São Paulo, quarta-feira, 09 de outubro de 2002

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EM TRANSE

Para analistas, medida que exige aumento de capital nas operações de câmbio só detém alta, mas não derruba cotação

Ação do BC no dólar deve ter efeito limitado

ISABEL CAMPOS
SANDRA BALBI

DA REPORTAGEM LOCAL

A medida que o Banco Central anunciou na segunda-feira para diminuir a pressão sobre o dólar tem ação limitada. Na opinião da maioria dos analistas, seu efeito, como já mostrou a queda de apenas 0,13% de ontem, será frear o processo de alta do dólar. Dificilmente derrubará a sua cotação muito abaixo da faixa dos R$ 3,70.
O BC aumentou em 50% a exigência de capital para operações de câmbio. Até segunda-feira, para cada real em operações de câmbio -de qualquer tipo-, o banco era obrigado a ter o equivalente a 50% em capital. Com a nova norma, para cada real em dólar, o banco terá de ter um capital equivalente a 75%. Ou o banco aumenta o capital ou vende parte de sua carteira de câmbio, para se ajustar à nova norma. A expectativa é que a maioria opte pela primeira, por ser menos complexa.
O diretor de um grande banco nacional estima que a desova de dólares ficará entre US$ 500 milhões e US$ 800 milhões, mas reconhece que só o BC poderia dizer com precisão qual será o valor. Os grandes bancos, segundo analistas, estariam até abaixo dos limites de exposição cambial permitidos. O ajuste nas carteiras seria maior nos bancos de porte médio e menos capitalizados.
Os bancos têm até a próxima segunda-feira para se adaptar à nova regra. Os analistas são unânimes: a demanda por dólar continua muito alta e, por maior que venha a ser a desova, seu principal efeito será impedir que, nas próximas semanas, a cotação ultrapasse a casa dos R$ 4. "É uma medida paliativa. É como tratar alguém com uma doença grave com aspirina", diz André Petersen, diretor da corretora Máxima. Segundo o diretor de uma asset management, é impossível a cotação cair abaixo de R$ 3,50 nos próximos dias.
Os motivos para isso são os de sempre: a instabilidade gerada pela eleição presidencial, a falta de financiamento externo para empresas e bancos brasileiros e o vencimento de dívidas internas e externas atreladas ao dólar. "A pressão sobre o câmbio só vai ceder quando essa situação mudar", diz Hugo Penteado, economista-chefe do ABN-Amro Asset Management.
Segundo Rodrigo Indiani, analista-financeiro da Austin Asis, cada lote de dólar que for vendido nos próximos dias será rapidamente comprado por outra instituição ou empresa que tenha dívida vencendo ou precise de hedge (proteção). "O dólar sairá de um lado e entrará no outro."
Há quase US$ 2 bilhões em dívidas externas de empresas e bancos que vencem em outubro, US$ 1,1 bilhão em novembro e cerca de US$ 3 bilhões em dezembro. Como as empresas podem comprar os dólares que vão utilizar com até 60 dias de antecedência, é quase certo que as aquisições relativas a vencimentos em dezembro já tenham sido iniciadas.
Outra fonte de pressão é o lote de dívida cambial interna que vence no próximo dia 17, de US$ 3,6 bilhões. Ontem o BC conseguiu rolar 16,4% dessa dívida. A operação foi considerada positiva pelos analistas, mas o mercado teme que uma boa parte seja liquidada no dia, o que certamente pressionará o dólar.
A decisão de limitar a exposição dos bancos em câmbio só foi tomada agora para provocar um "processo de descompressão dos vencimentos", segundo o consultor Emílio Garófalo, ex-diretor da área externa do BC. O resultado principal, segundo ele, foi derrubar as taxas pedidas pelas instituições financeiras na rolagem dos títulos cambiais que vencem no dia 17. Ontem, o BC rolou US$ 500 milhões pagando 25% de juros ao ano, quando na semana passada os investidores pediam 50%.
Na sua opinião, a medida faz parte de uma série que a autoridade monetária vinha tomando. "O BC tem injetado dólar no mercado, por meio de leilões de câmbio. Agora, quer impedir que os bancos fiquem com esses dólares", diz Garófalo.


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