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LUÍS NASSIF
O PT no poder
O primeiro passo para avaliar um futuro governo petista é entender a correlação de
forças internas do partido.
O PT surgiu dos movimentos
sociais e se tornou ampla coligação de tendências de esquerda. À
medida que foi se institucionalizando, o controle do partido passou a ser exercido por uma burocracia partidária que, nos últimos anos, consolidou seu poder.
Nas últimas prévias do partido,
a atual direção conquistou 65%
dos votos dos militantes.
Esse poder hegemônico é constituído basicamente por ex-integrantes do grupo guerrilheiro
VAR-Palmares e tem a liderança
inconteste do deputado federal
José Dirceu. Desde as derrotas
dos anos 70, houve profunda revisão na maneira de pensar desse grupo. A guerra revolucionária e, especialmente, o episódio
de deposição do presidente chileno Salvador Allende fortaleceram o conceito da "correlação de
forças". A lógica é que toda ação
tem que partir de uma análise
cuidadosa da correlação de forças, da montagem de esquemas
de alianças, da análise das forças em jogo, para evitar a desestabilização, quando da tomada
do poder.
Nessa transição para o poder,
o PT repetiu a saga de todos os
partidos políticos brasileiros desde o Império. Para transformar
o cacife popular em cacife político, recorre-se a política de alianças que praticamente enquadram todos os novos partidos na
ótica convencional brasileira. As
posições programáticas cedem
lugar às pragmáticas.
Embora se possa esperar uma
ação democrática do PT, ela não
se deve a convicções democráticas, mas às circunstâncias políticas atuais. Mas o ponto de partida de um governo petista será a
aposta na ampliação das alianças, com a cooptação de aliados,
dentro do jogo político convencional.
A ampliação do círculo de
alianças interessa à direção do
PT em dois pontos: fortalece o
partido perante os adversários
externos e fortalece a direção perante os adversários internos.
Dentro desse escopo, é possível
esperar a seguinte linha de ação:
1) ministérios econômicos seriam entregues a não-petistas,
com credibilidade em meio ao
mercado. A cúpula do PT não
vai correr nenhum risco de crise
econômica. Mesmo assim, caso a
crise se agrave, a estratégia inicial poderia ser revista, levando
o partido a esquentar a retórica
e radicalizar. De todo modo, não
partirá do PT nenhuma iniciativa geradora de crise;
2) o grande ministério do governo petista seria o do Planejamento, sob o comando de José
Dirceu, incumbido de articular
um projeto de desenvolvimento
econômico. Na prática, haverá
duas funções para o Planejamento. A primeira, desfraldar a
bandeira desenvolvimentista. A
segunda, permitir articular um
conjunto de alianças com os empresários nacionais, que serão os
parceiros preferenciais;
3) provavelmente as alianças
partidárias seguiriam a receita
montada por Fernando Henrique Cardoso, de oferecer ministérios secundários para lideranças mais à direita. Seria quase
impossível uma coalizão formal
com o PSDB. O mais provável é a
cooptação de quadros técnicos
do partido.
Pairam dúvidas no ar sobre esse modelo de governabilidade.
Se a crise econômica for contida,
ele se consolida. Caso contrário,
o que poderia ocorrer? Com todos os seus desacertos, mesmo
em períodos de crise mais grave,
o governo Fernando Henrique
Cardoso jamais abriu mão dos
princípios democráticos, de impessoalidade na ação pública,
não recorreu à politização da
máquina pública, não recuou na
privatização e no modelo de profissionalização das grandes estatais nem tentou esmagar adversários políticos.
Como se comportaria um governo Lula caso a crise se agravasse e ele se sentisse politicamente enfraquecido? De que forma passaria a articular os movimentos mais radicais, tipo MST,
ou se valeria da máquina pública? Como conteria os xiitas do
partido e, especialmente, do Ministério Público, em caso de radicalização do processo político?
São respostas que apenas o futuro dirá.
E-mail -
LNassif@uol.com.br
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