São Paulo, terça-feira, 09 de outubro de 2007

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Para Meirelles, Brasil não está imune à crise

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Apesar da calmaria nas últimas semanas, a crise detonada no mercado hipotecário norte-americano ainda não foi totalmente debelada e nenhum país está "imune" a uma "forte recessão" da economia norte-americana, afirmou ontem o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
"Evidentemente, ninguém está imune a uma crise. Se os EUA tiverem uma forte recessão, tudo mundo será atingido, mesmo que indiretamente", disse Meirelles, em palestra promovida pela Câmara de Comércio Americana no Rio de Janeiro.
Para Meirelles, os riscos ainda persistem, mas o país tem como enfrentá-los. "O fato concreto é que o Brasil está mais bem preparado", disse, citando o aumento do nível de reservas internacionais, a redução da dívida externa, a melhora do balanço de pagamentos e o crescimento econômico sustentado pelo mercado interno.
Mesmo mais preparado, diz, o Brasil ainda pode ser alvo da crise, especialmente se ela evoluir para uma recessão. "O risco não passou. Existe ainda uma certa preocupação, principalmente em relação à possibilidade de haver recessão nos EUA. Os riscos estão diminuindo, é verdade. Hoje, são menores. Muitas condições começaram a melhorar."
Dentre os focos de melhora, afirma, estão o aumento da liquidez e a discriminação dos diferentes níveis de risco de cada segmento do mercado -dos diversos tipos de ativos (títulos).
"O mercado está começando a ficar mais líqüido, o que é importante, mas não está ainda ultrapassado o risco de queda da atividade da economia norte-americana. Mas, de qualquer maneira, a situação é melhor hoje do que no passado."
Para Meirelles, o Brasil se livrou nos últimos anos de um estigma que historicamente o perseguiu por décadas: a falta de recursos para investimento. Agora, diz, vive a situação inversa: sobra dinheiro em decorrência da estabilização da economia, mas faltam projetos.
"Durante décadas, o Brasil tinha falta de recursos, na medida em que os investidores do mundo todo se preocupavam com a imprevisibilidade da economia brasileira. Quando aumenta a previsibilidade com a inflação controlada, a dívida pública cadente e as reservas internacionais acima de US$ 160 bilhões, o Brasil está emergindo como um ponto de atração de investimentos."
Agora que há disponibilidade de recursos, segundo o presidente do BC, o "desafio" que se coloca é elaborar projetos capazes de absorver o dinheiro em circulação.
"Nada acontece do dia para a noite. É um processo absolutamente normal, mas o importante é que o país saiba que o grande desafio é desenvolver projetos."


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