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São Paulo, quinta-feira, 09 de outubro de 2003

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LUÍS NASSIF

O papel das centrais

Paulinho , da Força Sindical, entra em contato para explicar o acordo com o Santander para financiamento com desconto em folha. Diz que o acordo foi exclusivamente com os metalúrgicos da Força. Outros sindicatos da Força negociaram acordos semelhantes com outros bancos. Sustenta que, dado o grau de desinformação da "peãozada", tanto a Força quanto a CUT entenderam a necessidade de mediar as negociações para evitar prejuízos aos associados.
Vamos por partes. Nos últimos anos, os "spreads" bancários foram extremamente elevados porque não havia competição entre os bancos para a concessão de crédito. Principalmente no financiamento de pessoas físicas, havia pouquíssimo interesse em razão da queda de renda e da dificuldade de gerenciar a inadimplência. Agora, com essa bela sacada do desconto em folha, o financiamento à pessoa física será o primeiro passo para o restabelecimento da competição bancária, dependendo da maneira como for implementado.
A idéia de cada categoria fechar acordo com um banco na prática mata a competição, que ficará restrita aos níveis das taxas de juros do primeiro acordo fechado. Cada banco delimita seu território e ninguém irá se habilitar a invadir o território vizinho por duas razões: se apresentar taxa menor para conquistar o cliente do outro banco, terá que reduzir as taxas para seus próprios clientes; e ficará a ver navios porque o banco titular terá o direito de cobrir a sua proposta.
Em um mercado volátil como é o da taxa de juros, não pode haver nenhuma barreira de entrada para novos competidores. Por outro lado, há que haver plena informação aos associados. O melhor modelo seria o seguinte:
1) cada central montaria um site, no qual haveria leilão de crédito;
2) cada empresa associada se inscreveria informando o valor da sua carteira de financiamento -ou seja, número de funcionários, valor do financiamento requerido e prazos;
3) o site uniformizaria de forma automática as propostas dos bancos, com o cálculo da taxa efetiva de juros, levando em conta não apenas a taxa nominal apresentada por cada banco como também os custos adicionais (como Taxa de Abertura de Crédito e outras);
4) a menor oferta ganharia automaticamente o contrato.
Com isso, as centrais cumpririam seu papel de zelar pelos interesses dos associados, teriam uma função legitimadora de conferir transparência ao processo e dariam uma contribuição inestimável à introdução da competição no mercado de crédito.

Comissão
Segundo levantamento do repórter Enio Lucíola, para o "Programa Econômico", da TV Cultura, os bancos remunerarão os sindicatos ligados à Força pela taxa de 0,5% sobre o volume de crédito liberado, mais 0,5% sobre o pagamento das prestações, a título de comissão de venda. Em 2002, o orçamento do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) destinou R$ 38 milhões à Força Sindical.
Só no caso do Santander, se cumpridas as metas de emprestar R$ 2 bilhões, haverá R$ 22 milhões para os sindicatos, considerando que as condições do acordo com a Força sejam estendidas aos demais. Obviamente o custo é incorporado às taxas pagas pelos sindicalizados.

E-mail - Luisnassif@uol.com.br


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