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Vaca de R$ 1.000
custa R$ 75 por
mês a agricultor
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ITAPIÚNA
Há quatro meses, o agricultor aposentado Artur
Correia de Freitas, 78, decidiu pegar R$ 1.000 emprestados na Caixa Econômica
Federal, pelo sistema de empréstimo consignado, para
compra uma vaca.
No mesmo dia em que pegou o dinheiro, pagou o animal, batizado de Esperança.
Desde então, vê "sumir" de
seu contracheque todo mês
R$ 75, dinheiro que serve para quitar sua dívida.
"Queria sair logo disso. Esse é um dinheiro que me faz
falta", disse ele, que recebia
R$ 300. O empréstimo será
quitado daqui a 15 meses.
O caso de Freitas é semelhante ao da maioria dos
aposentados e pensionistas
que aderiram aos empréstimos no Ceará: 78,31% dos
176 mil aposentados que já
pegaram esse dinheiro no
Estado recebem até um salário mínimo por mês.
No país, essa proporção é
menor, mas ainda assim alta: 49% do total de segurados que tiveram acesso aos
empréstimos está dentro
dessa faixa salarial, segundo
dados da Previdência.
Enquanto isso, para se
manter com menos dinheiro
todo mês, o aposentado
planta uma roça de feijão e
compra o restante fiado na
mercearia de sua prima Ivanilda Freitas Campelo. "Ele é
bom pagador, por isso continuo vendendo fiado a ele",
diz a comerciante.
A vaca Esperança garante
o leite de todos os dias. "Já tive muitas vacas, criação de
cabras, mas perdi tudo.
Acho que fiz uma boa compra, só está difícil passar o
mês com menos dinheiro."
Uma norma do INSS, de
julho deste ano, obriga os
bancos autorizados a fazer
os empréstimos consignados a orientar os aposentados e pensionistas sobre juros e outras taxas cobradas,
além de todos os detalhes sobre a quantidade de parcelas
e a forma como são debitadas dos benefícios.
O empréstimo que o aposentado Antônio Cardoso
Maciel, 66, pegou foi maior:
de R$ 1.700, parcelados em
30 meses e que tiram de sua
renda R$ 100 todo mês. Ele
também recebia R$ 300.
Maciel diz que decidiu pegar o dinheiro emprestado
para pagar outras dívidas, o
que ainda não foi suficiente.
"O dinheiro nem parou na
minha mão."
Com menos dinheiro para
gastar todo mês, ele ainda
usa parte em jogos de azar.
Enquanto falava com a Folha, apostava nos dados, na
praça central de Itapiúna,
com outros aposentados. "Já
perdi R$ 10." Para cada R$ 1
apostado, o prêmio era de
R$ 5, disputados a grito pelos participantes.
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