEL CAMPOS
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
A medida que o Banco Central
anunciou na segunda-feira para
diminuir a pressão sobre o dólar
tem ação limitada. Na opinião da
maioria dos analistas, seu efeito,
como já mostrou a queda de apenas 0,13% de ontem, será frear o
processo de alta do dólar. Dificilmente derrubará a sua cotação
muito abaixo da faixa dos R$ 3,70.
O BC aumentou em 50% a exigência de capital para operações
de câmbio. Até segunda-feira, para cada real em operações de câmbio -de qualquer tipo-, o banco era obrigado a ter o equivalente
a 50% em capital. Com a nova
norma, para cada real em dólar, o
banco terá de ter um capital equivalente a 75%. Ou o banco aumenta o capital ou vende parte de
sua carteira de câmbio, para se
ajustar à nova norma. A expectativa é que a maioria opte pela primeira, por ser menos complexa.
O diretor de um grande banco
nacional estima que a desova de
dólares ficará entre US$ 500 milhões e US$ 800 milhões, mas reconhece que só o BC poderia dizer
com precisão qual será o valor. Os
grandes bancos, segundo analistas, estariam até abaixo dos limites de exposição cambial permitidos. O ajuste nas carteiras seria
maior nos bancos de porte médio
e menos capitalizados.
Os bancos têm até a próxima segunda-feira para se adaptar à nova regra. Os analistas são unânimes: a demanda por dólar continua muito alta e, por maior que
venha a ser a desova, seu principal
efeito será impedir que, nas próximas semanas, a cotação ultrapasse a casa dos R$ 4. "É uma medida
paliativa. É como tratar alguém
com uma doença grave com aspirina", diz André Petersen, diretor
da corretora Máxima. Segundo o
diretor de uma asset management, é impossível a cotação cair
abaixo de R$ 3,50 nos próximos
dias.
Os motivos para isso são os de
sempre: a instabilidade gerada pela eleição presidencial, a falta de
financiamento externo para empresas e bancos brasileiros e o
vencimento de dívidas internas e
externas atreladas ao dólar. "A
pressão sobre o câmbio só vai ceder quando essa situação mudar",
diz Hugo Penteado, economista-chefe do ABN-Amro Asset Management.
Segundo Rodrigo Indiani, analista-financeiro da Austin Asis,
cada lote de dólar que for vendido
nos próximos dias será rapidamente comprado por outra instituição ou empresa que tenha dívida vencendo ou precise de hedge
(proteção). "O dólar sairá de um
lado e entrará no outro."
Há quase US$ 2 bilhões em dívidas externas de empresas e bancos que vencem em outubro, US$
1,1 bilhão em novembro e cerca de
US$ 3 bilhões em dezembro. Como as empresas podem comprar
os dólares que vão utilizar com até
60 dias de antecedência, é quase
certo que as aquisições relativas a
vencimentos em dezembro já tenham sido iniciadas.
Outra fonte de pressão é o lote
de dívida cambial interna que
vence no próximo dia 17, de US$
3,6 bilhões. Ontem o BC conseguiu rolar 16,4% dessa dívida. A
operação foi considerada positiva
pelos analistas, mas o mercado teme que uma boa parte seja liquidada no dia, o que certamente
pressionará o dólar.
A decisão de limitar a exposição
dos bancos em câmbio só foi tomada agora para provocar um
"processo de descompressão dos
vencimentos", segundo o consultor Emílio Garófalo, ex-diretor da
área externa do BC. O resultado
principal, segundo ele, foi derrubar as taxas pedidas pelas instituições financeiras na rolagem dos
títulos cambiais que vencem no
dia 17. Ontem, o BC rolou US$ 500
milhões pagando 25% de juros ao
ano, quando na semana passada
os investidores pediam 50%.
Na sua opinião, a medida faz
parte de uma série que a autoridade monetária vinha tomando. "O
BC tem injetado dólar no mercado, por meio de leilões de câmbio.
Agora, quer impedir que os bancos fiquem com esses dólares",
diz Garófalo.
Texto Anterior: Em transe: Pressão de dívidas mantém o dólar caro Próximo Texto: Medida diminui competitividade, afirma banco Índice
|