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Para Meirelles,
Brasil não está
imune à crise
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Apesar da calmaria nas últimas semanas, a crise detonada no mercado hipotecário norte-americano ainda
não foi totalmente debelada
e nenhum país está "imune"
a uma "forte recessão" da
economia norte-americana,
afirmou ontem o presidente
do Banco Central, Henrique
Meirelles.
"Evidentemente, ninguém
está imune a uma crise. Se os
EUA tiverem uma forte recessão, tudo mundo será
atingido, mesmo que indiretamente", disse Meirelles,
em palestra promovida pela
Câmara de Comércio Americana no Rio de Janeiro.
Para Meirelles, os riscos
ainda persistem, mas o país
tem como enfrentá-los. "O
fato concreto é que o Brasil
está mais bem preparado",
disse, citando o aumento do
nível de reservas internacionais, a redução da dívida externa, a melhora do balanço
de pagamentos e o crescimento econômico sustentado pelo mercado interno.
Mesmo mais preparado,
diz, o Brasil ainda pode ser
alvo da crise, especialmente
se ela evoluir para uma recessão. "O risco não passou.
Existe ainda uma certa preocupação, principalmente em
relação à possibilidade de haver recessão nos EUA. Os riscos estão diminuindo, é verdade. Hoje, são menores.
Muitas condições começaram a melhorar."
Dentre os focos de melhora, afirma, estão o aumento
da liquidez e a discriminação
dos diferentes níveis de risco
de cada segmento do mercado -dos diversos tipos de
ativos (títulos).
"O mercado está começando a ficar mais líqüido, o que
é importante, mas não está
ainda ultrapassado o risco de
queda da atividade da economia norte-americana. Mas,
de qualquer maneira, a situação é melhor hoje do que no
passado."
Para Meirelles, o Brasil se
livrou nos últimos anos de
um estigma que historicamente o perseguiu por décadas: a falta de recursos para
investimento. Agora, diz, vive a situação inversa: sobra
dinheiro em decorrência da
estabilização da economia,
mas faltam projetos.
"Durante décadas, o Brasil
tinha falta de recursos, na
medida em que os investidores do mundo todo se preocupavam com a imprevisibilidade da economia brasileira. Quando aumenta a previsibilidade com a inflação
controlada, a dívida pública
cadente e as reservas internacionais acima de US$ 160
bilhões, o Brasil está emergindo como um ponto de
atração de investimentos."
Agora que há disponibilidade de recursos, segundo o
presidente do BC, o "desafio"
que se coloca é elaborar projetos capazes de absorver o
dinheiro em circulação.
"Nada acontece do dia para a noite. É um processo absolutamente normal, mas o
importante é que o país saiba
que o grande desafio é desenvolver projetos."
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