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São Paulo, quinta-feira, 09 de outubro de 2003

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COMÉRCIO MUNDIAL

Presidente chama ministros para que falem a mesma linguagem quando o tema for a união aduaneira

Lula quer fim de "bate-boca" sobre a Alca

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou ontem para um almoço os ministros Celso Amorim (Relações Exteriores) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) para acabar com o que o quarto comensal, o assessor diplomático Marco Aurélio Garcia, definiu como "cacofonia" no governo em torno das propostas do Brasil para a Alca.
Resultado da conversa, na substância: "O governo não mudou nem mudará sua proposta para a Alca, seja nos grandes traços, seja nos matizes. E ninguém levantou proposta diferente", diz Garcia.
O "ninguém" refere-se tanto a Furlan como a Roberto Rodrigues (Agricultura). Ambos haviam criticado, em entrevistas ao jornal "O Estado de S. Paulo", a suposta falta de informação do Itamaraty a seus ministérios sobre a proposta para a Alca.
Rodrigues fora além: atacara a "intransigência" da posição brasileira, mas, advertido pelo presidente, voltou atrás. Não foi ao almoço porque está em viagem ao exterior.
Se, na substância, foi reafirmada a posição consensual do governo, que já havia sido firmada três meses atrás, na forma o presidente cobrou mais comunicação entre os ministérios, ainda mais levando em conta que as negociações na Alca estão chegando a um ponto agudo, em que pressões e ruídos tendem a aumentar.
Amorim atribuiu exatamente a uma falha de comunicação a reclamação de Furlan de que, para a reunião técnica de Port of Spain, realizada na semana passada, não teria havido informação sobre a proposta brasileira.
Para Amorim, não houve proposta propriamente dita, mas apenas a transformação em "linguagem negociadora" dos conceitos discutidos pelo ministério e definidos pelo próprio presidente, há três meses. Trata-se da proposta batizada por Amorim de "três trilhos" (ver texto ao lado).
Já Tovar da Silva Nunes, chefe da divisão da Alca do Itamaraty, diz que o Ministério do Desenvolvimento foi informado da versão que seria levada a Port of Spain, no dia 18 de setembro, durante reunião da Senalca (Seção Nacional de Coordenação dos Assuntos Relativos à Alca).
Pelo Desenvolvimento, participou a chefe do Departamento da Alca, Rosália da Costa Baptista, que recebeu a cópia da proposta.
Silva Nunes disse que a proposta sofreu mudanças durante a reunião, em Por of Spain, mas todas as alterações foram discutidas pelo chefe da missão, Luiz Filipe de Macedo Soares, com representantes dos ministérios, entre eles Jane Pinho, também do Desenvolvimento.
A proposta final do Mercosul foi fechada em reunião no dia 30, na qual Pinho deu inclusive algumas sugestões. "Se o ministro não foi informado, o problema não foi do Itamaraty", diz Silva Nunes.
Em todo caso, o presidente pediu que todos os ministérios envolvidos nas negociações mantenham "comunicação mais constante", diz Amorim. O próprio Lula vai participar mais diretamente das reuniões.

Conversa com Bush
Lula contou, no almoço, o diálogo que teve sobre a Alca com o presidente George W. Bush, durante sua recente estada em Nova York, em setembro.
Lula reclamou das críticas ao Brasil feitas pelo chefe do Comércio Exterior norte-americano, Robert Zoellick, em artigo para o jornal britânico "Financial Times".
"Ele está sendo injusto porque o que defendemos na reunião da Organização Mundial do Comércio (em Cancún, no mês passado) é em grande parte o que os Estados Unidos defendiam antes de apresentar documento conjunto com a União Européia" (sobre a liberalização agrícola).
Bush, segundo Lula, teria comentado que Zoellick é de fato "duro", mas os dois presidentes concordaram em reforçar o diálogo entre Brasil e EUA, no pressuposto de que o conflito é inconveniente para ambas as partes.
Dali em diante, no entanto, declarações de autoridades norte-americanas só fizeram aumentar o contencioso entre os dois países na questão da Alca.
Uma das críticas ao Brasil tem sido a de uma suposta intransigência, exatamente o aspecto que foi recolhido por Rodrigues, e depois reconsiderado.
Para Garcia, a crítica é equivocada. "O fato de que nós não nos dobramos não significa que estamos buscando o confronto", diz o assessor presidencial.


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