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COMÉRCIO MUNDIAL
Presidente chama ministros para que falem a mesma linguagem quando o tema for a união aduaneira
Lula quer fim de "bate-boca" sobre a Alca
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva chamou ontem para um almoço os ministros Celso Amorim
(Relações Exteriores) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior)
para acabar com o que o quarto
comensal, o assessor diplomático
Marco Aurélio Garcia, definiu como "cacofonia" no governo em
torno das propostas do Brasil para a Alca.
Resultado da conversa, na substância: "O governo não mudou
nem mudará sua proposta para a
Alca, seja nos grandes traços, seja
nos matizes. E ninguém levantou
proposta diferente", diz Garcia.
O "ninguém" refere-se tanto a
Furlan como a Roberto Rodrigues
(Agricultura). Ambos haviam criticado, em entrevistas ao jornal
"O Estado de S. Paulo", a suposta
falta de informação do Itamaraty
a seus ministérios sobre a proposta para a Alca.
Rodrigues fora além: atacara a
"intransigência" da posição brasileira, mas, advertido pelo presidente, voltou atrás. Não foi ao almoço porque está em viagem ao
exterior.
Se, na substância, foi reafirmada
a posição consensual do governo,
que já havia sido firmada três meses atrás, na forma o presidente
cobrou mais comunicação entre
os ministérios, ainda mais levando em conta que as negociações
na Alca estão chegando a um
ponto agudo, em que pressões e
ruídos tendem a aumentar.
Amorim atribuiu exatamente a
uma falha de comunicação a reclamação de Furlan de que, para a
reunião técnica de Port of Spain,
realizada na semana passada, não
teria havido informação sobre a
proposta brasileira.
Para Amorim, não houve proposta propriamente dita, mas
apenas a transformação em "linguagem negociadora" dos conceitos discutidos pelo ministério e
definidos pelo próprio presidente, há três meses. Trata-se da proposta batizada por Amorim de
"três trilhos" (ver texto ao lado).
Já Tovar da Silva Nunes, chefe
da divisão da Alca do Itamaraty,
diz que o Ministério do Desenvolvimento foi informado da versão
que seria levada a Port of Spain,
no dia 18 de setembro, durante
reunião da Senalca (Seção Nacional de Coordenação dos Assuntos
Relativos à Alca).
Pelo Desenvolvimento, participou a chefe do Departamento da
Alca, Rosália da Costa Baptista,
que recebeu a cópia da proposta.
Silva Nunes disse que a proposta sofreu mudanças durante a
reunião, em Por of Spain, mas todas as alterações foram discutidas
pelo chefe da missão, Luiz Filipe
de Macedo Soares, com representantes dos ministérios, entre eles
Jane Pinho, também do Desenvolvimento.
A proposta final do Mercosul foi
fechada em reunião no dia 30, na
qual Pinho deu inclusive algumas
sugestões. "Se o ministro não foi
informado, o problema não foi do
Itamaraty", diz Silva Nunes.
Em todo caso, o presidente pediu que todos os ministérios envolvidos nas negociações mantenham "comunicação mais constante", diz Amorim. O próprio
Lula vai participar mais diretamente das reuniões.
Conversa com Bush
Lula contou, no almoço, o diálogo que teve sobre a Alca com o
presidente George W. Bush, durante sua recente estada em Nova
York, em setembro.
Lula reclamou das críticas ao
Brasil feitas pelo chefe do Comércio Exterior norte-americano, Robert Zoellick, em artigo para o jornal britânico "Financial Times".
"Ele está sendo injusto porque o
que defendemos na reunião da
Organização Mundial do Comércio (em Cancún, no mês passado)
é em grande parte o que os Estados Unidos defendiam antes de
apresentar documento conjunto
com a União Européia" (sobre a
liberalização agrícola).
Bush, segundo Lula, teria comentado que Zoellick é de fato
"duro", mas os dois presidentes
concordaram em reforçar o diálogo entre Brasil e EUA, no pressuposto de que o conflito é inconveniente para ambas as partes.
Dali em diante, no entanto, declarações de autoridades norte-americanas só fizeram aumentar
o contencioso entre os dois países
na questão da Alca.
Uma das críticas ao Brasil tem
sido a de uma suposta intransigência, exatamente o aspecto que
foi recolhido por Rodrigues, e depois reconsiderado.
Para Garcia, a crítica é equivocada. "O fato de que nós não nos
dobramos não significa que estamos buscando o confronto", diz o
assessor presidencial.
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