São Paulo, domingo, 09 de outubro de 2005

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Vaca de R$ 1.000 custa R$ 75 por mês a agricultor

DA AGÊNCIA FOLHA, EM ITAPIÚNA

Há quatro meses, o agricultor aposentado Artur Correia de Freitas, 78, decidiu pegar R$ 1.000 emprestados na Caixa Econômica Federal, pelo sistema de empréstimo consignado, para compra uma vaca.
No mesmo dia em que pegou o dinheiro, pagou o animal, batizado de Esperança. Desde então, vê "sumir" de seu contracheque todo mês R$ 75, dinheiro que serve para quitar sua dívida.
"Queria sair logo disso. Esse é um dinheiro que me faz falta", disse ele, que recebia R$ 300. O empréstimo será quitado daqui a 15 meses.
O caso de Freitas é semelhante ao da maioria dos aposentados e pensionistas que aderiram aos empréstimos no Ceará: 78,31% dos 176 mil aposentados que já pegaram esse dinheiro no Estado recebem até um salário mínimo por mês.
No país, essa proporção é menor, mas ainda assim alta: 49% do total de segurados que tiveram acesso aos empréstimos está dentro dessa faixa salarial, segundo dados da Previdência.
Enquanto isso, para se manter com menos dinheiro todo mês, o aposentado planta uma roça de feijão e compra o restante fiado na mercearia de sua prima Ivanilda Freitas Campelo. "Ele é bom pagador, por isso continuo vendendo fiado a ele", diz a comerciante.
A vaca Esperança garante o leite de todos os dias. "Já tive muitas vacas, criação de cabras, mas perdi tudo. Acho que fiz uma boa compra, só está difícil passar o mês com menos dinheiro."
Uma norma do INSS, de julho deste ano, obriga os bancos autorizados a fazer os empréstimos consignados a orientar os aposentados e pensionistas sobre juros e outras taxas cobradas, além de todos os detalhes sobre a quantidade de parcelas e a forma como são debitadas dos benefícios.
O empréstimo que o aposentado Antônio Cardoso Maciel, 66, pegou foi maior: de R$ 1.700, parcelados em 30 meses e que tiram de sua renda R$ 100 todo mês. Ele também recebia R$ 300.
Maciel diz que decidiu pegar o dinheiro emprestado para pagar outras dívidas, o que ainda não foi suficiente. "O dinheiro nem parou na minha mão."
Com menos dinheiro para gastar todo mês, ele ainda usa parte em jogos de azar. Enquanto falava com a Folha, apostava nos dados, na praça central de Itapiúna, com outros aposentados. "Já perdi R$ 10." Para cada R$ 1 apostado, o prêmio era de R$ 5, disputados a grito pelos participantes.


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